Maria
Elisângela do Nascimento Almeida, nascida no dia 29 de junho de 1980.
Funcionária pública, professora da rede estadual de educação lotada na Escola
Estadual Rocha Cavalcanti.
JMarcelo Fotos- Fale um pouco de sua família e de
sua infância?
Sou filha de dois sobreviventes! Valdecy Santana de
Almeida (conhecido como “Seu til”, hoje morador do Taquari) e de Maria Ana do
Nascimento (conhecido como D. Lia, moradora do Conjunto Nova Esperança). Digo
sobreviventes por conta das condições de vida difícil que os dois tiveram em
sua infância, juventude e na vida a dois para criar seis filhas. Isso mesmo!
Seis mulheres guerreiras: Maria Luciana de Almeida (mora em Recife-PE), Geruza
de Almeida (mora em União), Maria Célia do Nascimento Batista (mora em Maceió),
eu Maria Elisângela do Nascimento Almeida, Roseane do Nascimento Almeida (mora
em Maceió) e Jerlaine do Nascimento Almeida (mora em União). Mulheres... Que
têm muitas histórias para contar! Gostamos de brincar com a frase: era a casa
das sete mulheres! Meu pai pedreiro analfabeto de origem indígena é um homem
pra lá de arretado! Minha mãe merendeira (hoje aposentada) e alfabetizada aos
45 anos de idade é o meu maior exemplo em minhas aulas. Os dois são naturais de
Santana do Mundaú e vieram morar em União há 32 anos.
Minha infância foi regada de muitas privações,
desde ao que vestir até em o que comer. Mas diante de todas essas privações o
tempo em que fui criança era muito bom, com muita liberdade. Lembro-me de
muitas corridas na chuva pelas ruas do Robertão, banhos embaixo das bicas das
residências, de brincar nas ruas até tarde sem ter perigo, de nas faltas de
energia ouvir os mais velhos contar histórias de assombração, de subir em
árvores, cair, chorar e no outro dia fazer tudo de novo. Meus pais me educaram
com muita disciplina em relação aos meus afazeres, mas com muita liberdade para
viver feliz. Valores familiares e princípios éticos sempre foram muito
presentes em nossa convivência. Até hoje tenho que pedir a bênção aos meus pais
e ai de mim se não o fizer. Rsrsrsrsr....
Fez-me lembrar do poema de Casimiro de Abreu, MEUS
OITO ANOS:
Oh que saudade que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais.
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais.
(...)
JMarcelo Fotos- Você é natural da cidade de Santana
do Mundaú. Saiu com quantos anos da cidade? E qual sua ligação hoje com esse
município?
Sou filha da minha querida Santana do Mundaú! Nasci
em uma casa que beira o nosso Rio Mundaú. Sai de lá aos dois anos de idade.
Meus laços com o município continuam vivos! Tenho muitos primos, tias e tios,
amigos,... E quando fui chamada pelo concurso do estado minha primeira escola
há trabalhar foi a Escola Estadual Manoel de Matos, pude contribuir dois anos
com a educação dos meus conterrâneos.
JMarcelo Fotos- Você veio morar em União dos
Palmares com quantos anos? Você morou um tempo no Estado de Pernambuco, como
foi essa época?
Vim morar em União acredito com mais ou menos dois
anos de idade. Com 12 anos, no auge da adolescência fui morar com minha irmã
mais velha em Recife-PE. Foi uma experiência muito boa! O modo de ser dos meus
amigos pernambucanos fez grande diferença em minha vida, os hábitos e costumes
eram além da minha realidade de
interior. Cresci muito como pessoa! Perdi a ingenuidade trazida do interior de
Alagoas. Foi lá que tirei meus primeiros documentos, que pude andar sozinha de
metrô, ir ao centro comprar passes para ir à escola, pegar vários coletivos
para chegar aonde eu queria, ir à praia com amigos... Fui muito feliz! Voltei
para União com 17 anos. Com outra mentalidade, outras posturas, olhares e
outras perspectivas!
JMarcelo Fotos- Qual sua formação atual?
Sou Pedagoga formada pela Universidade Federal de
Alagoas- UFAL e especialista em Psicopedagogia pelo Instituto Batista de Ensino
Superior de Alagoas.
JMarcelo Fotos- Qual a sua religião?
Prefiro afirmar quando me fazem esta pergunta que
sou simplesmente CRISTÃ. Digo isso pelo fato de não ter como não se apaixonar
pelas diversas religiões que o meu país me oferece. Então visito muitas, leio
sobre elas, enfim, sou cristã.
JMarcelo Fotos- Que caminho levou você a se decidir
em ser professora?
