Jorge de Lima (1893-1953) não viveu para ver que sua carreira
literária teria a marca da fama e do anonimato. Considerado um dos
maiores poetas da literatura brasileira, o alagoano influenciou gerações
de escritores. Mas, para o público leigo, a obra de Jorge de Lima
passou por períodos de sumiço e reaparecimento, desde sua morte, que
completa 60 anos no próximo domingo.
Agora, o autor ressurge mais uma
vez, depois de 15 anos fora das livrarias. Primeiro, pelas mãos da Cosac
Naify, que, com com “Invenção de Orfeu” (1952), considerado sua
obra-prima, começa a reeditar todos os livros do escritor. No início de
abril, o diretor de teatro João Fonseca apresenta o musical “O grande
circo místico”, baseado no poema homônimo do autor, com as canções
clássicas de Chico Buarque e Edu Lobo. E, no segundo semestre, Cacá
Diegues realiza um grande sonho de sua carreira: filmar “O grande
circo”.
— Não conheço um poeta brasileiro que não tenha grande
admiração por Jorge de Lima.
Não sei por que ele costuma sumir. Ele é um
modernista atípico, então talvez outros poetas representem melhor o
movimento para manuais de estudo. Ele ressuscita o soneto, por exemplo,
que ficou muito associado a Vinicius de Moraes, mas sem a lírica amorosa
dele — diz Paulo Henriques Britto, poeta e professor do Departamento de
Letras da PUC-Rio. — Também há o fato de toda uma geração de poetas,
como Manuel Bandeira e Drummond, ter se insurgido contra a ideia do
poeta como aquele que trata do sublime. E Jorge de Lima é um místico,
uma voz meio profética. No fim de “Invenção de Orfeu”, ele praticamente
reescreve o “Apocalipse”.
A Cosac Naify comprou os direitos de
publicação de Jorge de Lima, que pertenciam à Record, em maio, como
antecipou o GLOBO à época. A editora contratou o professor de teoria
literária da USP Fábio de Souza Andrade, estudioso do autor, para
auxiliar na edição da obra poética. Já os romances de Jorge de Lima
ficam aos cuidados de Luís Bueno, professor de literatura brasileira da
Universidade Federal do Paraná.
A nova edição de “Invenção de
Orfeu” reúne — além, é claro, do poema de dez cantos e 12 mil versos —
fortuna crítica e fac-símiles do original, com anotações do autor. O
poema é uma biografia épica, que ecoa “A divina comédia”, de Dante, e
“Os Lusíadas”, de Camões. A edição também traz uma carta do poeta Ezra
Pound, em que ele agradece a Jorge de Lima, em espanhol, o envio de um
livro.
— Para o ano que vem, preparamos ainda uma nova antologia
poética de Jorge de Lima. A última foi feita por Paulo Mendes Campos,
nos anos 1970. — diz Milton Ohata, editor da Cosac Naify. — Também vamos
lançar “Calunga”, romance do seu ciclo nordestino. Por último, vamos
relançar uma edição de “Poemas negros” ilustrada por Lasar Segall.
Difícil de classificar
Talvez
uma das explicações para Jorge de Lima ter desaparecido é a dificuldade
de classificá-lo. Na juventude, Lima era parnasiano e, mais tarde,
aderiu ao modernismo. Escrevia poemas e romances regionalistas, mas
também tinha influência do surrealismo europeu — este uma das marcas de
“Invenção de Orfeu”. O surrealismo influenciou ainda a obra do autor
como artista plástico, com as fotomontagens feitas por ele. Também
sofria influência do catolicismo, como outro amigo seu, o poeta Murilo
Mendes.
— Diferentemente do que ocorreu nos países de língua
espanhola, o surrealismo nunca deu samba aqui no Brasil — diz Paulo
Henriques Britto.
Quando comprou os direitos de publicação da
família de Jorge de Lima, a ideia da Cosac era editar sua obra poética e
em prosa. Agora, entraram no projeto os trabalhos do alagoano como
artista plástico. Além das fotomontagens surrealistas, ele era pintor e
foi premiado na 1ª Bienal de Artes de São Paulo.
Este não é o
primeiro reaparecimento de Jorge de Lima. Nos anos 1960, pouco depois de
sua morte, a Nova Aguilar já relançava sua obra com o objetivo de
tirá-lo do ostracismo. Nos anos 1990, foi a vez da Record. Nesse meio
tempo, ele foi enredo da Mangueira, em 1975 — e a escola ficou em
segundo lugar. Um dos problemas para editar Jorge de Lima é que, fora do
currículo das escolas — que privilegia Cecília Meireles e Carlos
Drummond de Andrade, seus colegas de geração modernista —, é difícil
vendê-lo para o governo, um dos principais compradores de livros no
país.
Em 1983, Chico Buarque e Edu Lobo criaram a trilha sonora
para o balé “O grande circo místico”. São canções hoje clássicas, como
“A história de Lily Braun”, “Ciranda da bailarina” e “Beatriz”. Agora,
no cinema e no teatro, o poema de Jorge de Lima ganha dramaturgia. O
poema conta a história de amor de um aristocrata e uma equilibrista, que
criam uma dinastia de artistas, no Circo Knieps.
— Jorge de Lima
sempre foi meu poeta preferido. Acho que é um dos três maiores poetas da
língua portuguesa. “Invenção de Orfeu”, para mim, só fica atrás de “Os
Lusíadas.” Só agora criei coragem de filmar “O grande circo místico”,
depois de trabalhar três anos no roteiro. É muito bom que ele seja
redescoberto. É como redescobrir um pedaço do Brasil que estava
esquecido — diz Cacá Diegues, que já escalou Lázaro Ramos e Vincent
Cassel para o filme.
O musical, por sua vez, terá Tiago Abravanel
no papel do aristocrata e Letícia Colin, no da equilibrista. O resto do
elenco ainda está em fase de escalação. Agora, o público pode
reencontrar — ou conhecer — Jorge de Lima.
O ator Lázaro Ramos está no elenco do filme “O grande circo místico”,
inspirado no poema de Jorge de Lima.
inspirado no poema de Jorge de Lima.
Parabéns Marcelo, sempre bem antenado. Grande abraço!
ResponderExcluirValeu Emanuel, aproveitando kkkkkk Cadê o depoimento Qual foi seu melhor momento de 2013? http://www.jmarcelofotos.com/2013/11/qual-foi-seu-melhor-momento-de-2013_17.html
ResponderExcluirAbraços!!!