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domingo, 24 de novembro de 2013

Quilombos resistem, mas sofrem por abandono

Populações que vivem nos locais que serviram de refúgio para escravos declaram amor pelos lugares, mas lamentam a falta de empregos e de serviços básicos.

 Erick da Silva, de 8 anos, abre um largo sorriso para dizer que ama o lugar em que mora, numa casa pequena, no alto da Serra da Barriga, de onde a vista alcança léguas e léguas no interior de Alagoas. Lá tem mangueiras, laranjeiras, bananeiras e uma lagoa em que o garoto e seus amiguinhos nadam quase todos os dias enquanto a mãe de Erick, dona Marineida, e outras mulheres lavam roupas. “Aqui é muito gostoso de viver”, diz o menino. A mãe concorda, mas pondera: “É um lugar maravilhoso. Só que faltam empregos”.

Ela e o filho moram no local onde existiu o quilombo dos Palmares, o mais famoso das Américas, criado por volta de 1590 pela princesa Aqualtune – capturada na África e escravizada no Brasil, ela fugiu grávida de um engenho em Pernambuco e fundou o Palmares. O quilombo abrigou mais de 20 mil negros e teve como principal líder Zumbi, assassinado por bandeirantes brancos em 20 de novembro de 1695. O local hoje é o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.

 O parque, fundado em 2007, é o principal cartão-postal do município de União dos Palmares (AL) e atrai milhares de visitantes todos os anos. Os turistas ficam encantados com os atrativos, como a vista da Serra da Barriga. Muitos, porém, nem sequer percebem que lá vivem 14 famílias de brancos e afrodescendentes, como Erick e sua mãe. Embora eles digam que amam o lugar, enfrentam problemas, como a necessidade de lavar roupas na Lagoa dos Negros, cujo volume d’água baixa bastante durante o período de seca.

O dia a dia no local em que abrigou o quilombo mais famoso das Américas e o cotidiano na comunidade quilombola do Pontinha, a 25 quilômetros de Paraopeba, Região Central de Minas, e fundado por descendentes de Chico Rei, são o tema da última reportagem da série “A real abolição”, que o EM começou a publicar na quarta-feira. As reportagens mostraram que indicadores econômicos e sociais sobre a população negra aumentaram no Brasil nos últimos anos, mas também que há margem para que eles melhorem ainda mais.

Naquele que foi o maior quilombo do Brasil, Erick acompanha quase que diariamente a mãe, Marineida, e a vizinha, Adriana Santos, à Lagoa dos Negros. Enquanto as mulheres lavam roupas, o garoto e seus amigos brincam de mergulhar. A água não é potável. “É cheia de girinos”, alerta o menino. As cartas também não chegam ao lugar. Os moradores precisam buscar as correspondência em União dos Palmares, a 10 quilômetros de lá. Apesar das dificuldades, a mãe dele não deseja deixar o local: “Gostamos deste lugar. Além do mais, estamos aqui há tanto tempo...”.

Fonte: Em

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