Ultimamente, em três ocasiões e por autores diferentes, artigos sobre o
exercício da profissão de professor do primeiro grau levaram ao grande
público a situação em que se encontra o ensino primário no Brasil.
Confiado em estatísticas, alguém escrevia, ninguém quer mais ser
professor.
Outro confirmava a tristeza vergonhosa dos ínfimos salários
oferecidos aos profissionais da carreira. A terceira matéria era uma
espécie de relatório-chamada a técnicos diversos: os salários
correspondentes, eram, pelo menos, cinco vezes mais do que recebe o
professor do ensino primário, na maioria das cidades do Brasil. Que não
ganha o bastante pra, nem digo em comprar livros, ir a um bom teatro,
mas pra garantir à família o mínimo necessário pra viver, e que ninguém
diga que cerca de dois mil reais mensais bastam pra gerenciar, de modo
decente, os gastos com a vida.
No século 19, ser “marido de professora”
garantia respeito e mais: quando o salário da mulher era recebido pelo
homem. No século 20 um poeta cantava: “Antigamente a escola era risonha e
franca.” Para a menina observadora que eu era, e mesmo descontando a
imaginação infantil, minhas professoras no Grupo Escolar Clovis
Bevilacqua eram, o leitor vai rir, lindas, elegantes, perfumadas. E de
fato o eram. Naquele tempo havia a moda de saia plissada, blusas de
labirinto, saltos altos, como os trazia dona Ana, dona Ester. E pasmem,
havia um cheiro de perfume francês no ar, não estou mentindo. Lembro
essas coisas, finalmente desimportantes, aceitando que os tempos
mudaram, que uma calça jeans é tão válida vestimenta como outra
qualquer, etc, etc.
Nesses últimos anos tenho sido convidada e conversar
sobre literatura, sobre poesia e romance, a muitos grupos de
professores sobretudo da Rede. E é uma alegria verificar o interesse, o
esforço, a seriedade com que assumem a profissão, o ótimo desempenho em
aula, que aliás nossos governantes vez em quando reconhecem.
Há alguns
anos, em colóquio sobre ensino e situação dos mestres, que ganhavam um
salário mínimo por 40 horas semanais, discutiu-se a situação. salário
que antes e hoje, pra qualquer trabalhador, é uma tristeza, e por que
não o dizer, uma vergonha para o país rico que somos. Pois bem.
Uma
amiga lembrou um antigo samba que dizia: “Tá faltando um zero no meu
ordenado / tá faltando sola no meu sapato.” Essa amiga acrescentou,
dirigindo-se a um... digamos político, que cantava os bons resultados do
ensino primário em nosso estado: “Senhor... fulano (omito nome e cargo,
evidentemente), quando os professores receberem oito mil reais em vez
dos oitocentos que recebem atualmente, a gente conversa.” Claro que
houve um silêncio geral e no coquetel que acompanhou a reunião, o tal
comentou com minha amiga: “A senhora exagerou”.
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