Depois de passado um mês desde a partida para a terra dos
sonhos, a aldeia da memória, de meu (para sempre) professor/ mestre Arnaldo
Begossi, volto a escrever para a coluna Histórias de admirar.
Peço desculpas
aos leitores de O Pantaneiro pelo silêncio, mas, envolvido em luto que estava,
não tive condições de deixar meu coração entristecido falar. Ele ainda quer
ficar quietinho, encolhido e, apesar disso, justamente para celebrar a
profissão que escolhi para seguir vida afora, decidi voltar à escrita.
Ser professor...
Vejo tantas definições, ideias, “achismos”, afirmações eloquentes e fico
imaginando o que, afinal, somos. Não somos super-heróis, com certeza, embora a
atitude da professora de Janaúba, Minas Gerais, salvando suas crianças do fogo,
nos leve a crer que ali, com certeza, houve um ato de heroísmo e de bravura!
Ser professor é equilibrar-se em uma tênue e frágil corda bamba, procurando não
deixar cair nem a si mesmo e nem àqueles que são conduzidos pelo mestre pelos
caminhos do conhecimento, pelas florestas de símbolos, códigos, representações.
Um mediador... Ninguém nunca irá nos substituir, sejam plataformas digitais,
programas de tele-educação ou outras parafernálias modernas quaisquer. Somos
imprescindíveis? Eu me atreveria a afirmar que sim, embora possa parecer
arrogância misturada à soberba. Temos poderes que muitos de nós desconhecemos,
tais como o de tocar profundamente alguém sem lhe encostar um dedo sequer! É
muito bom saber que depois de uma aula (bem dada/ participada) os alunos/ aprendizes
irão para casa (que pode ser uma mansão ou uma palafita) e se perguntarão sobre
o mundo que os rodeia, questionando-o, questionando-se, desnaturalizando o que
lhe parecia tão natural, mas que não passa de construção histórica e social.
Pelas minhas mãos já passaram tantas gentes, algumas mais abertas, outras tão
fechadas ao conhecimento, enfim, pessoas buscando seu próprio lugar no mundo,
de um jeito muito próprio. Um professor toca, transforma, pergunta (mais do que
responde), questiona, vai às raízes (por isso pode ser chamado, às vezes, de
radical), não se conforma com o superficial, com o raso! Não somos infalíveis,
porém muitas vezes nos esquecemos disso (e quem nos cerca também).
Não, caros
leitores, aqui não pretendo ficar listando lamúrias, referindo-me ao quanto
ainda somos desvalorizados, financeira e socialmente, e blá, blá, blá...
Prefiro, ao invés disso, recordar o que me fez desejar seguir essa carreira, o
desejo de poder transformar a minha própria vida (material, espiritual) e a de
meus alunos/ aprendizes.
Eu, que não tive filhos biológicos, que não tenho
“herdeiros” com a minha cara e a cara de “seo” João, hoje sei que serei eterno!
Ser professor é eternizar-se na memória daqueles com quem convivemos
diariamente, de quem somos mais do que educadores/ mestres.
Ser professor é
saber – muitas das vezes com muito pouco – encantar, tomar pelas mãos os
ouvintes/ videntes/ pensantes e levá-los aonde se quer, trazendo-os de volta à
realidade para que seja questionada, desconstruída, sonhada, reconstruída,
transformada em algo melhor do que foi/ era. É também ser o portador de uma
chama a ser transmitida a outros, para que eles a carreguem consigo, ajudando
tantos a se libertarem do breu da ignorância, da intolerância, do desrespeito,
da violência.
Alguns se perguntarão: – Giovani, que otimismo todo é esse?
Não sei se o nome é otimismo, caros leitores, mas sei que tenho uma boa dose de
esperança no ofício escolhido ainda na tenra infância e que faço todos os dias
– alguns mais, outros menos – minha “profissão de fé”!
Ser professor é ser
pássaro “adulto” que se despe das penas, às vezes com dor, e as oferece a
outros passarinhos, ainda “jovens”, “crianças”, para que aprendam a voar e
adquiram suas próprias asas e alcancem seus sonhos, até que chegue o dia de
partir para a terra dos sonhos, a aldeia da memória.
Ser professor é ficar,
para sempre, na memória!
Giovani José da Silva
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