Com esta frase a filha de uma grande amiga minha arrumou-me a um
canto de onde dificilmente sairei ilesa. Tem 9 anos e já percebeu o que
muitos de nós levamos uma vida inteira para perceber: a importância de
sermos felizes naquilo que fazemos.
Aqui a questão está contextualizada na classe docente. Quem serão os
melhores professores? Serão esses os mais felizes? O que define um bom
professor? Os doutorados, ou seja, os mais preparados científica e
pedagogicamente? Os que passam o seu tempo a procurar e a otimizar
recursos e estratégias, mesmo depois das aulas ou os que apenas seguem
as orientações curriculares e os programas já definidos? Os que atribuem
às suas próprias práticas o sucesso ou insucesso dos alunos ou os que
acreditam que já fazem o suficiente? Os que se importam ou os outros?
Desengane-se quem equacionar que teço críticas à classe docente, pois
eu também faço parte dela, contudo, não posso deixar de considerar tão
profundo pensamento de uma criança sobre felicidade docente e a forma
como é absorvida pelos seus alunos.
Mas como definimos nós as qualidades no “bom professor”? Todos
sabemos que as representações sociais da classe docente atravessam o
pior período de que temos memória, não sendo a minha tão curta, pois já
lá vão 24 anos a percorrer escolas de norte a sul, num país tão
incrivelmente homogêneo em cultura educativa. O que vi e vivi pode ser
assustar, mas é de facto digno de alguma reflexão. Parece ter-se tornado
moda atacar a classe docente: ou porque ganham bem (o que é penosamente
falso) ou porque têm demasiadas férias (os índices de stress e burnout
docente crescem a uma velocidade preocupante, mas não se para para
percebe porquê, não é?!!!), ou porque não têm formação… na verdade há
sempre um bom motivo, embora absurdo, mas é sempre um bom motivo para
atira à frágil vidraça da atividade docente!
E como se não bastasse, ser professor, ser “bom professor” é uma sina
bem maior: ou é porque é exigente; ou porque é demasiado dinâmico e
pratica a gestão flexível do currículo (o que não pode acontecer, pois o
programa está lá para ser dado, da mesma forma de há 30 anos a esta
parte, como diria Formosinho – tipo “pronto a vestir de tamanho único”);
ou porque é demasiado reflexivo (a vida é para ser vivida – sem stress –
se os putos não aprendem, o problema é deles, certo?).
Por muito felizes que os professores possam querer ser no exercício das suas funções, não me parece que tenham um caminho fácil.
Atacados muitas vezes pelos próprios pares, os bons professores
destacam-se contrariando a inércia pedagógica que por aí impera.
Espicaçavam consciências, levam os alunos e as famílias a envolverem-se.
Estragam a média. Como é possível que só naquela disciplina os alunos
não faltem, os pais participem, os alunos com Necessidades Educativas
Especiais (NEE) evoluam. São uma aberração! Uns freaks. Há que os combater.
Lembro um episódio em que uma “boa professora” (de Educação Especial)
foi chamada à Direção da Escola, para receber (não, não um louvor,) uma
reprimenda: “tinha de entender que as colegas não tinham a sua energia,
nem a sua vida”. De facto, quem era esta docente para as incentivar a
trabalhar com os alunos com NEE, era o que faltava! “Senhora professora
tenha lá cuidado porque as suas colegas estão já à beira da reforma
(pelo menos dali 10 anos) e querem uma vida calma e não uma pessoa na
sala de aula a dar-lhes trabalho. Era o que faltava, entende?”.
Entendemos todos e muito bem! Tal como entendemos por que é que alguns professores preferem ser só felizes.
Ainda assim, dita-me a carolice que continue a acreditar que ser
feliz na docência é vive-la com paixão e determinação, o que por si só
transforma os professores, nos melhores professores e estes nos mais
felizes.
Um forte abraço aos bons professores e que apesar de tudo isto
continuem a ser muito felizes, pois só mostra que amam e dignificam a
profissão que escolheram! O resto são peanuts.
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