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domingo, 15 de maio de 2011

Carlos Moore Subiu a Serra da Barriga e Chorou. Por Arísia Barros




Carlos Moore,etnólogo e cientista político cubano, rompeu com o regime de Fidel e lutou pela emancipação de África. Trabalhou com Savimbi, viveu de perto o calvário de Viriato da Cruz, privou com Mário de Andrade e foi angolano por um ano.

Na voz e no olhar, preserva o idealismo a que chamam utopia. Carlos rodou o mundo quando saiu exilado de Cuba. Foram 34 anos de exílio. O Doutor em Etnologia, Sociologia, História e Antropologia pela Universidade de Paris-7 (França) é um desbravador que põe crença na luta pela igualdade.

Carlos Moore militou ao lado de Malcolm X, Cheikh Anta Diop, Aimé Césaire, Maya Angelou, Stokely Carmichael, Lelia Gonzalez, Walterio Carbonell, Abdias Nascimento, Harold Cruse, Alex Haley, e tantos outros.

Carlos Moore esteve em Alagoas participando da Sessão Pública: Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo, no 13 de maio, ocorrido na Assembléia Legislativa e contextualizou para uma plenária, essencialmente, jovem a importância das lutas negras atuais e da consciência do racismo que foi forjada, não tem só nos últimos 500 anos, mas, como algo com enorme amplitude, mais global e muito, mais intrusivo que uma ideologia.

Carlos Moore é uma personagem muitíssimo humana, cativante e coerente com suas convicções políticas. Em nome de todos os momentos adversos que viveu em busca da liberdade sem arrefecer da luta, propusemos o nome do cubano para a outorga da Comenda Zumbi dos Palmares pela Assembléia Legislativa de Alagoas, e ele disse não, sem a arrogância dos medíocres e sim com a humildade de quem viu e viveu a poderosa repreensão do estado.

Moore tem um desconforto natural em lidar com grupos institucionalizados. O discurso de Moore escapa da mesmice e das fórmulas prontas. Traz em si o sentimento de comunidade.
Um dos grandes sonhos do cientista político cubano era pisar o solo sagrado de Zumbi, o templo da resistência negra, na combalida, desigual e conformada Alagoas, que um dia foi de Palmares, da primeira sociedade política organizada das terras de Cabral e nesta manhã de sábado, dia 14 de maio, embaixo de uma chuva sonora e tímida, Carlos subiu a Serra e extremamente emocionado chorou o choro do reencontro ancestral.

Encantado com a grandiosidade da estrutura do Parque Memorial Quilombo dos Palmares ,o primeiro complexo arquitetônico de inspiração africana no Brasil e o único projeto afro-cultural do continente americano e da América Latina, Moore exclamou: “Ninguém nunca me disse que existia isso aqui! Eu simplesmente não tinha conhecimento disso! É uma maravilha! Eu pensei que na Serra da Barriga só tinha mato. Ah! Que coisa mais linda. Tudo tão estrategicamente pensando!

O encantamento ao depara-se com a memória das Áfricas nas Alagoas, como berço e túmulo do conceito e sentido de humanidade, reconstruída, pela determinação herculana de Patrícia Irazabal Mourão, fez Carlos novamente chorar.
Patrícia Mourão não é militante, não é uma ativista negra ou coisa que o valha.
Patrícia Mourão é mulher aguerrida e empreendedora que enxergou as potencialidades, seja histórica, turística, emprego e renda que o monumento histórico proporcionaria a comunidade do entorno de Palmares e do mundo e ousou construir o Parque, quebrando a hegemonia “dos donos do território e da história”.

Por ter insistido em romper com a história da acomodação colonialista e erguer o cenário da história de Zumbi, Patrícia Mourão foi execrada em praça pública.
Após ter pisado o solo sagrado do Quilombo dos Palmares de Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares, herói nacional brasileiro, inscrito no livro do tombo, em 21 de março de 1996 (Dia Internacional pela Eliminação do Racismo) e de tantos e tantas guerreiras e guerreiros de cores diversas Carlos Moore sentiu a familiaridade da história.

Segundo ele: “Senti como se eu tivesse na República Negra dos Quilombos. Quando cheguei a Serra da Barriga, senti que estava voltando de uma longa viagem, porque senti tudo familiar”.
Carlos Moore saiu de Alagoas determinado a conhecer Patrícia Mourão e incorporar-se a história do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, inaugurado em 2007, abraçando assim a história negra de Alagoas.

Valeu Carlos!
Valeu Zumbi!
Valeu Patrícia Mourão!
Carlos Moore subiu a Serra da Barriga e chorou.
Você conhece o Parque Memorial Quilombo dos Palmares?



Blog Raízes da África

2 comentários:

  1. Após ler este texto, fiquei alegre e triste ao mesmo tempo, por quê? Oras, nós somos da terra de Zumbi e não a valorizamos como os que vem de fora da nossa terra e do nosso país, coisa para se refletir. Parabéns Marcelo e equipe por convidar tão ilustres visitantes para a nossa Serra da Barriga. Quem sabe um dia conseguiremos mudar a visão das pessoas concernente ao nosso maior parimonio.

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  2. Obrigado o senhor Pai Sérgio por ser mais um nessa luta de reconhecimento da história do povo negro.

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