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sábado, 2 de janeiro de 2016

Analisar o ano que passou e se preparar para o próximo é um hábito benéfico para a saúde emocional e física

Geralmente no final de um ano completa-se um ciclo, e naturalmente ficamos felizes por termos vencido mais uma etapa e temos "esperança" que o próximo ano nos reserve sempre dias melhores. Essa expectativa de felicidade foi construída desde o homem primitivo com a finalidade de aumentar nossas chances de sobreviver. Os rituais de final de um ciclo, ou de final de ano, são muito antigos na história humana. O nosso cérebro tem processos automáticos que rejeitam o sofrimento de dor e buscam o prazer. Nos sentirmos felizes ou termos tal expectativa faz com que depositemos esse desejo no próximo ciclo. Segundo disse o psicólogo e escritor americano Robert Wright, num artigo escrito para a revista Time: "As leis que governam a felicidade não foram desenhadas para nosso bem-estar psicológico, mas para aumentar as chances de sobrevivência dos nossos genes a longo prazo". Logo, o final de ano é um destes momentos de reforço da alegria e de reforço da esperança. 

No final de um ciclo geralmente fazemos um "fechamento de contas", um "balanço", daquilo que nos havíamos proposto e não conseguimos, o que queríamos e não alcançamos, o que tínhamos e perdemos - inclusive entes queridos. Então, devido a diversos motivos, nesta época também existe uma cobrança excessiva, acompanhada de frustração e sensação de fracasso. Há muitos que se sentem solitários, angustiados, deprimidos e com uma falsa sensação de que todos demais estão felizes. Além disso, este "clima artificial" de alegria exagerada no final do ano pode ser extremamente enganoso e é em grande parte criado pela sociedade de consumo. Comemorações, festas nas empresas, festas com amigos, festa com parentes, presentes e presentes, viagens, gastos... Deixar-se levar por este clima de alegria artificial não é saudável.

Não leve um saldo negativo para o próximo ano

Recomendo a meus pacientes para não acumularem assuntos não resolvidos deixando-os para um outro momento. Temos que tentar resolver as dificuldades a cada dia, pois se não o fizermos corremos o risco de no final do ano eles pesarem muito mais na balança que os assuntos bem resolvidos. 

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Os planos que não deram certo devem ser revistos de maneira tranquila, com o objetivo de identificar as falhas e não de se culpar. Uma vez identificadas as falhas, busque uma solução, que pode ser inclusive um pedido de ajuda para outra pessoa ou para um grupo, ou, até mesmo, a modificação do objetivo original.

Permita-se ser feliz, independente da época do ano

É muito comum que as pessoas se façam perguntas ao refletir sobre o ano que passou. Acredito que não é possível montar um roteiro de como deve ser esse questionamento interior, pois esta é uma questão muito pessoal. Mas creio ser importante que ela pergunte para si mesma se conseguiu ser feliz. 

Um caminho para uma reflexão honesta de fim de ano, assim como os planos para o próximo período, é procurar ser feliz não só nesta época de fim de ano, mas sempre. A pesquisa interior que cada indivíduo pode e deve fazer para buscar ser feliz, e para tal primeiramente consigo próprio, com os que o rodeiam, trabalhando as perdas e dificuldades e transformando-as em lições e crescimento pessoal. 

Mas, atenção, é importante não ter a presunção de querer definir o que é felicidade. Gosto da ideia compartilhada por alguns pesquisadores que colocam a felicidade como a soma de três pilares: prazer, envolvimento e significado. Vamos analisar um pouco melhor estes três pontos: 

Prazer: pode parecer simplista analisar o prazer, mas ele tem diversas dimensões. A primeira lembrança que normalmente se evoca em relação ao prazer se relaciona ao prazer físico, ligado à satisfação dos instintos. Algumas pessoas, inclusive, priorizam até doentiamente esta forma de prazer - que não é somente o sexual. Contudo, existem outras dimensões do prazer, pois não somos somente um "hominis natura", ou seja, não somos somente instinto. O prazer também tem outras dimensões, como a dimensão afetiva demonstrada no afeto ou no amor aos filhos, afeto ao companheiro(a), afeto aos necessitados (que é um amor altruísta) etc. 

Envolvimento: esse conceito seria o equivalente a "participar intensamente de determinado objetivo". Há pessoas que apresentam uma facilidade natural em se envolverem ou "darem tudo de si" em determinada ou até mesmo em qualquer atividade. Vivem de uma maneira extremamente intensa empenhando uma energia que parece ser inesgotável. Sobre este assunto, a pesquisadora I. Pollard estudou a atividade cerebral de monges em estado de meditação através de Pet Scan e verificou que áreas cerebrais específicas se tornavam iluminadas ao Scan quando os Monges atingiam o estado de Bondade Universal ou Alegria Plena, que é o que eles estavam buscando. Neste estado eles estão tão absortos que não percebem o mundo exterior e perdem a noção de tempo. Este estado também pode ocorrer de maneira menos intensa nas situações de grande envolvimento, e mesmo em situações comuns como tocar um instrumento, pintar um quadro, realizar uma pesquisa científica e fazer uma oração. 

Significado: desde os tempos antigos, o ser humano procura através da religião respostas para o significado da existência. Segundo o sociólogo e filósofo francês David E. Durkheim, no homem primitivo havia uma noção não muito precisa de que existia algo superior à individualidade. Esta coisa seria a força da sociedade anterior, que sobrevivia e à qual, sem saber, rendiam culto. Se o termo for tomado num sentido amplo, pode-se compreender que esta força era o deus adorado em cada culto totêmico. Posteriormente a noção primitiva, a concepção de divindade evolui com a própria evolução do ser humano chegando-se às Cosmovisões atuais oferecidas pelas principais religiões. Mas a religião oferece muito mais do que respostas quanto ao significado da existência. Diversas pesquisas demonstram o poder benéfico da religião na vida das pessoas, como um estudo publicado por Jeff Levin, um epidemiologista da religião, que apresentou os seguintes resultados: as pessoas que assistem regularmente a serviços religiosos têm taxas mais baixas de doenças e de mortalidade do que aquelas que não frequentam regularmente esses serviços ou que não os assistem e as pessoas que relatam uma afiliação religiosa apresentam taxas mais baixas de doenças cardíacas, câncer e hipertensão, que são as três principais causas de morte nos Estados Unidos. 

O significado da vida pode também ser buscado por outros caminhos. O filósofo alemão Martin Heidegger enfatiza o processo ou mecanismo de "afastar-se de si próprio", que é feito imperceptivelmente quando somos contaminados em nossa essência por valores, verdades, desejos e necessidades que não são nossos, e em determinado momento não conseguimos mais nos reconhecer e perdemos o nosso significado. Este mecanismo, infelizmente, é muito utilizado na sociedade de consumo atual. O psiquiatra e psicanalista Carl Gustav Jung, que fundou a psicologia analítica, nos aponta outro caminho, o de nos "apoderarmos de nós mesmos", nos tornarmos pessoa. Naturalmente não utilizei os termos filosóficos em Heidegger, nem os psicoanalíticos em Jung, apenas quis transmitir a ideia de buscarmos sempre a nós mesmos, termos um encontro feliz conosco.

Tente encontrar um equilíbrio

A mensagem que deixo para o início de ano, é o desejo que alcancem o equilíbrio destes três pontos: o prazer que não escraviza, ao contrário delicia; o envolvimento que não esgota, mas energiza; e o significado da existência que nos tira das trevas, e como a luz nos ilumina o caminho.

Fonte: Dr. Persio Ribeiro Gomes de Deus Psiquiatria - CRM 31656/SP

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