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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

"Já fiz trabalhos sociais importantes na cidade, que, infelizmente, a inveja e o medo de certas facções políticas não me deixaram continuar" Paulino Vergetti Neto



JMarcelo Fotos: Onde viveu aqui em União dos Palmares e quais lembranças você tem da sua infância?

Nasci em uma casa simples numa rua próxima ao Grupo Escolar Rocha Cavalcante e vivi a maior parte de minha infância dessa forma. Classe média. De minha infância ficaram imagens belíssimas de uma União dos Palmares bastante diferente da de hoje, onde podíamos andar em suas ruas a qualquer hora do dia ou da noite sem medo de ser agredido ou coisa parecida. Havia muito respeito entre as pessoas. Até o clima era muito diferente. Lembro-me do frio e da neblina nas noites de inverno, suas chuvas torrenciais, seu trovões amedrontadores, relâmpagos que clareavam todo o firmamento, as grandes cheias do Mundaú.

JMarcelo Fotos: Como era União dos Palmares nessa época?

Em minha infância havia fortes movimentos culturais na cidade. Lembro-me que minha mãe me levava para assistir as retretas que aconteciam no correto da praça do Grupo Rocha Cavalcante. No Cinema São Luis tínhamos matinês, Soarês, etc. Assisti a inúmeros espetáculos dos grandes circos que pousavam em nossa cidade, como o Circo Garcia, famoso por seus enormes elefantes e seus globos da morte.

JMarcelo Fotos: Onde você estudou aqui em União, era bom aluno? 

Estudei o primeiro ano primário no Grupo Rocha Cavalcante e o restante no Grupo Escolar Jorge de Lima onde minha saudosa mãe Madalena Vergetti foi diretora por mais de vinte anos. Minha mãe era muito exigente com a educação dos filhos e sempre me incentivou a ler e a escrever. Fui um aluno comum como tantos outros.

JMarcelo Fotos: Com quantos anos foi embora da cidade, saiu para continuar os estudos?

Deixei minha querida União dos Palmares aos onze anos. Fui morar em Pernambuco numa cidade chamada Carpina. Foi quando iniciei o meu gosto verdadeiramente forte pelos estudos, ao entrar para estudar no Colégio Salesiano Padre Rinaldi, onde fiquei até meus dezesseis anos e aí retornei para União e fiz o terceiro ano científico como era chamado à época) e depois vestibulares para Psicologia e depois Medicina. Apenas conclui a graduação em Medicina. Abandonei Psicologia no terceiro ano.

JMarcelo Fotos: Qual sua ligação com o município hoje?

Sempre visito parentes. Canto União em meus versos e a divulgo em meus romances. Já fiz trabalhos sociais importantes na cidade, que, infelizmente, a inveja e o medo de certas facções políticas não me deixaram continuar.

JMarcelo Fotos: Qual seu parentesco com o ex-prefeito Afrânio Vergetti e você já se candidatou a algum cargo político?   

O Ex Prefeito Afrânio Vergetti é meu primo legítimo. A mãe dele era irmã de meu pai. Nunca me candidatei a nenhum cargo político.

JMarcelo Fotos: Quando você descobriu que gostava de escrever e quais as suas influências na literatura?

Iniciei a escrever aos oito anos de idade incentivado por minha mãe. Não li os grandes clássicos da literatura mundial na minha infância e adolescência, mas apenas na vida adulta. Não acho influências fortes de nenhum autor sobre minha obra. Se isso há é de cunho inconsciente. A poesia dos meus poemas, essa sim, herdei de minha mãe, de forma absoluta. Ela me apresentou Olavo Bilac, Castro Alves, Jorge de Lima e tantos outros. Leu muitos contos da coleção Mundo Da Criança para mim. Adorava ouvi-la entonando perfeitamente a melodia de sua voz com a dos contos que lia para que eu viajasse feliz pela literatura.

JMarcelo Fotos: Quantos títulos você tem publicados. É possível viver da literatura no Brasil? Como é sua rotina para escrever?

Já consegui publicar trinta e oito livros. No Brasil, viver de literatura é coisa rara e para poucos herois. Não possuo uma rotina para escrever. Basta que me deem uma caneta e muitas folhas de papel ou um bom teclado de um computador. Não há muito segredo. Quem escreve usa o dom, apenas isso.

JMarcelo Fotos: Você é Oncologista, por que o câncer assusta tanto?