Eu sou formada, já no médio, como professora das
séries iniciais. Fiz o antigo magistério quando ainda era na Escola Carlos
Gomes. Na verdade fiz parte da última turma de magistério daquela escola
(1999). Decidi ser professora por paixão, vocação talvez. Lembro que fiquei
indecisa quando fui fazer o vestibular da UFAL entre PEDAGOGIA e PSICOLOGIA,
áreas muito afins, e aí decidir pela ciência da educação e não me arrependo.
Amo o que faço! Tenho prazer em lecionar!
JMarcelo Fotos- Como você define seu trabalho? E o
que é ser um(a) professor(a) nos tempos de hoje?
Citando
Augusto Cury na minha definição do meu trabalho, costumo dizer que preciso
semear minhas sementes (os estudantes que passam por mim) todos os dias com
muita sabedoria para depois colher com muita paciência. Não é uma tarefa fácil.
Pedro Demo
em uma reportagem para a revista Profissão Mestre, disse: "Ser
profissional hoje é principalmente saber, todo dia, renovar a profissão". Essa
frase já diz muito sobre o que é ser professor. Ser professor hoje é uma tarefa
bem difícil, mas prazerosa, preciso de muita dedicação aos estudos, a pesquisa,
ao meu desenvolvimento profissional e aos estudantes que tenho contato no meu
dia a dia.
Como me percebo mediadora da aprendizagem, busco
participar ativamente do processo de aprender, incentivando a busca de novos saberes.
Acredito que o que também não deve faltar é muita paciência, criatividade,
humildade, carisma, domínio próprio e do público.
JMarcelo Fotos- Você é coordenadora e já foi diretora adjunta
da Escola Estadual Rocha Cavalcanti. Como você avalia o ensino nesta
instituição?
Você e seus leitores devem concordar que sou suspeita
em falar do ensino desta escola. Mas vamos lá! O Rocha tem um diferencial que
deve ser visto com outros olhos. É um Centro de Formação de futuros professores
que vai atender da Educação Infantil até o 5º ano. É um comprometimento muito
grande para todos os professores e funcionários que se dedicam aquela
instituição. Aos poucos os estudantes vão percebendo que o ensino é mais puxado
pelo fato de serem dois cursos em um. Ao mesmo tempo em que profissionalizamos
ainda estamos preparando-os para o ENEM.
Não serei autossuficiente em dizer que somos os
melhores, não! Mas concordo que de fato deveríamos ser! Formar professor é uma
responsabilidade muito grande. Todos os dias vou trabalhar para atender com
muita ética, respeito e compromisso aquela comunidade escolar.
JMarcelo Fotos- Como você analisa a violência crescente que os
professores sofrem no seu local de trabalho?
Fruto de uma sociedade violenta! Não poderia ser
diferente. Nossos estudantes são uma representação significativa da sociedade.
Vejo a
escola como uma instituição que está com “excessos” de missões. E é
com o professor Nóvoa que encontro uma ótima pista para entender o que vem acontecendo: “as escolas valem o que vale a sociedade. Não podemos
imaginar escolas extraordinárias, espantosas, onde tudo funciona bem numa
sociedade onde nada funciona”.
Recordando o inesquecível educador Paulo Freire que dizia: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo,
humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente,
ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação
sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Educação é fundamental para a construção de
uma sociedade melhor, mas é um processo conjunto, não
isolado. A própria Constituição Federal diz, em seu artigo 205, que “educação,
direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade”. A violência contra professores nas escolas não
é um problema apenas do âmbito pedagógico, mas também de governantes e
sociedade que aparentemente preferem fugir de suas responsabilidades.
JMarcelo
Fotos- Você está fazendo um Curso de Aperfeiçoamento em Educação Ambiental,
como você ver essa questão do meio ambiente em União dos Palmares?
Um
desafio! O poder público tem o dever e obrigação de promover, incentivar e
facilitar todo e qualquer tipo de trabalho nesta área. Grandes empresários
todos os dias agridem mais e mais nossas riquezas naturais e não existe
punição, nada está sendo feito. E se está eu desconheço. Ainda precisamos avançar muito em relação ao
trabalho de desenvolver nas pessoas conhecimentos, habilidades e atitudes
voltadas para o cuidado com seu meio.
Acredito que é importante a articulação de ações educativas
voltadas para a preservação do meio ambiente e a escola é o espaço mais
indicado e privilegiado para implementação dessas atividades, uma vez que, ela
através da Educação Ambiental deve levar nossos estudantes a buscar valores que
conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente, conscientizando-os
de forma a tentar gerar novos conceitos e valores sobre a natureza, alertando
sobre o que se pode e deve ser feito para contribuir na preservação do meio,
tentando assim, estabelecer um equilíbrio entre homem e natureza na busca
por um mundo melhor, e desta forma possa disseminar tal conhecimento para a
sociedade palmarina.
