Um dos maiores ativistas negros do País, Abdias Nascimento é
homenageado com um exposição no Itaú Cultural. A mostra retoma a
trajetória do intelectual que foi escritor, artista visual, teatrólogo,
político e poeta e um dos principais defensores dos direitos civis das
populações negras.
Ao longo da exposição, são destacados alguns momentos de sua história
como sua participação em grupos artísticos como a Santa Hermandad
Orquídea, o Teatro do Sentenciado, o Teatro Experimental do Negro e o
Museu de Arte Negra, além de grupos de articulação política, social e de
pesquisa, como a Convenção Nacional do Negro, o Memorial Zumbi e o
Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). Estarão
também representados seus mandatos como deputado e senador.
O público também poderá conferir suas obras teóricas abordando
questões relacionadas a lutas sociais, afirmação de identidades negras e
defesa de seus direitos, além de performances, leituras dramáticas de
peças encenadas pelo Teatro Experimental do Negro (TEN) e o lançamento
da reedição do livro O Genocídio do Negro Brasileiro, publicado
por Nascimento em 1978. Depois de uma grande pesquisa a partir do
acervo do Ipeafro, a curadoria reuniu também pinturas, documentos
históricos, correspondências, discursos, entrevistas, depoimentos,
manuscritos e fotografias.
A curadora e presidente do Ipeafro, Elisa Larkin Nascimento, que foi
esposa do intelectual durante os últimos 38 anos, acredita que todo o
material produzido por ele é ainda muito atual, especialmente a obra O Genocídio do Negro Brasileiro:
“Esse título do livro não podia ser mais contemporâneo, porque é
exatamente o que se denuncia quase todos os dias. Nós estamos vendo a
juventude negra ser assassinada pela polícia e pela violência, estamos
assistindo à violência religiosa contra as comunidades e terreiros.
Quase todo dia você tem a invasão ou a depredação de alguma comunidade,
de algum terreiro de candomblé, nós estamos vendo a discriminação contra
os filhos dessas comunidades religiosas nas escolas, tivemos uma menina
que foi apedrejada, enfim, vários tipos de violência”, disse. “O
genocídio, quando vemos a definição dessa palavra, ela não se refere
apenas à morte física, mas também à morte de uma cultura, do legado
cultural de um povo. E é isso que ele [Abdias] diz nesse livro”.
Trajetória
Aos 30 anos, Abdias Nascimento havia sido duas vezes preso político;
viajado pela América do Sul, a partir do Amazonas, com os poetas da
Santa Hermandad Orquídea; passado um ano no Teatro del Pueblo de Buenos
Aires; e criado dentro do Carandiru, enquanto prisioneiro, o Teatro do
Sentenciado. Na prisão, ele escreveu os livros Zé Capetinha e Submundo.
“Quando apontavam para ele as portas dos fundos, ele não aceitava”,
disse Elisa sobre a resistência de Abdias a situações de discriminação.
Abdias teve uma extensa atuação artística no Teatro Experimental do
Negro (TEN), criado por ele, onde também organizou convenções e
congressos para combater o racismo na academia e na política. Ele
assumiu como deputado federal ao lado do indígena Mário Juruna. Foi
senador e secretário do governo do estado do Rio de Janeiro. Abdias
continuou pintando e publicou peças e poesias, além de obras como O Quilombismo e Sitiado em Lagos.
Segundo Elisa, desde criança Abdias viveu situações que o levaram
para o caminho do combate ao racismo. Nascido na cidade de Franca (SP),
em 1914, ele cresceu em meio às fazendas de café, que haviam substituído
a mão de obra de escravos negros por imigrantes. Na infância, ele
acompanhava sua mãe, que, na época, servia como ama de leite nas
fazendas. Lá, havia professores para os filhos dos imigrantes. Elisa
disse que, apesar de gostar de ir à escola e querer estudar junto a
essas crianças, Abdias não podia, porque era negro. “Esses são só alguns
exemplos das coisas que ele passava e que consolidaram nele essa
convicção de lutar contra o racismo”.
Serviço – Ocupação Abdias Nascimento
17 de novembro de 2016 até 15 de janeiro de 2017Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – Bela Vista, São Paulo – SP
17 de novembro de 2016 até 15 de janeiro de 2017Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – Bela Vista, São Paulo – SP
Link curto: http://brasileiros.com.br/frDaP
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