Sempre deslumbrado com as elegâncias da Apple, eu torcia o nariz para Bill Gates, com suas máquinas feias e complicadas.
Ele, no entanto, largou a empresa e passou a dedicar-se à filantropia,
mirando a saúde e a educação. Trouxe sua inteligência e os dividendos da
Microsoft para decifrar grandes problemas e ajudar a resolvê-los.
Fiz as pazes com ele. Virei seu fã. Na educação, tenta entender o que faz um bom professor, assunto crítico, mas nebuloso e espinhento. Sua fundação montou uma grande pesquisa, e começam a sair resultados interessantes.
Naturalmente, como não é o único fuçando esses territórios, há muitos achados convergentes. Uma das conclusões compartilhadas é a identificação dos fatores que não se associam a um nível superior de aprendizado dos alunos.
São os chamados resultados negativos, muito importantes, pois limpam a área. A idade e a experiência do professor têm pouco a ver com o aprendizado do aluno. O nível de escolaridade tampouco se associa ao tanto que aprendem os estudantes (é óbvio, atrapalha se o professor é semianalfabeto).
Em particular, mestres e doutores não trazem mais rendimento. No geral, cursos de reciclagem são perfeitamente inócuos. O sacrossanto princípio de reduzir o tamanho das turmas tem uma consequência previsível: aumenta os custos. Mas, exceto em situações particulares, não melhora a qualidade.
Abandonando esses falsos caminhos, a pesquisa da Fundação Gates encontrou um veio promissor: como os professores dão as suas aulas? A Universidade Positivo inspirou-se nos seus estudos, adaptou os seus métodos e os está replicando no Brasil.
Os primeiros resultados da versão brasileira começam a pipocar e foram apresentados em um ensaio do presente autor e de Márcia Sebastiani. Como funciona a pesquisa? Professores são treinados para observar as aulas de outros professores.
Ao assistirem a elas, vão anotando como os professores observados se desincumbem, dentro de uma coleção de itens considerados relevantes. Dão notas ao seu desempenho em cada item. Em paralelo, os estudantes recebem um questionário, no qual avaliam o desempenho dos seus professores, segundo critérios parecidos.
No fim do ano, é aplicado um teste semelhante à Prova Brasil e ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Mede-se assim quanto aprenderam os alunos nesse período. A hipótese: as práticas do professor na aula, anotadas pelos observadores, são relevantes para determinar quanto aprendem os estudantes.
Se isso for correto, os professores com escores maiores no questionário de observação terão alunos com melhor rendimento acadêmico. Igualmente, terão notas maiores no teste os professores identificados pelos estudantes como os que aplicam as regras e práticas consideradas corretas. A pesquisa confirma as hipóteses.
Professores mais bem avaliados, seja pelos seus alunos, seja pelos observadores, têm turmas com melhor desempenho. Do ponto de vista estatístico, são associações particularmente robustas. A pesquisa do Positivo mostra o êxito do professor que adota certas práticas.
Ou seja, não interessa a quantidade de diplomas que ele tem, se leu os livros de Piaget ou Vygotsky, há quanto tempo dá aula ou quantos cursinhos completou. O que conta é se aprendeu e usa nas suas aulas as técnicas eficazes.
Por exemplo, passar deveres para casa inteligentes, corrigi-los e depois dar feedback ao aluno. Ou então explicar, insistir, repetir, até que ele aprenda. Não se trata de um interrogatório para castigar os perdedores. Pelo contrário, a pesquisa permite a identificação cirúrgica do que o professor faz certo ou errado na sala de aula. E aponta intervenções simples.
Se não ensinaram ao professor valer-se desta ou daquela técnica, ainda está em tempo de aprender. De fato, o Positivo está preparando material para corrigir as lacunas dos professores, atento ao que o estudo mostrou sobre cada um. Como os problemas são concretos, os ensinamentos também. A pesquisa apresenta um cenário otimista.
Que desastre se fosse necessário um doutorado para ser bom professor! Ou que houvesse idade certa e errada. Ou que fosse necessário entender de psicologia sócio-histórica. Que alívio! Basta aprender a dar aula. Todos podem melhorar.
