No outro dia conheci uma rapariga que estava no 10.º ano e que se mostrava desapontada por não ser uma boa aluna
Falar de Educação, em Portugal, é um desafio questionante e polêmico.
Falar de Educação inclusiva ou de um sistema educativo inclusivo é um
desafio ainda mais questionar e polêmico porque implica mudanças conceituais e estruturais. Em ambos os casos faço-o com base em 15 anos
de experiência e após o fim de um ciclo de três anos de estudos no
Ensino Superior e porque considero que é essencial que os alunos
estejam, cada vez mais, envolvidos no debate sobre a Educação.
Num mundo em constante transformação e que se revela com desafios e
problemas cada vez mais complexos, assistimos, hoje, a uma cada vez
maior padronização do ensino, num sistema que tem sido praticamente
transversal ao longo de muitos anos e no qual sinto que não se promovem
verdadeiramente competências como a criatividade, a resiliência ou a
autonomia (relativamente a este ponto importa considerar que o Processo
de Bolonha veio, na minha perspectiva, tentar melhorar esta questão), o
que se repercutirá no futuro dos alunos e, diria, do país.
Acresce que os alunos não são estimulados a pensar sobre as coisas e a
desenvolver a sua opinião, temos um sistema ainda muito orientado para a
exposição e consequente memorização de conteúdos, e o próprio sistema
de avaliação é reflexo disso. Não é estranho quando um professor
pergunta, numa das minhas primeiras aulas na faculdade, qual a nossa
opinião sobre determinado tema e a turma fica paralisada e em silêncio,
por não estarem habituados a ser questionados sobre as coisas?
É neste raciocínio que me questiono quando, senso comum, se considera
que os bons alunos, ou os “alunos de mérito”, são os que apresentam as
melhores médias. Ainda esta semana que passou, e em época de início de
aulas, foram várias as revistas que dedicaram temas centrais das suas
edições a entrevistas com alunos com as melhores médias por todo o país.
É certo que esta é uma componente vital na vida de um aluno e até no
seu futuro escolar e revela também um excelente domínio de competências
que vão desde a organização à memorização dos conteúdos, mas, enquanto
não entendermos o sistema de uma forma mais ampla e inclusiva, não
atingiremos o progresso desejado.
No outro dia conheci uma rapariga que estava no 10.º ano e que se
mostrava desapontada por não ser uma boa aluna. Tinha média de 14 e
meio, mas em contrapartida tocava numa banda filarmónica, dava aulas de
música na banda, fazia ginástica competitiva e ainda cuidava da irmã
quando a mãe estava ausente, mas sentia que o sistema não a valorizava
nem estava orientado para todos…
Depois, importa falar ainda da inclusão e abordar as condicionantes
que existem e que influenciam inevitavelmente o sucesso escolar de um
aluno. Neste ponto recordo um recente estudo que afirma que nove em cada
dez alunos que chumbam provêm de famílias carenciadas, outro que indica que os alunos imigrantes piores notas —
mas curiosamente mais ambição, que assim devia ser potenciada, e mais
recentemente, a reportagem da RTP que espelha ainda a realidade de
inúmeras crianças que têm de percorrer vários quilômetros para chegar à
escola e muitas vezes fazer longos percursos a pé até ao transporte.
Fica a pergunta no ar, O que é, afinal, ser um bom aluno?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar!
Continue nos visitando!