Na tarde deste sábado (20), às 14h, na casa de Benoni Ferreira de Moraes, conhecido popularmente como "Seu Louro", no platô do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, alguns moradores se reuniram para repudiar certas acusações de intolerância religiosa e depredação de patrimônio cultural.
Inicialmente, para devidos esclarecimentos, serão abordadas as três situações que foram relacionadas diretamente e/ou indiretamente aos residentes do Parque Memorial Quilombo dos Palmares (maior complexo arquitetônico em inspiração da cultura afro-brasileira nas Américas e símbolo de luta contra a escravidão do Brasil): o lixo no acesso à Lagoa dos Negros, volume alto do som (home theater), e depredação de símbolo religioso (intolerância).
A primeira, recentemente, foi discutida em reunião do Comitê Gestor do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, onde questões de infraestrutura ao Parque foram abordadas, uma vez que se pretende fomentar o turismo da região (turismo étnico-cultural). Porém, após a ocasião, percebeu-se certo exagero e distorções de informações sobre o lixo por parte de integrantes e, como de praxe, moradores foram cogitados - sem qualquer defesa - como "pessoas que não preservam o ambiente turístico, ao ponto de turistas reclamarem e, por causa disso, prejudicarem outras visitas". Mas a realidade é outra: "Na verdade, o que ocorre aqui, é o quê? Eles colocaram lixeiros para os próprios moradores colocarem o lixo, com a garantia de que haveria um recolhimento desse lixo. O que é que ocorre? A gente coloca o lixo no determinado local, que foi determinado por eles mesmos, através dos lixeiros que colocaram, só que não está havendo essa coleta.", desabafa João Paulo, residente na Serra há mais de 30 anos. Para Rosa Maria, o descaso não é verídico, pois "quando vêm duas vezes por ano, é muito! Aí é um absurdo! Demoram muito e chega ao ponto que as lixeiras não suportam mais," critica. Pois é! Como se percebe, os moradores preservam o ambiente de sobrevivência e limpam o caminho que dá acesso à Lagoa dos Negros.
Outra situação, segundo tal integrante, foi a de que certa turista se surpreendeu e partiu revoltada do Parque pela falta de educação de um dos moradores da Serra. Ainda, segundo tal pessoa, pediu-se educadamente que alguém baixasse o volume do som de um "home theater", até porque se pretendia explicar certas informações histórico-culturais; porém, foi o contrário: aumentou-se o volume (tais informações não são verídicas). Para os moradores, a questão vai ao além do volume do som, pois têm certeza que isso acontece por causa da religião, porque são evangélicos e a religião deles (praticantes da religião afro) é outra. Ainda, segundo os moradores, tal turista chegou a reclamar o porquê de haver evangélicos na Serra, haja vista que, para ela, tal local simboliza apenas a religião de Matriz Africana. Como reclamo, os residentes expressam o seguinte: "A gente que somos residentes da Serra da Barriga não pode escutar um hino evangélico, porque incomoda. Agora, por que ninguém procura saber se incomoda os moradores? Chegam meio noite, onze horas da noite até duas horas da madrugada fazendo seus rituais (em alta voz) perto da casa do morador. E outra: o som dos moradores é fraco.", finalizam.
E, por último, foi a de que havia sido depredado um dos símbolos religioso-culturais, que fica no Parque.
Porém, segundo informações de moradores e trabalhadores da Serra, associaram diretamente tal depredação aos residentes do local. Mas, para Rosa, "Isso é uma calunia, até porque quem fez isso foram visitantes! Se alguém está falando isso, ele tem que ver para poder provar. A gente até hoje sempre respeitou religião, seja qual for. Que venha pra cá! Ao contrário de que, muitas vezes, não respeitam a nossa, porque a gente está vendo ali eles batendo tambor até altas horas, mas a gente nunca saiu de nossas casas para reclamar. Então, a gente quer também que tenha respeito que com a gente.", reclama. E "cada um tem suas crenças: crer no que quer e serve a religião que quiser. Mas de acusar a gente de uma coisa que a gente não fez, a gente poderia, por exemplo, até processar," conclui Paulo.
Em suma, como se percebe, ainda que não se demonstre diretamente, existe certo atrito no que diz respeito à religião.
Alguns, que não têm ou tiveram conhecimentos verdadeiros da história, carregam consigo certa ideologia de que no Quilombo dos Palmares só havia um tipo de religião ou raça; porém a formação se deu por negros, índios e brancos.
Sendo assim, todos foram livres para que escolhessem suas crenças e respeitassem quaisquer religiões existentes, até porque são descendentes da mesma nação: a dos quilombolas!
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