O
tempo mudou para nublado e essa concentração térmica deixa a gente sufocada.
Acredito em dias melhores, em dias mais amenos que estão por vir. A gente tem
que acreditar no melhor, apostar na poesia, na suavidade que a vida pode nos
trazer se a gente se dedicar ao melhor de nós.
Precisamos
descartar as coisas pesadas, aproveitar cada minuto único que a gente tem. O
sino da Catedral anuncia as primeiras horas. Antigamente era costume no
interior o sino badalar a cada hora que passava para que a gente se guiasse nas
horas.
Chego
esbaforida achando que estou atrasada para o trabalho, mas quando entro no
prédio da Assembleia, vejo que as portas ainda estão fechadas. Melhor assim, eu
dormi demais. Cinco e meia da manhã o meu gato Bruce Wayne me chama à primeira
vez.
Eu
tinha dito a ele: ‘Me acorde cedo’, mas eu não consegui despertar de vez: fui
ao banheiro e voltei a me deitar. Só acordei com a mordiscada forte do Bruce na
minha perna, como que estivesse me dizendo: ‘É sua última chance, vai chegar
atrasada’.
E
diante da dorzinha da mordiscada do gato eu levantei para olhar o relógio:
7h30; estou atrasada mesmo. Corro, tomo banho, me visto apressada e me dirijo à
rua para pegar um táxi, para chegar a tempo, apesar do percurso muito perto
para chegar à ALE.
Os
taxistas que ficam estacionados do lado da Santa Casa não se agradam porque
minha corrida é curta. Tem um que já vem de cara feia e já me deu vontade de
dizer a ele umas coisas, mas resolvo engolir a cara feia e faço de conta que não
é comigo.
“Mas
dona Maria toda vez eu só pego a senhora”, me diz o seu Arnaldo, que já não tem
a cara muito simpática, quando recorro aos serviços de táxi por lá. “Já estou
atrasada”, digo eu. Deu-me vontade de falar pra ele que essa é a sua função e
que estou pagando a corrida, seja lá o valor que for e que se não gosta, mude
de profissão, mas deixa isso pra lá.
Por
isso que eu me encanto a cada dia com meus filhotes de quatro patas e hoje saí
de casa sem falar com eles de tanto que era a minha pressa. Cheguei ontem da
Tribuna Independente à meia noite e quinze, exausta, sem forças e mal tive
coragem de mudar a roupa e desmaiei na cama, de tanto que era o sono.
Adiante
passa uma servidora da ALE lendo um informativo, fruto do nosso trabalho e é
bom saber que as pessoas tomam conhecimento das nossas atividades laborais:
leem o que escrevemos. O jornalista, escritor e o poeta vivem disso.
A
satisfação que isso dá vem não só pelo o que a gente recebe de no fim do mês; é
claro que isso é bom, nos dá dignidade, mas é bom saber que temos leitores.
Sinto-me
cansada, não do trabalho em si, não de escrever, mas as forças estão se
esvaindo e sinto que já não tenho saúde para virar a madrugada trabalhando. Em
casa isso é mais fácil, porque a gente corre, deixa um pouco no sofá, tira um
ronco e acorda de novo e recomeça o trabalho.
Todo
esse preâmbulo é para refletir como está sendo a minha vida até agora. Não tem
grandes acontecimentos, mas me sinto muito bem comigo e com a vida, apesar do
cansaço, das limitações, a desarrumação da casa, a falta de traquejo no que diz
respeito à administração do lar a desordem de tudo isso.
É
como se eu não tivesse mais condições de tomar conta de mim, arrumar, lavar,
passar. Admito que eu não tenha a mínima vocação para isso. É um dom que nasce
com cada um, eu não nasci com essa vocação.
Penso
que se fosse na época da antiguidade eu estaria fora de cogitação, seria
excomungada. Nunca me interessei em assimilar tarefas do lar e isso agora me
faz falta. Tento digerir a minha falta de tato, minha falta de organização e
meu mundo tão desorganizado. Estou tentando...
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Olívia de Cássia