O Câncer continua sendo muito estigmatizado pela população. Atualmente se cura a grande maioria deles. Das doenças crônicas degenerativas o que mais se cura é o câncer.

JMarcelo Fotos: Como você faz para não se envolver psicologicamente com o sofrimento de seus pacientes? 

Eu fui muito bem preparado tecnicamente e psicologicamente para isso. Mas sou humano e sendo assim, o câncer sempre me toca a alma. Vejo no sofrimento dos meus pacientes a outra face de Deus.

JMarcelo Fotos: Como médico, qual o principal conselho para ter uma vida melhor e saudável?

Alimentar-se de forma saudável, fazer exercícios constantes e afastar-se ao máximo do estresse.

JMarcelo Fotos: Você já morou no Rio de Janeiro, em São Paulo, e atualmente vive em Garanhuns. Como é viver em cidades que não é a sua terra natal? Sente saudades das cidades que morou?

É comum que as pessoas construam raízes por onde passem. Comigo não foi diferente. Tenho muitos amigos por todos os lugares onde morei. Mas a saudade que sinto de minha querida União dos Palmares é inenarrável. Se Deus me permitir ainda morarei nela e ensinarei aos meus compatriotas o que aprendi mundo afora. É a minha forte Pátria. Meu lugar sagrado. Lugar onde meu pouso é perfeito.

JMarcelo Fotos: O que você recomenda de Garanhuns, sua cidade atual?

Garanhuns é uma boa cidade para se morar. Já foi bem melhor, quando aqui cheguei de forma bastante desconhecida, nos idos de dois mil e nove. A droga está fomentando muita violência e o frio característico que aqui fazia está indo embora a cada ano que passa. A água e o clima são o forte da cidade, além do famoso Festival de Inverno.

JMarcelo Fotos: Diferente de Garanhuns, uma grande cidade turística, União dos Palmares, o berço dos heróis negros, não aproveita todo o seu potencial turístico. Como você avalia essa questão na sua cidade natal?

O maior pecado que vejo em União dos Palmares é a absoluta ausência de líderes. Líderes verdadeiros. Homens cultos que se comprometam a elevar a fama histórica da cidade, independentemente de participação em agremiações políticas. União possui políticos rancorosos e padece por não possuir líderes no sentido amplo da palavra. As ambições pessoais se sobrepõem às verdadeiras causas sociais. A política que aí se faz parece ser a escória da política nacional. Não conheço nada parecido.

JMarcelo Fotos: Esse ano, os festejos de Santa Maria Madalena, que completou 179 anos, foi bastante criticado, já que as atrações artísticas não caíram no gosto popular, e as mesas no meio da praça geraram uma grande polêmica. Consequentemente, o número de pessoas foi pequeno. Você ficou sabendo disso? E qual sua opinião sobre?    

Não. Nada soube acerca disso. Lamento. A festa de Santa Maria Madalena era um evento que atrai multidões de outras partes do Estado. Acabaram com a cidade de forma ampla. Eles nos envergonham. Eles são sub-humanos. Eles não sabem liderar! A União que defendo é bastante diferente da que está aí!

JMarcelo Fotos: Você é escritor, médico e interagi muito bem na internet. Qual a importância da internet no seu trabalho. 

A internet é uma ferramenta poderosíssima nas mãos da sociedade, o que a faz ser uma faca de dos gumes. Usa-se para o bem ou para o mal. Sabendo usar é uma arma de divulgação e de ensinamento fantástica. Ela me tem permitido divulgar a minha obra de forma ampla e quase sem custo.

JMarcelo Fotos: Como é Paulino Vergetti em família?

Um homem simples, apaixonado pela vida e fazedor de amigos. A família é meu sustentáculo. Vejo em meus quatro netos os mais doces frutos que plantei um dia através de meus filhos, dois rebentos que tem me trazido muita felicidade. Sou um homem que vive para a Literatura e para a Medicina, nessa ordem de importância.

JMarcelo Fotos: Conterrâneo, muito obrigado pelo bate papo. Fique a vontade para se despedir dos seus amigos e leitores do blog. 

Deixo como espólio de minha mais lúcida vontade para meus conterrâneos, a poesia dos meus versos e a força dos enredos dos meus romances. Amo vocês, sem exceção. Um dia estaremos bem mais próximos do que hoje. União é o grande amor de minha vida. O solo que me acolheu de forma tão carinhosa. Foi aí onde vivi os perfumes e os sabores de minha infância.


Veja textos do escritor AQUI 

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