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domingo, 22 de junho de 2014

Quem disse que sou contra Zumbi?

Veio o 20 de novembro, dia da Consciência Negra, e muita gente me citou pra falar que Zumbi não merecia um feriado. Uma notinha no Zero Hora defendeu que talvez “a homenagem seja tremendamente injusta pois, segundo Leandro Narloch, Zumbi (ou, talvez, Zambi), era um tremendo mau-caráter, que capturava escravos nas fazendas vizinhas para trabalhos forçados no quilombo (…)”.
 
Preciso dizer: eu apoio a ideia do Dia da Consciência Negra e não tenho nada contra Zumbi. Digo no livro – e essa é uma das afirmações mais famosas do Guia – que Zumbi tinha escravos. A afirmação geralmente causa faniquitos na turma no Movimento Negro, mas é preciso entender o seguinte: não diminui Zumbi lembrar que ele provavelmente foi um rei negro com servos e escravos.

No século 17, época em que viveu, não era um crime nem um pecado ter gente. Zumbi praticava um ato aceito pela lei, pela religião, por séculos de uma tradição tão antiga quanto o Remador de Ben-Hur. Não devemos condená-lo com os valores de hoje – nem ele nem os outros senhores escravistas, brancos ou negros, da mesma época.

A escravidão influenciou tanto o Brasil que merece, sim, um feriado à sua memória – e Zumbi é um personagem essencial dessa história. Para atestar a importância do homem, basta lembrar os modos e delicadezas com que o rei português escreveu a ele, em 1685:

Eu El-Rei faço saber a vós Capitão Zumbi dos Palmares que hei por bem perdoar-vos de todos os excessos que haveis praticado (…), e que assim o faço por entender que vossa rebeldia teve razão nas maldades praticadas por alguns maus senhores em desobediência às minhas reais ordens. Convido-vos a assistir em qualquer estância que vos convier, com vossa mulher e vossos filhos, e todos os vossos capitães, livres de qualquer cativeiro ou sujeição, como meus leais e fiéis súditos, sob minha real proteção.

Minha critica não é contra Zumbi, mas contra o que se fez com a imagem dele. O mito ganhou, de alguns historiadores combatentes de décadas atrás, o retrato de um herói socialista, igualitário, camarada – carimbos que não existiam no século 16.  Também acho que a estratégia atual da maior parte do movimento negro (de exigir reparações históricas e discriminações positivas) divide o pais e causa um ressentimento (estúpido) contra os negros. Isso faz mal a Zumbi.  Ele fica limitado a ser um herói apenas do movimento negro – quando é um ícone de toda a história do Brasil.

Leandro Narloch,

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