Beto Baía, prefeito de União dos Palmares: um mandato, uma incerteza
Um grupo se levanta contra a hegemonia de outro, perde consecutivas
vezes, não desiste. Um dia, eis a vitória. O doce sabor da conquista, do
poder e, claro, da vingança. Bom, numa democracia troca-se vingança por
outros nomes como “renovação”, “mudança”, “avanço”. E em União dos
Palmares não é diferente (Leia clicando aqui texto do jornalista Gilson Monteiro para entender melhor).
Nas últimas eleições, a oposição sagrou-se vitoriosa sobre a situação,
liderada pelo ex-governador do estado Manoel Gomes de Barros, o Mano.
“Quebraram-se as correntes”, dizem os eleitos. Inegavelmente, é um
momento ímpar para um segmento político que jamais esteve no alto poder
municipal e que até então tinha de se contentar com as parcas cadeiras
no poder legislativo.
As expectativas são grandes, pois o êxito de Beto Baía (PSD), atual
prefeito, representa a insatisfação popular diante de um quadro de
redundante imobilidade e descaso. Haja vista que União dos Palmares
apenas “inchou”, como se diz, e não se preparou para crescer e explorar
seu potencial turístico e histórico, nem superou a dependência da
atividade canavieira para sua economia.
Como se comportará essa gestão frente a um presente desconfortável: a
instabilidade na relação entre o executivo e o legislativo, este já
protagonista de uma debandada de vereadores eleitos que apoiaram Baía
para o lado da “nova oposição”, porém já acalmados e de volta; a
presença mais que efetiva das famílias Pedrosa, Praxedes e demais que
investiram na campanha, cujo expoente é o vice-prefeito Eduardo Pedrosa
(irmão do falecido José, ex-prefeito); o estado precário das finanças do
município, que já obrigou o gestor a decretar estado de emergência por
falta de medicamentos nos postos de saúde e merenda nas escolas; enfim, a
necessidade de se fazer tantos malabarismos políticos para cumprir os
acordos de praxe e as promessas de palanque? E o PT local, ocupante hoje
de duas secretarias, de que modo lidará com a necessidade de dividir
espaço na gestão com antigos desafetos políticos? E a militância, que
deu a cara à tapa, qual lado da face oferecerá se Beto Baía não cumprir
seu discurso?
Claro, ainda é cedo. O novo prefeito já cumpriu uma de suas promessas de
campanhas mais icônicas, a gratuidade do transporte escolar para os
estudantes palmarinos que cursam faculdade em Maceió, já demonstrou sua
capacidade de negociação no caso dos vereadores e tem implementado, como
pode, seu plano de governo.
Mesmo assim, podemos chamar a atual gestão de “nova” com tanta gente
“velha” no elenco? As correntes foram quebradas de fato? São inquietudes
pertinentes e devem ser levadas a sério nas tomadas de decisões. O povo
de União dos Palmares anseia por renovação, mudança e avanço reais, sem
maquiagem. E a Beto Baía foi dada a oportunidade de protagonizar esse
momento promissor, embora frágil e delicado. Que não decepcione o povo
para não sofrer o mesmo enxovalho que seus adversários tiveram nas
urnas.
Eu, como sou um cético, se fosse pessoa próxima de Beto, não deixaria passar essa pergunta:
- Vencemos, e agora?
José Minervino Neto é historiador formado pela Universidade
Federal de Alagoas, servidor efetivo da UNEAL lotado no campus de União
dos Palmares e blogueiro.
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Intervalo das Horas: http://intervalodashoras.blogspot.com.br/
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