Já se sabe: eu fui à JMJ! Eeehh!.. E gostaria, como inclusive me pediram
para fazer, de contar um pouco da minha experiência de ter comparecido
no maior evento católico destinado à juventude do mundo.
Fiquei hospedado na casa de uma amiga, a Joyce, a quem eu já conhecia
virtualmente. Sobre isso, não sei nem como descrever a imensa
hospitalidade que tiveram conosco. Toda a família da Joyce me recebeu
como um filho e foi como tal que me senti, de fato. Já na primeira
manhã, a mãe dela, dona Marilda, me acordava com um suco estranho e que,
não obstante o gosto esquisito no paladar, causou-me um gosto
maravilhoso no coração. Aquele mimo era para mim um claro sinal do
cuidado divino que, nestes dias benditos, se expressou de modo muito
particular nos atos da dona Marilda.
Ela é alguém de uma simpatia toda singular. Nos deixou muito à vontade e
era só sorrisos. Deu-me também uma lição. Disse-me: "O alimento é para
sustentar o corpo. O ser saboroso é uma regalia de Deus". Relembrei isso
diversas vezes. É verdade. Alguém pode dizer: isso é desculpa para quem
não sabe cozinhar. Haha.. Na verdade, a comida da Dona Marilda é tão
boa que eu estou sonhando com ela até agora.
Não sei descrever a gratidão que me vai na alma por me ter posto num
lugar tão acolhedor. De fato, foi um prêmio imenso que Deus me deu
diante do pequeno ato de Fé que fiz: o de ter confirmado as passagens
quando ainda não me era claro onde me hospedaria.
Além dela, o senhor Wilson, seu esposo, demonstrou ser não apenas uma só
carne com ela, mas possuir também a sua mesma alma: muito acolhedor e
muito atencioso. Levou-me inclusive para conhecer a sua mãe, a Dona
Júlia, de quem ele discorda só num ponto: o time preferido. Seu Wilson é
flamengo doente. Dona Júlia é Botafogo.
Antes de viajar, eu pedia a Nossa Senhora que me protegesse. E o
resultado? A família que me acolheu era toda consagrada à Virgem Maria
pelo método de S. Luis Maria Grignion de Montfort. O bairro ou distrito
ou sei lá o quê era também dedicado a Maria Santíssima. Inclusive,
ganhei da dona Marilda uma medalhinha milagrosa. E aí? Minhas orações
foram ouvidas ou não? rs
Hoje de manhã, Dona Marilda levou-me até o ponto de pegar o ônibus para o
aeroporto. Por minha causa, saiu mais cedo do que de costume. Pegou
dois ônibus comigo e me esperou pegar o terceiro. A toda hora, eu sentia
o seu cuidado e aquilo me estremecia por dentro. Foi com os olhos
marejados e com um nó na garganta que me despedi. Deus abençoe a família
Rocha.
A experiência da JMJ foi única. É muito belo contemplar com os próprios
olhos a força do catolicismo. É claro que se poderia contestar aqui a
qualidade de tal catolicismo de massa. No entanto, é fato que a Igreja é
ainda profundamente atrativa porque sua beleza descende do próprio
Cristo, que é Beleza em si. É muito bonito ver que o Papa, um homem
idoso e sem tantos atrativos estéticos e mundanos, consegue atrair
milhões de pessoas, mesmo em nossa época extremamente secularizada. É
belíssimo olhar para o lado e ver uma pessoa que, ainda que não se lhe
saiba de antemão qual o idioma que fala, é católica apostólica romana.
Ver o Papa foi imenso. Uma euforia só. O comentário que tive de ouvir
por lá foi: "Fábio é todo centradinho até ver o Papa." haha.. De fato,
foi só vê-o que me dispus a correr em sua direção e me perdi
momentaneamente das pessoas com quem eu estava. Vi o Papa e parecia que
meus olhos relutavam a crer que fosse real. Na hora, me veio a sensação
de que se tratava de qualquer tipo de tela extremamente sutil pela qual
eu o via. Mas não. Era ele! Aquele que, como dizia Sta Catarina de Sena,
é a doce sombra de Cristo na terra; aquele que exala o bom odor de
Cristo; que é símbolo inexorável de Cristo e como que janela do
transcendente. Passou por mim acenando amigavelmente, num ato que
parecia querer significar que o próprio Deus me sorria ao invés de
zangar-se dos meus pecados. Contemplando a face e o jeito do Papa
Francisco, eu não somente sabia, mas via: "Deus é bom". Faz uma
diferença imensa saber que Deus é bom. Experimentemo-lo! E repito: é
preciso saber não apenas em teoria, mas encarnar esta sabedoria, isto é,
ter em si o sabor da bondade divina. Sabor e sabedoria possuem o mesmo
radical. Francisco parece ter uma sabedoria que é algo mística, cheia do
sabor de Deus. Vendo-o, penso em S. Francisco de Assis: "o verdadeiro
cristão não consegue esconder a alegria que o anima por ter descoberto
este tesouro."
