Roselis é uma que se livrou do exílio entre os mercenários e tem os cílios embebidos do mais puro unguento.
No seu olhar há indícios de grandes poemas e em seus quatorze anos ela é uma promessa de carne e de luz.
Em sua permanência entre sórdidos escravocratas conseguiu deixar intacto este orvalho divino que lhe cobriu os seios, quando era menina.
E há no seu andar certo orgulho inocente, como o orgulho da noite iluminada de estrelas.
Roselis liberta ofereceu-se para constituir-se em seu marco, de um laguna estelar, porque ela é meio ondina até o ventre ou pouco acima.
O certo é que vão renascer nos seus peitos de neve dois gêmeos ou dois cisnes ou dois diapasões de bronze que acordarão o mundo para encher-se de poetas.
Roselis, a salva dos escravocratas, conseguiu ficar selada entre os açoites e as lanças, entre os unicórnios e as lufadas.
O corpo de Roselis pode vingar-se como a bola de neve que rolará sobre os lobos famintos.
Mas prefere dissolver-se em neblina e umedecer as pálpebras dos poetas tristes.
Jorge Mateus de Lima foi um político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro. Inicialmente autor de versos alexandrinos, posteriormente transformou-se em um modernista.
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