Ainda recentemente, recebi uma mensagem de um conceituado
profissional da área de saúde se manifestando acerca do debate sobre o
“casamento gay” – uma denominação tão consagrada quanto inapropriada.
Ele já deu indícios, logo no começo, sobre qual caminho iria trilhar: “Eu não sou homofóbico, mas…”
Só fiz confirmar a fúria incontida do cidadão diante do tema que vem
tomando grandes espaços na mídia. O missivista prosseguiu e afirmou que
só não admitia que eles – os gays – “se metessem” na sua vida.
Ora, pois: pareceu-me exatamente o contrário – ele é que estava
invadindo a vida dos e das personagens a que comparou à “bestialidade”.
É claro que carregamos muito de preconceito em relação aos
homossexuais, isso é histórico, e não só no Brasil, mas às vezes acho
que só mesmo Freud para explicar tanto ódio.
Mulheres, negros e outras minorias sabem muito bem o que é viver em
um país que cultiva a tolerância como discurso oficial e não consegue
vencer a brutalidade cotidiana de que eles são vítimas.
Só no ano passado, as denúncias de violência contra gays no Brasil
cresceram 166%. E foi exatamente porque eles e elas resolveram ir à
luta, se expor, brigar pelo direito de serem cidadãos de primeira classe
– e não a escória da sociedade.
Botar a cara à tapa, nesse caso, é não ter que tomar tanto tapa na cara.
Mais de 80% dos inquéritos que apuram agressões aos homossexuais no país morrem no nascedouro – não são levados a sério.
Muita gente “tolerante”, ao que parece, preferiria que os
homossexuais permanecessem nas sombras, sem faces, apenas algo ou alguma
coisa a se olhar de lado, sem afeto ou respeito.
Admito até que as religiões – sejam elas quais forem – se neguem a
realizar rituais e/ou cerimônias que não sejam contempladas em seus
“livros sagrados”. Acho que poderiam ser flexíveis, mas respeito essa
posição.
O Estado laico, entretanto, tem de reconhecer a união estável entre
homossexuais igualmente o faz em relação aos heterossexuais. E isso não
pode ser considerado “invadir a vida” de ninguém.
É a deles que está em jogo – e só.
Um colega com quem trabalhei durante um bom tempo, homossexual
assumido, me deu bem a dimensão do sofrimento e humilhação pelo que
passam os que lhe são iguais:
- Nós vivemos eternamente na clandestinidade. Você pode ir a um
restaurante com sua mulher, pegar na mão dela, beijar, e todo mundo vai
achar normal. Se eu fizer isso com meu companheiro, logo vai aparecer
alguém para protestar ou nos agredir.
Isso é justo?
Claro que não é.
Viver e deixar viver – da melhor forma possível – os diferentes (ou
os iguais) há de ser um aprendizado do qual não podemos abrir mão.
Não ser homofóbico é um comportamento baseado na convicção e que dispensa afirmações preventivas.
Fonte: Blog Ricardo Mota
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