* Claudio de Moura Castro é economista e consultor de educação do Grupo Positivo.
Fiz as pazes com ele. Virei seu fã. Na educação, tenta entender o que faz um bom professor, assunto crítico, mas nebuloso e espinhento. Sua fundação montou uma grande pesquisa, e começam a sair resultados interessantes.
Naturalmente, como não é o único fuçando esses territórios, há muitos achados convergentes. Uma das conclusões compartilhadas é a identificação dos fatores que não se associam a um nível superior de aprendizado dos alunos.
São os chamados resultados negativos, muito importantes, pois limpam a área. A idade e a experiência do professor têm pouco a ver com o aprendizado do aluno. O nível de escolaridade tampouco se associa ao tanto que aprendem os estudantes (é óbvio, atrapalha se o professor é semianalfabeto).
Em particular, mestres e doutores não trazem mais rendimento. No geral, cursos de reciclagem são perfeitamente inócuos. O sacrossanto princípio de reduzir o tamanho das turmas tem uma consequência previsível: aumenta os custos. Mas, exceto em situações particulares, não melhora a qualidade.
Abandonando esses falsos caminhos, a pesquisa da Fundação Gates encontrou um veio promissor: como os professores dão as suas aulas? A Universidade Positivo inspirou-se nos seus estudos, adaptou os seus métodos e os está replicando no Brasil.
Os primeiros resultados da versão brasileira começam a pipocar e foram apresentados em um ensaio do presente autor e de Márcia Sebastiani. Como funciona a pesquisa? Professores são treinados para observar as aulas de outros professores.
Ao assistirem a elas, vão anotando como os professores observados se desincumbem, dentro de uma coleção de itens considerados relevantes. Dão notas ao seu desempenho em cada item. Em paralelo, os estudantes recebem um questionário, no qual avaliam o desempenho dos seus professores, segundo critérios parecidos.
No fim do ano, é aplicado um teste semelhante à Prova Brasil e ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Mede-se assim quanto aprenderam os alunos nesse período. A hipótese: as práticas do professor na aula, anotadas pelos observadores, são relevantes para determinar quanto aprendem os estudantes.
Se isso for correto, os professores com escores maiores no questionário de observação terão alunos com melhor rendimento acadêmico. Igualmente, terão notas maiores no teste os professores identificados pelos estudantes como os que aplicam as regras e práticas consideradas corretas. A pesquisa confirma as hipóteses.
Professores mais bem avaliados, seja pelos seus alunos, seja pelos observadores, têm turmas com melhor desempenho. Do ponto de vista estatístico, são associações particularmente robustas. A pesquisa do Positivo mostra o êxito do professor que adota certas práticas.
Ou seja, não interessa a quantidade de diplomas que ele tem, se leu os livros de Piaget ou Vygotsky, há quanto tempo dá aula ou quantos cursinhos completou. O que conta é se aprendeu e usa nas suas aulas as técnicas eficazes.
Por exemplo, passar deveres para casa inteligentes, corrigi-los e depois dar feedback ao aluno. Ou então explicar, insistir, repetir, até que ele aprenda. Não se trata de um interrogatório para castigar os perdedores. Pelo contrário, a pesquisa permite a identificação cirúrgica do que o professor faz certo ou errado na sala de aula. E aponta intervenções simples.
Se não ensinaram ao professor valer-se desta ou daquela técnica, ainda está em tempo de aprender. De fato, o Positivo está preparando material para corrigir as lacunas dos professores, atento ao que o estudo mostrou sobre cada um. Como os problemas são concretos, os ensinamentos também. A pesquisa apresenta um cenário otimista.
Que desastre se fosse necessário um doutorado para ser bom professor! Ou que houvesse idade certa e errada. Ou que fosse necessário entender de psicologia sócio-histórica. Que alívio! Basta aprender a dar aula. Todos podem melhorar.
* Claudio de Moura Castro é economista e consultor de educação do Grupo Positivo.
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