Faz sentido, até o ensino médio, gastarmos tanto tempo memorizando a
tabela periódica, aprofundando-se em conceitos de análise sintática,
decorando nomes de rios, montanhas e cidades da China, dentre outras
informações que serão "deletadas" de nosso cérebro logo depois da
famigerada prova?
A maior contradição não está em utilizar esse tempo para acumular
essas informações pouco práticas sob o ultrapassado pretexto da
importância dos conhecimentos gerais, mas, sim, em não utilizar todo
esse tempo para estudar o que de fato faria mais sentido para a vida das
pessoas.
Por exemplo, até o final do ensino médio, considero que todos os
alunos deveriam aprender, com aulas semanais durante todo o ano, sobre
esses assuntos abaixo:
1. Direito do consumidor - Saber sobre seus direitos
não é exclusividade de um advogado. Uma sociedade que sabe sobre seus
direitos não será ludibriada e se tornará um regulador orgânico das
práticas utilizadas no mercado.
2. Educação financeira - Será possível mensurar o
tamanho da importância para uma pessoa saber administrar seu dinheiro?
Saber investir seus recursos? Saber se comportar diante de seus
instintos consumistas? Educação financeira deveria ser ensinada desde o
jardim da infância.
3. Primeiros socorros - Conhecimentos sobre o assunto podem salvar vidas a qualquer momento e em qualquer lugar.
4. Oratória - Falar em público é um fantasma para
muitos, mas isso não precisava ser assim. Oratória é uma questão de
treino, de prática que não se adquire aleatoriamente em apresentações
eventuais de trabalhos. Oratória se aprende com técnicas e prática.
Adultos penam em sua vida porque desperdiçaram seu tempo por não
aprenderem o que de fato seria útil para sua vida.
5. Inteligência emocional - Mais importante do que
os problemas inevitáveis da vida, é como reagimos a eles. Em geral, a
população é analfabeta emocional, ficando refém de sua ansiedade e
fragilidades, das quais se acostumou a ficar refém. Desenvolver
mecanismos e ferramentas de gestão das emoções é fundamental para se
tornar um profissional bem sucedido, um empreendedor de sucesso e um pai
ou mãe equilibrados.
6. Produtividade - Porque países com a Alemanha têm
uma carga de trabalho menor que a brasileira e produzem mais? Não é por
acaso. Há processos, cultura produtiva e foco. De novo, isso não é uma
coincidência, mas sim resultado de técnicas e uma cultura produtiva.
7. Assistência social - Assistência social no Brasil
é logo associada a programas governamentais ou de ONGs específicas. No
entanto, a consciência social é algo que pode ser ensinada desde cedo.
Cargas horárias de trabalhos voluntários em programas sociais, seja em
comunidades carentes, hospitais, asilos, dentre outros projetos, deveria
fazer parte da formação dos jovens brasileiros. Como seria a sociedade
se todos os alunos, até o final do ensino médio, aprendessem sobre esses
temas que estão muito mais relacionados ao nosso estilo de vida atual?
Aprisionamos nossas crianças em salas quadradas, cubículos onde eles
se sentam enfileirados para receber de forma passiva um conteúdo vindo
muitas vezes de um professor desmotivado, mal pago e, frequentemente,
frustrado, sustentado apenas pelo seu ideal já cansado e sem esperança,
questionando a vida e estressado com crianças e adolescentes a cada dia
mais de saco cheio desse modelo.
Se a criança é questionadora e não tem paciência para esse modelo
longe de sua realidade, a moda agora é considerá-la doente, com TDAH, e
recomendar que a criança seja drogada com Ritalina. O Brasil já é o
segundo consumidor dessa droga no mundo.
Há alguns dias, postei um conselho que dei a meu filho falando sobre o
que penso sobre a universidade. O post foi lido por quase 1 milhão de
pessoas e dezenas de milhares delas curtiram ou interagiram com o
conteúdo de acordo com os relatórios. Mas ainda me impressiono como
muitos ficam presos. Na verdade, agarrados a esse modelo falido e ainda
tentam defender, na verdade, porque têm medo de descartá-lo, pois
depositaram toda a sua esperança no conto de que a escola é sinônimo de
educação. O principal papel de um pai é educar seu filho apesar da
escola, apesar dos meios de comunicação e apesar do senso comum que
alimenta esse sistema medíocre.
Pense em tudo que escrevi acima, mas, acima de tudo, saiba que você é
responsável por sua educação e não a escola ou a universidade. Não
delegue isso para ninguém.
Estude muito, mas muito mesmo, muito mais do que o pessoal que se
alimenta passivamente do que é despejado em seu cérebro diariamente nos
bancos das universidades, mas não necessariamente pelas vias formais,
porque essas são superficiais e muitas vezes fora da realidade.
Sobre o que você vai fazer em sua vida, meu conselho é: seja feliz.
Mas saiba que ser empregado não é a sua única alternativa. Você pode ser
atleta, artista, músico, político, filantropo, empreendedor, ou seja,
você pode ser o que quiser e não somente alguém que vai sair de casa às
7h da manhã e chegar todos os dias à noite em troca de um salário no
final do mês.
A escola/universidade tem que preparar para a vida e não dar uma
preparação superficial para se arrumar um emprego, seguindo a antiga
mentalidade industrial. Pessoas preparadas para a vida têm muito mais
chances de serem melhores profissionais e quem sabe se tornarem até
donas de seu próprio negócio. Mas, acima de tudo, elas têm muito mais
chances de serem felizes.
Fonte: Administradores
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