Nos últimos dias, a população de
União dos Palmares discutiu intensamente a proposta de complementar ou não a discussão
sobre Identidade de Gênero nas escolas públicas do município.
O debate ganhou grandes proporções
devido ao conservadorismo religioso e as informações ignorantes da imprensa
local. Desta forma, o debate que deveria transcorrer sobre propostas para
garantir a qualidade no ensino público, travou neste tema e dividiu a sociedade
palmarina.
Nesta divisão, um lado não concorda que seja discutida Identidade de
Gênero nas escolas públicas, porque isso ensinaria as crianças a serem
homossexuais; o outro lado defende que se discuta “Ideologia de Gênero” nas
escolas públicas; porque ensinará as crianças a respeitar a diversidade sexual.
Porém, ambos os lados terminam caindo numa discussão moralista sobre o assunto e se
esquecem de discutir outros problemas muito maiores que realmente ameaçam a
educação pública na atualidade.
A educação pública da “Pátria
Educadora”
A atual gerente de turno, Dilma
Roussef, prometeu mundos e fundos antes do circo eleitoral para logo em seguida
cometer diversos ataques aos direitos do povo brasileiro. Com o slogan debochado de “Pátria Educadora”,
iniciou seu novo mandato cortando 7 Bilhões de reais das verbas destinadas a
educação pública. O resultado deste crime está presente por todos os cantos do
país; fechamento de escolas e universidades, falta professores, falta
assistência estudantil, etc. Mas, o povo tem lutado com unhas e dentes pelo
direito de estudar e aprender com qualidade, explodem greves, ocupações,
manifestações e diversas lutas combativas.
PNE e PME; democráticos pra quem?
Desde os debates para construir o
Plano Nacional de Educação (PNE), que vários educadores e demais estudantes em
licenciatura já denunciavam o caráter anti-democrático de suas reuniões e
audiências públicas. Estas aconteciam de forma consultivas e não deliberativas,
ou seja, o povo era convidado a expor suas opiniões mas no fim não decidiam
nada. A cena se repete nas discussões do Plano Municipal Educacional (PME) e
mais uma vez o povo é feito de palhaço por aqueles que dizem representar seus
interesses.
Moralismo contra moralismo
Alguns discordaram da aprovação do
PME por razões religiosas, outros por causa da revolta política contra o PT e
também os que sentem fobia de pessoas homossexuais. Este Plano está longe de
corresponder as reais necessidades da educação pública, mesmo sendo muito ruim,
a discussão sobre Identidade de Gênero não é a única pauta dentro deste.
Aprovar o PME por que concorda que
se discuta sobre Identidade de Gênero nas escolas públicas é uma decisão
contraditória, não menos ignorante e moralista do que a dos conservadores
religiosos. Neste caso também está se observando apenas um ponto de todo o
Plano.
Acredito que é justo ser contra a
aprovação e a aplicação do PME, do PNE também, não por uma questão moralista,
por causa de sua construção anti-democrática, que desvaloriza o professor, sucateia
as escolas e universidades públicas para favorecer o setor privado de ensino.
Sobre as escolas
As escolas servem para apresentar o
mundo, da forma que ele existe materialmente e cientificamente. A moral que a
escola deve ensinar é a do respeito mútuo entre as pessoas. Se a criança ou o
jovem seguirá estes ensinamentos, dependerá das experiências de vida
proporcionadas por aqueles que vivem próximo a eles, amigos e familiares.
As escolas não podem obrigar as
pessoas a ser o que elas não querem. A escola apresenta diversos caminhos
dentro da sociedade, qual caminho cada estudante seguirá é uma decisão muito
particular. Discutir sobre o respeito a mulher, ao negro, ao índio, ao
religioso, ao ateu e a diversidade sexual é uma prática legitima e necessária
dentro das escolas públicas.
A forma que muitos se metem no
debate sobre Identidade de Gênero, com total ignorância sobre o assunto e
carregados de moralismos, só reforça que a educação pública vive uma situação
de crise. Talvez, se tivéssemos uma educação pública de qualidade não existissem
tantos ataques pessoais e argumentos moralistas ou falsos moralistas.
Luta de classes, Ideologia e
Identidade
Na sociedade palmarina, existe uma
divisão histórica, que divide a humanidade desde do surgimento da propriedade
privada (isso aprendi nas escolas), é a luta de classes. Inclusive, União dos
Palmares é conhecida internacionalmente devido a uma histórica luta de classes,
entre escravos negros e senhores de engenho. A luta de classes se manifesta em
diversos setores da sociedade; campo, cidade, escolas, universidades, etc.
Enquanto existir exploração do homem pelo homem haverá luta de classes.
Ideologia é o conjunto de ideias
que uma pessoa ou um grupo adota como resposta para explicar diversas formas de
viver. No caso de uma pessoa que se identifica em ser outro gênero que não seja
o que originalmente nasceu, não é uma escolha é uma necessidade fisiológica e
afetiva (a biologia explica). Religião é uma ideologia, porque é um conjunto de
ideias que alguém escolhe viver. A homossexualidade ou a heterossexualidade é
algo natural, anormal é avaliar as pessoas pela forma como elas se satisfazem
sexualmente e não pelo papel social que elas cumprem.
Identidade é o conjunto de
características que uma pessoa ou um grupo assumem por necessidade de existir.
Existem diversos tipos de identidades; culturais, regionais e até de gênero.
Apesar de cientificamente só existirem dois sexos (masculino e feminino),
existem casos de pessoas que nascem com um gênero e se identificam com o
oposto. Existem também os casos de pessoas que escondem sua identidade sexual e
as vezes perseguem quem tem coragem de se assumir.
Ser homem e ser mulher é uma
construção social, escola e família fazem parte desta construção. A escola
apresenta ideologias e toda família tem sua identidade. Assim, não vai ser
incubando ignorância nas crianças que teremos um futuro melhor, teremos apenas
mais uma geração de ignorantes.
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