Há seis meses à frente da Fundação Cultural Palmares - Regional Alagoas, que entre outras coisas promove a cultura e cuida dos quilombolas, Maria José da Silva diz que os grandes desafios da pasta é trabalhar junto com os Estados, "pois muitos quilombos estão desassistidos sem casa, sem água e sem condições de uma renda mínima para comprar alimentos, remédios, etc", diz. Muitos quilombos "pedem esmolas". "O resgate do trabalho está sendo a prioridade nessa minha primeira gestão, a cultura é importante mas não podemos levar cultura com quem está com fome, tenho que levar dois balaios, um de cultura e outro de alimento", é o que diz Maria José.
A superintendente disse que o Governo Federal tem um olhar especial para os quilombolas, mas os prefeitos tem que fazer a sua parte, como implementar o PBQ, que garante casa, escola, terra a essas pessoas. No Estado do Rio Grande do Norte, por falta de informações, muitas famílias nem recebem o Bolsa Família, ou outro benefícios do Governo. "Estou viajando pelos interiores dos Estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte para regularizar as certificações, com essa documentação, elas terão assegurados os direitos constitucionais de posse de terra e de políticas públicas específicas", diz.
Outro trabalho importante é a recuperação das nascentes de água. Muitos quilombos sofrem com a falta de água potável, a exemplo da comunidade Filús, em Santana do Mundaú. Agora, um projeto simples que tem a participação da própria comunidade coloca canos em pontos da nascentes e a água chega nas casas.
Essa melhoria de vida também reflete nos trabalhos desenvolvidos pelos quilombolas, como seus artesanatos. Mesmo assim alguns necessitam de mais investimentos nessa área. Muitos vendem seus produtos, mas não têm sua cultura valorizada. "O resgate do trabalho está sendo a prioridade nessa minha primeira
gestão, a cultura é importante mas não podemos levar só cultura pra quem
está com fome. Tenho que levar dois balaios, um de cultura e outro de
alimentos", falou Maria José.
A Fundação Cultural em União dos Palmares tem atividades extras para estudantes e para a sociedade civil. São exposições, saraus, oficinas de cinema, danças, capoeira, Hip Hop. E a partir de 20 de agosto uma programação especial para comemorar os 5 anos de Fundação em União.
Sobre o Mês da Consciência Negra, em novembro, ela explica que a preocupação não é trazer grandes bandas ou artistas, mas de "trabalhar com formações, debates, desfiles, teatro de rua e envolver a sociedade com a sua cultura. Temos milhares de palmarinos que não conhecem a Serra da Barriga". Maria diz que teve uma reunião com Secretário de Educação, Eduardo Praxedes para viabilizar aulas de campo, onde os alunos pudessem conhecer a Serra da Barriga e na volta conhecer outros pontos turísticos da cidade.
Natural do Paraná e morando há alguns anos em Alagoas, sem pretender sair do Estado, Maria José tem uma equipe de cinco pessoas para trabalhar e visitar os 66 municípios em Alagoas com quilombolas. Segundo ela, "a equipe é pequena e temos que nos dividir e usar as tecnologias a nosso favor. Na verdade, a equipe é um gigante", resume.
Além de Alagoas, ela também coordena os trabalhos da Fundação Cultural Palmares em Pernambuco, João Pessoa, Rio Grande do Norte e Ceará.
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