Em 2005, 2006 não lembro a data, quando voltava numa lotação de Maceió para Branquinha, subiram no transporte dois rapazes do tipo "mal encarados", vestidos a caráter, (bermudão, blusa e boné). Após passarmos por Rio Largo, o assalto foi deflagrado por um deles. Em suas mãos, dois revólveres calibre 38, meio enferrujados. Imediatamente uma arma foi apontada para a cabeça do motorista, que logo atendeu aos direcionamentos do assaltante de entrar numa das estradas de barro, próximo ao posto de combustível Flecha. Só que o senhor errou a entrada, criando uma tensão em nós passageiros e irritando os maus rapazes.
Era inverno, ou pelo menos havia chovido naqueles dias, após recolher todos os pertences que estavam mais acessíveis, como telefones e dinheiro (não levaram os documentos de ninguém), fizeram com que nos deitássemos no chão com a face virada para baixo, sobre nossas mãos. Enquanto isso, reviraram o carro e revistaram as bolsas e bolsos de todos.
Além de apontar o revólver, eles o encostaram no meu pescoço. Como um anfíbio, logo a temperatura do meu corpo se equalizou à ambiente, quer dizer, ao gélido metal da arma. Levaram-me por volta de uns R$ 20,00 e minha mochila, que serviu para acomodar os pertences dos demais. Não quiseram os livros que havia tomado emprestado na biblioteca nem meu tênis All Star surrado. No momento da revista, o carinha me perguntou o que eu era. "Estudante", disse. "É, teve sorte".
Ninguém foi molestado durante o assalto. Após recolherem tudo o que havia de valor, os rapazes saíram a pé e disparam um tiro, mas antes deixaram a chave do carro jogada abaixo do mesmo e a instrução para não os seguir. Tentamos prestar um boletim de ocorrência em Messias, mas o policial civil pôde apenas lamentar e dizer que o local do assalto pertencia a outra jurisdição. Então, seguimos de volta para nossos destinos. Ainda suava frio quando cheguei em casa VIVO.
Agora é 2012 e as coisas estão piores. Este acima é o relato de um sobrevivente da violência que marca a história de Alagoas. Violência que tem tomado dimensões absurdas em União dos Palmares e região. Hoje, três de março, uma criança de 10 anos foi brutalmente assassinada (e seu corpo vergonhosa e antieticamente exposto em sites e redes sociais na Internet). Para mim, não importa se ele era um "aviãozinho" ou um "maloqueirinho" qualquer. Era uma criança com pouco mais da metade de anos que o meu sobrinho de 4. Uma criança que não "teve sorte", assim como as outras 12 pessoas assassinadas desde o começo do ano.
Terça-feira, 06 de março, a partir das 8h na praça Frei Damião, estaremos nas ruas numa caminhada com o Movimento União Pela Paz. Porque temos ciência de que mais que indignação e desinquietação, fazer algo para tentar reverter esse quadro de violência é possível e necessário. Porque também sabemos que um tiro assassino é bem mais que uma simples questão de sorte ou azar.
Por que tantos jovens estão morrendo em nossa cidade? Se é culpa do tráfico de drogas, por que não se combate esse mal? Há policiamento suficiente com condições adequadas para tal? Por qual motivo tantos jovens adentram na criminalidade? Falta emprego, perspectiva? Qual é a real dimensão da pobreza que os impele a "quebrar as regras"? Além do alimento, também não lhes falta educação, saúde e outros princípios da cidadania?
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