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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Mestres artesãos quilombolas de AL contam histórias com peças em barro

 Ceramistas Antônio e Irinéia moldam o cotidiano do povo do Muquém.Marinalva Silva produz objetos utilitários de cerâmica há décadas.

O cotidiano da vida moderna e do passado quilombola moldado no barro. É com arte que o povo negro do povoado Muquém, descendentes diretos das famílias que habitaram a Serra da Barriga, o 'Quilombo dos Palmares', em União dos Palmares, principal ponto de resistência contra a escravidão no Brasil, contam as suas histórias.

 Ceramistas por tradição passada de geração em geração, os artesãos do Muquém produzem com a mesma técnica do passado, com o barro moldado a mão e cozido em fornos artesanais, peças decorativas e utilitárias que ganham o mundo. Com o casal Antônio Nunes, 73, e Irinéia Rosa, 66, o barro retirado das margens do rio Mundaú ganha forma ao ser transformar em gente. Personagens da vida real, com traços e características do povo quilombola.

 Entre as peças de cerâmica deles estão as tradicionais cabeças, marca do casal de artesãos devido à singularidade da modelagem e esculturas que remetem o dia a dia da comunidade e elementos da cultura popular, fazendo referência ao velho pedinte com cajado e cuia na mão, ao padre, as mulheres com crianças nos braços, os homens com seus animais e alfazares do campo e até mesmo a reprodução da antiga jaqueira da comunidade Muquém, que abrigou dezenas de quilombolas durante a enchente de 2010.

“As ideias surgem da observação. Reproduzimos muita coisa do que vemos e vivemos, mas também criamos com o que passa por nossa cabeça. Na escultura da jaqueira tentei reproduzir cada personagem que viveu aquele momento, as mulheres, os jovens, o bêbado e até o cachorro”, conta Irinéia, artesã que faz parte do registro do Patrimônio Vivo de Alagoas.

 De sorriso fácil e histórias longas, o artesão Antônio, esposo de Irinéia, também molda suas peças. Entre elas, a imagem de São Francisco e diversas cabeças. A escultura preferida dele é a do casal de namorados, que ganharam ao longo dos anos a companhia de pombinhos e de lagartixas. “Aqui sou eu e ela. Mas pode ser qualquer outro casal também que se ama”, explica o artista que foi um dos contemplados por sua produção em cerâmica no Prêmio Culturas Populares -  Edição 100 anos de Mazzaropi.

As peças em cerâmicas do casal Antônio e Irinéia viraram produto de exportação cobiçado por colecionadores de todo o mundo. Mesmo assim, suas esculturas são comercializadas a preços simbólicos que variam entre R$ 20 e R$ 200 a peça, dependendo do tamanho e formato. “Comercializamos muito em feira de artesanato. Há também muitas encomendas. Mesmo assim, sempre temos peças conosco na comunidade porque sempre aparece alguém em busca do artesanato”, completa Irinéia.

Arte utilitária
 
Já a artesã Marinalva Bezerra da Silva, 75, que também vive na comunidade Muquém, usa o barro para fazer objetos utilitários. Entre suas produções estão panelas, potes, moringas, cuscuzeiras, chaleiras e outras peças que são usadas no dia a dia.

“Aprendi a moldar barro na infância com minha avó e minha mãe. Antigamente, quando as peças de alumínio e vidro não eram tão fáceis, toda casa tinha objetos de barro. Minha família viveu anos produzindo essas peças e vendendo nas feiras de União dos Palmares e Ibateguara”, relata Marinalva, artista que também foi contemplada no Prêmio Culturas Populares -  Edição 100 anos de Mazzaropi.

As peças utilitárias da artesã também são comercializadas na comunidade a preços simbólicos que variam entre R$ 10 e R$ 30.

Fonte: G1

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