JMarcelo Fotos- Sobre União dos Palmares vou fazer
algumas perguntas e você responde o que vem na sua cabeça:
·
Serra da
Barriga
Um chão que me sinto bem em pisar. Fortalece-me!
·
Lixos nas
ruas
Falta de educação e respeito!
·
Festa de
Santa Maria Madalena
Uma tradição que me emociona.
·
Falta de
emprego
Falta de respeito dos governantes com o PAI DE
FAMÍLIA.
·
Jorge de
Lima
Um ícone para a história de União.
·
Política
local
Decepcionante!
JMarcelo Fotos- Você gosta de internet, sites e
redes sociais quais você usa com mais frequência?
Uso a internet para facilitar meu trabalho como
educadora: pesquiso, estudo e me comunico por meio dela. Uma ferramenta que se
bem utilizada pode te ajudar muito. O próprio facebook, que utilizo muito,
busco meios para facilitar meu trabalho na escola e até mesmo na sala de aula.
JMarcelo Fotos- você é filiada a algum
partido político? Caso sim, já pensou em se candidatar a um cargo público?
Sim, sou filiada! Sou do tipo que não consigo ficar
em cima do muro. Mas nunca pensei em me candidatar a nenhum cargo político.
Isso não me enche os olhos. Acredito que estou mais para assessoria, rsrsrsrsr.
JMarcelo Fotos- Como é sua rotina com trabalho,
dona de casa, esposa e mãe?
Bem cansativa! Por opção trabalho 40hs semanal.
Então tenho 20hs para me dedicar à família. Tenho uma filha de cinco anos e
compreendo que é uma fase muito importante no desenvolvimento da personalidade.
Não quero que ela cresça uma criança carente de afeto de mãe e pai. Aproveito o
máximo de tempo possível. Sou bem atenta aos valores e princípios que tenho que
passar pra ela. Entendendo que ela é a minha continuidade, busco dá o melhor de
mim, como MÃE, AMIGA E SER HUMANO.
Meu esposo também trabalha o dia todo. Temos o
cuidado de organizar nossa vida em prol do bem estar dela. Eu trabalho tarde e
noite e ele trabalha manhã e tarde. Então, como ela estuda pela tarde, nos
horários livres dela sempre tem contato com um de nós. Mas é um jogo de cintura
muito cuidadoso. Não é fácil!
JMarcelo Fotos Você e o José Maria pensam em da um
irmãozinho a Ana Elisa?
Sim! Até porque ela nos cobra sempre. “Mamãe, eu
quero uma irmãzinha”! E ultimamente esse pedido está mais frequente.
Ana Elisa veio muito esperada. Planejei a chegada
dela com muito carinho e zelo. Quero que seja do mesmo jeito com o próximo
filho ou filha. Mas já temos planos para essa chegada em 2015.
JMarcelo Fotos- Você é uma mulher bonita, o que faz
para se cuidar?
Muito obrigada pela afirmação. Não vou ser
hipócrita em dizer que não me acho bonita. Me acho sim, uma mulher bonita!
Naturalmente tenho uma autoestima elevadíssima, uma vaidade nata, e como tal,
adoro me arrumar, isso me faz bem. Para minha sorte sou amante das atividades
físicas. Todos os dias procuro ir à academia, e isso me ajuda muito a manter a
forma e envelhecer com saúde.
JMarcelo Fotos- Qual foi a melhor viagem que você
já fez?
Já fiz algumas viagens significativas: Salvador,
São Paulo, Pernambuco, Ceará... Mas nenhuma foi tão especial quanto à viagem à
cidade Brejo da Madre de Deus – PE. Foi muito bom! Ana Elisa estava com seis
meses de idade e fui para o casamento de uma grande amiga. José Maria e minha
comadre Marciângela foram reversando no volante e eu fui contemplando a
paisagem diferente com Ana Elisa. Me marcou muito!
JMarcelo Fotos - Muito obrigado e fique à vontade
para se despedir dos leitores do blog
Eu só tenho a agradecer
pelo seu carinho em querer conhecer e divulgar um pouco do que eu sou. Espero
que os leitores gostem da leitura. Não sou nada diferente dos demais. Sou
simplesmente uma sonhadora incondicional, uma cidadã comum. Assim sou!
Gosto muito dessa
citação de Chico Xavier:
"Aprende a sorrir,
servindo sempre.
A vida é uma escola.
Por mais difícil o processo educativo a que nos vejamos submetidos, saibamos
valorizar o tempo, agradecendo e trabalhando, ao invés de reclamar ou ferir."
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