Em meu último post analisei os resultados de uma pesquisa
que conduzi para avaliar como os conceitos de BYOD (Bring Your Own
Device) e Cloud Computing estão impactando modelos educacionais e como
as escolas estão inserindo as novas tecnologias em processos de
aprendizagem colaborativa.
O texto gerou bastante polêmica e comentários de gestores e
professores nas redes sociais, em sua grande maioria favoráveis, e
alguns contrários, à adoção de equipamentos como smartphones e tablets
no dia a dia da sala de aula.
Um estudo
realizado pela London School of Economics divulgado em maio e que teve
repercussão na mídia no Brasil na semana passada ajudou a intensificar o
debate ao concluir que alunos das escolas britânicas que proibiram o
uso de celulares alcançaram notas até 14% melhores nas provas,
especialmente entre aqueles estudantes com conceitos mais baixos.
Intitulado “Tecnologia, distração e desempenho de estudantes”, entre
outros dados o estudo indicou que o banimento dos celulares resultou em
avaliações melhores principalmente entre os estudantes na faixa etária
de 7 a 11 anos com aproveitamento inferior a 60% nas provas, mas para os
demais, vale ressaltar, não promoveu nenhuma mudança.
Mas será que o problema da distração dos alunos está relacionado à
disponibilidade do celular ou à estratégia de ensino que não os engaja
mais na aprendizagem? Simplesmente ignorar que as novas tecnologias
estão aí e são parte da vida dos estudantes desde a primeira infância é o
melhor caminho?
Não seria mais alinhado com os novos tempos definir estratégias de
aprendizagem capazes de motivar e envolver os alunos ao invés de
coibi-los de usar ferramentas que oferecem inúmeros recursos
pedagógicos? Se nas aulas de Ciências no laboratório os alunos podem
usar o microscópio para ver uma célula, qual o motivo de proibir que
usem o celular na aula de Geografia para ver mapas, na aula de História
para ver vídeos ou na de Inglês para checar a pronúncia e a grafia de
uma palavra?
Para quem não está mergulhado no universo escolar e ainda não
despertou para o nascimento de uma nova geração de estudantes, proibir
parece ser a decisão mais fácil. Mas não necessariamente a mais sábia.
Está tramitando na Câmara dos Deputados um projeto de lei que poderá
vetar o uso de celulares nas salas de aula das escolas brasileiras. O
autor do projeto, deputado Alceu Moreira, argumenta que “permitir que os
alunos tenham contato com o celular durante a explicação é como
deixá-los conversar livremente”.
Este parece ser mesmo o maior pavor dos educadores: dar autonomia aos
alunos para que deixem de ser passivos e submissos para passarem a
buscar o próprio aprendizado, o que, dentro de uma visão deturpada,
significaria tirar totalmente a autoridade do professor, até aqui o
único detentor do conhecimento.
Sim, professores e professoras. Os senhores e senhoras não são mais
os donos da bola. Se quiserem ganhar este jogo terão que se despir das
vestes de mestres para assumir o papel de moderadores, participar e
orientar seus alunos em uma jornada de aprendizagem na qual o celular, o
tablet, o laptop, softwares e apps serão tão somente um recurso à
disposição como já são, há muito tempo, os livros didáticos, o globo
terrestre, os vídeos educacionais, o microscópio ou a argila nas aulas
de artes.
Se os celulares estivem disponíveis para que sejam utilizados
livremente, sem nenhuma orientação ou regra, a distração certamente
tomará conta da aula e os alunos perderão o foco do aprendizado. Agora,
se por outro lado os estudantes forem estimulados a transformar seus
próprios celulares em aliados do ensino, com normas claras de como serão
aplicados nos estudos, certamente suas performances poderão alcançar
resultados positivos, o que não se avalia simplesmente aplicando provas a
cada bimestre, mas acompanhando de forma contínua e personalizada a
evolução de cada aluno.
Para quem insiste em achar que esta ainda é uma realidade distante e
que o celular será um inimigo do aprendizado, deixando os alunos mais
distraídos e desconectados da sala de aula, sugiro que vasculhem os
milhares de aplicativos já disponíveis para Windows Phone, Android e iOs.
Seja qual for a disciplina, há muito o que explorar, como jogos,
editores de texto, ferramentas para produção de áudio e vídeo, objetos
de aprendizagem em 3D, livros digitais, dicionários e muitos outros
recursos para tornar as aulas mais divertidas e convidativas. Ou então
não reclame quando tentar dialogar com seus alunos e só der sinal de
ocupado.
Fonte: Exame.com
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