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sexta-feira, 4 de março de 2016

Editorial: Sobre inferno na política e política infernal

Como decisões judiciais contra gestores suspeitos ampliaram o poder destrutivo das crises políticas 

Reportagem de capa desta edição do CadaMinuto Press expõe em detalhes um dos mais graves exemplos do poder destrutivo que as situações de instabilidade política vêm impondo a milhares de alagoanos em 12 municípios. Causada por uma enxurrada de atos ilegais denunciados às autoridades, uma série de afastamentos de prefeitos de seus mandatos está desmantelando serviços públicos já prejudicados pela crise política e econômica nacional.

Gestores afastados tratam do assunto como vítimas de adversários políticos. E integrantes do Judiciário e do Ministério Público alegam que aplicam a lei para evitar maiores danos ao interesse comum dos cidadãos. Mas somente quem vive no centro desse purgatório sabe o quanto sofre com as sucessivas mudanças de gestores, sem soluções definitivas ou realmente justas.

É catastrófica a realidade política de União dos Palmares, narrada pela jornalista Candice Almeida com o auxílio de vozes de diferentes frentes políticas do município. As cinco trocas de prefeito desde outubro somente ampliaram, nas gestões atuais, o caos de administrações passadas, comprometidas com coronéis regionais e com a prática de ilegalidades.

Com base na diferença entre a prática e os discursos desses gestores alvos de decisões judiciais, não é muito apropriado assegurar que há alguma perseguição da Justiça. Pelo contrário, a perseguição flagrante é contra os direitos dos cidadãos e eleitores, seja em União dos Palmares ou em Rio Largo, Limoeiro de Anadia, Tanque D’Arca, Japaratinga, Atalaia, Piranhas, Viçosa, São Luiz do Quitunde, Campo Grande, Coqueiro Seco ou Joaquim Gomes.

Porque todos os afastamentos partiram de fatos, suspeitas de irregularidades minimamente providas de indícios de provas. Cabe a crítica à contaminação da Justiça e do Ministério Público pelos embates políticos? Talvez. Mas o líquido e certo é o alto preço de se ter gestores sem a menor habilidade para cumprir compromissos com o povo carente de Alagoas.

Como o leitor vai ver nas próximas páginas, há quatro meses que não chega remédio em União dos Palmares, por falta de pagamento aos fornecedores.

Em 2012, o prefeito palmarino afastado, Beto Baía (PSD), derrubou um dos últimos donatários de currais eleitorais de Alagoas, o ex-governador Manoel Gomes de Barros. Porém, novamente substituído pelo vice Eduardo Pedroza, e de mãos dadas com Mano, Beto Baía desabafou para a reportagem: “Conheci o inferno ao entrar na política, o sonho se tornou pesadelo”.

Poderia a população responder aos “prefeitos” de União e aos demais gestores que se revezam na destruição dos serviços públicos: “Pior foi conhecer a política infernal implantada por quem prometia ao eleitor que transformaria o pesadelo em sonho, há quatro anos”.

Porém, o povo, infelizmente, parece não mais ter força nem coragem para reagir contra tais desmandos. Só resta ao eleitor guardar na memória a lista dos irresponsáveis que firmaram acordos políticos alheios às necessidades da população, para bani-los da vida pública, enquanto o Judiciário não conseguir definir o sentido de justiça.

Este editorital está publicado na Edição nº 121 do jornal CadaMinuto Press, nas bancas desde a manhã desta sexta-feira (4),

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