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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Alô, professor, sua aula é muito importante para nós

Em meu último post analisei os resultados de uma pesquisa que conduzi para avaliar como os conceitos de BYOD (Bring Your Own Device) e Cloud Computing estão impactando modelos educacionais e como as escolas estão inserindo as novas tecnologias em processos de aprendizagem colaborativa.

O texto gerou bastante polêmica e comentários de gestores e professores nas redes sociais, em sua grande maioria favoráveis, e alguns contrários, à adoção de equipamentos como smartphones e tablets no dia a dia da sala de aula.

Um estudo realizado pela London School of Economics divulgado em maio e que teve repercussão na mídia no Brasil na semana passada ajudou a intensificar o debate ao concluir que alunos das escolas britânicas que proibiram o uso de celulares alcançaram notas até 14% melhores nas provas, especialmente entre aqueles estudantes com conceitos mais baixos.

Intitulado “Tecnologia, distração e desempenho de estudantes”, entre outros dados o estudo indicou que o banimento dos celulares resultou em avaliações melhores principalmente entre os estudantes na faixa etária de 7 a 11 anos com aproveitamento inferior a 60% nas provas, mas para os demais, vale ressaltar, não promoveu nenhuma mudança.

Mas será que o problema da distração dos alunos está relacionado à disponibilidade do celular ou à estratégia de ensino que não os engaja mais na aprendizagem? Simplesmente ignorar que as novas tecnologias estão aí e são parte da vida dos estudantes desde a primeira infância é o melhor caminho?

Não seria mais alinhado com os novos tempos definir estratégias de aprendizagem capazes de motivar e envolver os alunos ao invés de coibi-los de usar ferramentas que oferecem inúmeros recursos pedagógicos? Se nas aulas de Ciências no laboratório os alunos podem usar o microscópio para ver uma célula, qual o motivo de proibir que usem o celular na aula de Geografia para ver mapas, na aula de História para ver vídeos ou na de Inglês para checar a pronúncia e a grafia de uma palavra?

Para quem não está mergulhado no universo escolar e ainda não despertou para o nascimento de uma nova geração de estudantes, proibir parece ser a decisão mais fácil. Mas não necessariamente a mais sábia. Está tramitando na Câmara dos Deputados um projeto de lei que poderá vetar o uso de celulares nas salas de aula das escolas brasileiras. O autor do projeto, deputado Alceu Moreira, argumenta que “permitir que os alunos tenham contato com o celular durante a explicação é como deixá-los conversar livremente”.

Este parece ser mesmo o maior pavor dos educadores: dar autonomia aos alunos para que deixem de ser passivos e submissos para passarem a buscar o próprio aprendizado, o que, dentro de uma visão deturpada, significaria tirar totalmente a autoridade do professor, até aqui o único detentor do conhecimento.

Sim, professores e professoras. Os senhores e senhoras não são mais os donos da bola. Se quiserem ganhar este jogo terão que se despir das vestes de mestres para assumir o papel de moderadores, participar e orientar seus alunos em uma jornada de aprendizagem na qual o celular, o tablet, o laptop, softwares e apps serão tão somente um recurso à disposição como já são, há muito tempo, os livros didáticos, o globo terrestre, os vídeos educacionais, o microscópio ou a argila nas aulas de artes.

Se os celulares estivem disponíveis para que sejam utilizados livremente, sem nenhuma orientação ou regra, a distração certamente tomará conta da aula e os alunos perderão o foco do aprendizado. Agora, se por outro lado os estudantes forem estimulados a transformar seus próprios celulares em aliados do ensino, com normas claras de como serão aplicados nos estudos, certamente suas performances poderão alcançar resultados positivos, o que não se avalia simplesmente aplicando provas a cada bimestre, mas acompanhando de forma contínua e personalizada a evolução de cada aluno.

Para quem insiste em achar que esta ainda é uma realidade distante e que o celular será um inimigo do aprendizado, deixando os alunos mais distraídos e desconectados da sala de aula, sugiro que vasculhem os milhares de aplicativos já disponíveis para Windows Phone, Android e iOs.

Seja qual for a disciplina, há muito o que explorar, como jogos, editores de texto, ferramentas para produção de áudio e vídeo, objetos de aprendizagem em 3D, livros digitais, dicionários e muitos outros recursos para tornar as aulas mais divertidas e convidativas. Ou então não reclame quando tentar dialogar com seus alunos e só der sinal de ocupado.

Fonte: Exame.com

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