Mesa-redonda debateu propostas e desafios para gestão da Serra da Barriga como patrimônio cultural do Mercosul
“A Serra da Barriga não pode ser encarada como peça folclórica, mas como polo da população negra”, afirmou o professor Zezito Araújo (Ufal),
na mesa-redonda sobre o Dossiê de candidatura da Serra da Barriga -
Quilombo dos Palmares – patrimônio cultural do Mercosul e as ações do
comitê gestor.
Zezito defendeu que a gestão do bem cultural deve valorizar a
cultura de libertação e promover a participação negra. Na mesa, ele
teve companhia do professor da Universidade Estadual de Alagoas, Jairo
Campos; da arquiteta e urbanista do Departamento de Articulação e
Fomento da assessoria internacional do Iphan, Candice Ballester, da diretora do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-brasileiro da Fundação Cultural Palmares, Carolina Nascimento; e do professor da Ufal Aruã Lima, que coordenou a mesa.
A arquiteta Candice Ballester recordou as
etapas para a construção do dossiê, que foi apresentado na candidatura
da Serra da Barriga como patrimônio cultural do Mercosul, em 2017. “O título internacional engloba o patrimônio material, imaterial e arqueológico. Além disso, reforça a ideia de intercâmbio com todos os âmbitos dos quilombos”, afirmou.
O professor Aruã Lima destacou a necessidade de
pensar quais serão os próximos caminhos traçados para a gestão da Serra
da Barriga, e que possibilitem a preservação
da memória sem apagar o sentido de resistência de Zumbi dos Palmares
como patrimônio histórico. “A grande vitória do reconhecimento é
responsabilizar os entes governamentais pela manutenção desse
patrimônio. Aumentar a memória de Zumbi dos Palmares e não retirar dele o
caráter transgressor durante a história”, disse Aruã, mencionando a importância da participação da comunidade local em todo o processo.
“É necessário entender que a
cultura Afrobrasileira pode ser um vetor de desenvolvimento do povo. Por
isso falamos de patrimônio, especialmente, de pertencimento”, destacou Carolina Nascimento no início da sua fala. A contribuição dela esmiuçou conceitos de resistência, de modo que destacou o aspecto cultural como fortalecimento do movimento negro.
Local de Resistência
Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional em 1986, a Serra da Barriga abrigou o maior quilombo
das Américas. O seu reconhecimento como Patrimônio Cultural do Mercosul,
em 2017, contribui para o reconhecimento do local como símbolo de luta e
resistência dos escravos no Brasil e da referência cultural dos povos
afro descendentes.
O estudo realizado em parceria com o
Iphan e a Fundação Palmares, responsável pela administração do Parque
Memorial Quilombo do Palmares, representa, ainda, uma reparação às perseguições e à intolerância praticadas e reveladas por meio dos quilombos. A formulação do dossiê só foi possível com a ajuda fundamental do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da Universidade Federal de Alagoas, hoje sob direção da professora Lígia Ferreira.
O comitê gestor da Serra da Barriga é formado
por representantes de comunidades capoeiristas, religiões de matriz
africana, quilombolas, e autoridades do Iphan, da Fundação Palmares e das universidades Federal e Estadual de Alagoas.
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