A JMJ também foi ocasião de eu conhecer pessoalmente quem eu só conhecia
virtualmente, como a própria Joyce, a Sabrine, a Angélica, etc. De
outras, eu nem sequer sabia que existiam e, graças a Deus, tive a honra
de conhecê-las, como à Paula e aos seus amigos argentinos com os quais
passamos mais de 24 horas juntos. São bons amigos que pretendo cultivar
pela eternidade.
Um destes, inclusive, causou-me viva impressão. Pareceu-me como um
"irmão de alma". Embora seja meio pretensioso dizer isso, foi como me
soou. Identifiquei-me com certas disposições interiores deste rapaz.
Parecia-me ver a mim mesmo sob alguns aspectos. E isto também foi algo
da providência divina. Algo como uma seta luminosa a me recordar
verdades fundamentais e chamadas específicas que Deus me fez. Aí nós
dois:
Foi já com uma certa tristeza que assisti aos eventos finais. Depois da
madrugada de vigília, o domingo surgia numa manhã limpa e ensolarada.
Tive calor pela primeira vez em vários dias. Isto me fez recordar de uma
frase de Sta Teresa D'Avila: "de amor está se abrasando o que nasceu
tiritando". Se a jornada, no seu início, nos surpreendeu pela frieza do
tempo, estranhada até pelos próprios cariocas e que bem podia simbolizar
o estado espiritual com que começamos o evento, agora, no seu término,
ela nos saudava com um calor que talvez pudesse representar o despertar
interior, o efeito gerado por Deus nestes dias de Graça. Mas ainda
assim, saber que a coisa estava chegando ao fim me deixou o tempo todo
muito introspectivo. Era como se eu quisesse, de algum modo, estagnar o
tempo a fim de que o término não ocorresse. Mas ao mesmo tempo, eu sabia
que é preciso deixar as coisas irem. É preciso desapego e pobreza
interior. Como a Paula bem me falou: ver as pessoas aqui reunidas na
praia nos faz lembrar o evento da Transfiguração, no monte Tabor.
Parece-nos querer pedir a Jesus para fazer tendas e aqui ficar pelo
resto da vida. Porém, extasiados por tudo isso, não sabemos o que
dizemos. É necessário, antes, já que iluminados pela luz ali manifesta,
descer o monte e ir comunicar esta graça aos demais que ainda não
conheceram a Nosso Senhor, ou que o conheceram e deixaram-No escapar. É
preciso que reencontrem a disposição da esposa dos cantares: "encontrei
Aquele que meu coração ama e não O largarei". Mas, antes, encontremo-la
nós! Deixamo-lo escapar quando pecamos mortalmente. Fiquemos com Ele e
Ele ficará conosco.
Enfim, passado tudo, pergunto-me: aconteceu de fato? Sim. Aconteceu.
Porém, a efemeridade destes momentos privilegiados nos lembra que ainda
estamos no exílio e que a felicidade só será completa no outro mundo. O
fato de termos de voltar às nossas vidas e à cruz de cada dia é também
uma grande lição. Não ponhamos o fundamento da nossa vida neste mundo. O
tempo é contínuo fluxo; não possui estabilidade. Fiar-nos nele para
sermos felizes é como construir uma casa sobre a areia. É empresa fadada
ao fracasso. Ponhamos nosso coração em Deus, façamos d'Ele o nosso
tesouro, e estaremos firmes sobre a rocha.
Eu ia escrever ainda alguma coisa sobre as críticas que sujeitos fizeram
à JMJ a ponto de desacreditá-la de todo. Mas, não. Já falei algo disso.
Digo somente o seguinte: Há quem queira criticar tudo quando não se
adéqua às suas próprias opiniões. Eis a própria definição da soberba.
Esta, a fim de se afirmar, se disfarça com mil zelos e sutilezas. Mas
quem quer que a conheça, lhe distingue os traços a quilômetros de
distância. A virtude é natural, espontânea e reta. A soberba é afetada e
dissimulada. Seus efeitos não visam adequar-se a nenhum objeto. Estes
servem apenas de pretexto ou "causa justificadora". Na verdade, a
soberba quer causar sensações pura e simplesmente. E para isto se
disfarça. Um certo racionalismo a serviço do irracionalismo da busca por
admiradores é muitíssimo comum. Não falta quem queira ser o último
porta-voz do catolicismo, uma espécie de novo Elias. Para tal, recorrem a
mil práticas devocionais, todas em latim, e se privam do contato contra
os "leprosos" modernistas. Uma e outra dessas atitudes fortalecem a
ilusão da assepsia. E se a soberba lhes corrói a alma, importa somente o
externo, o aparente.
Há mil coisas que aconteceram na JMJ e que eu não sei contar direito.
Isto aqui é somente uma exposição sucinta, mais interior que exterior,
de como foi a minha jornada. Quem quiser saber de algo mais específico, pergunte-me e estarei feliz em responder, se o souber.
Para terminar, quero agradecer mais uma vez à boa alma que me
proporcionou os meios para esta viagem e para as alegrias que lá tive.
Que Deus a abençoe e recompense sem medida. Que a Virgem Maria nos
conduza a todos. Pax.
Fábio Silvério.
Primeira vez que vou ao Rio e que viajo de avião. Aí a minha cara de alegria pelo primeiro vôo.
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