Há 19 anos, após um tiroteio entre policiais e militares do
Exército diante da Assembleia Legislativa do Estado (ALE), o então governador
Divaldo Suruagy teve seu mandato interrompido e seu vice, Manoel Gomes de
Barros ascendeu ao poder. Depois de contornar o sufoco de ter de pagar oito
folhas salariais atrasadas em um ano e meio, de combater o crime organizado
dentro da própria Polícia Militar de Alagoas e minar o acordo que beneficiava
usineiros com isenção de impostos, o político de União dos Palmares conhecido
como Mano foi derrotado por Ronaldo Lessa (PDT) na disputa pelo governo, em
1998, e também teve frustrada sua tentativa de voltar a ser prefeito de sua
terra natal, em 2012, quando foi vencido pelo prefeito Beto Baía, eleito pelo PSD
e afastado pela Justiça de Alagoas diversas vezes.
Neste domingo em que
sindicalistas celebram o 17 de Julho, o Blog do Davi Soares publica o testemunho do ex-governador
Mano sobre as dificuldades daquela época que diz ter lhe rendido problemas até
hoje.
A dimensão do poder político de
Mano no município de mais de 66 mil habitantes o próprio pré-candidato já
afirmou em uma conversa gravada e vazada após reunião com mototaxistas, nas
eleições de 2008: “Eu mandei nessa porcaria há quantos anos? A última palavra é
minha”.
Tratado como coronel pelos
adversários e por boa parte da população, o ex-governador filiado ao PP quer
refazer o caminho de volta ao cargo de prefeito de União dos Palmares, que
ocupou aos 25 anos, em 1977.
Confira o que Mano disse sobre
todo esse contexto:
O que
despertou no senhor o desejo de voltar a ser prefeito de sua terra natal?
Tenho negócios, lá, fazenda, e
passo a semana inteira lá. Como estou aposentado, né?, minha vida é lá, sempre.
E tenho sido muito cobrado, muito solicitado. A cidade está passando por uma
situação muito difícil, inclusive de gestão de todos esses prefeitos que
ultimamente têm aparecido e não têm feito pelo menos o dever de casa. Entendeu.
A cidade está muito carente, e tal. E tenho recebido pedidos e estou estudando
a possibilidade. Não decidi ainda não, mas ainda há tempo. Mas estou vendo, aí.
Vivo lá, moro lá, nasci lá. É a minha terra, uma cidade importante do Estado.
Na
eleição passada, o senhor disputou com o Beto Baía em campanha bem acirrada...
Acirrada e acabei perdendo a
eleição. Acho que deu o quê? Mil votos a diferença, entendeu? E foi um...
Porque ele atraía adversários fortes, como Fernando Collor, João Lyra, e tal.
Mas é isso mesmo. E foi um desastre. O que aconteceu, na verdade, foi um
desastre. E eu tenho uma experiência grande, já fui considerado o melhor
prefeito, na época, quando tinha apenas 25 anos. E fui deputado várias vezes,
fui secretário de Estado e sou empresário rural. Fui governador e tive uma
passagem boa no governo, consegui reequilibrar o Estado naquelas dificuldades
todas. E, em função disso, é mais um desejo da população. E eu, se tiver
oportunidade, naturalmente estou analisando, será uma honra grande voltar a ser
prefeito da minha terra, já que tenho tempo disponível e estou vendo lá a
situação difícil por que estamos passando.
Informações
apontam para uma aliança do senhor com o seu adversário Beto Baía. Como o
senhor explica?
Não. Não sou não. Pelo
contrário. Nunca fui aliado dele.
Nem
recentemente?
Não. Nessas idas e vindas [de
afastamentos de Beto do cargo pela Justiça], ele solicitou ao meu filho
[Nelito] que foi deputado estadual uma ajuda, lá. Então, meu filho tentou
ajudar o município, a cidade, não ajudar o Beto. Porque o Beto, como prefeito,
deixa muito a desejar. Mas, como se trata da cidade que estava com muita
dificuldade, aí meu filho pelo menos organizou lá algumas coisas, que deram
certo com as pessoas que ele indicou. E a cidade começou a movimentar. Mas, o
Beto não tem jeito. É impossível de, com ele, se fazer alguma coisa. Então, meu
filho o abandonou, o deixou e tal. E eu, pessoalmente, nunca tive nada,
relacionamento absolutamente nenhum. Mas pessoalmente não tenho nada. É meu
amigo. Nada a ver.
Neste
domingo, se completam 19 anos do 17 de Julho, que foi um momento histórico em
Alagoas. Para o senhor e para a política de Alagoas, o que foi aquele momento
da queda do governo Suruagy?
Foi um momento importante. O
Estado estava absolutamente sem nenhuma perspectiva, com seríssimas dificuldades.
Inclusive, aquele tal acordo dos usineiros, em que o setor mais dinâmico da
economia não recolhia impostos, o problema da violência e outros problemas. O
Estado estava absolutamente acéfalo, naquela oportunidade, apesar de o
governador ser meu amigo e essas coisas todas. O Suruagy renunciou, assumi o
governo e graças a Deus conseguimos recolocar o Estado nos eixos. Melhorou
muito a situação do Estado, conseguimos pagar oito folhas atrasadas. Sei que,
no final, disputei eleição de governador aqui com 70% de aprovação do governo.
Perdi eleição por pouco, com 50 mil votos de diferença. Na minha opinião, o que
fiz de mais importante foi o ajuste fiscal. Recoloquei o Estado nos trilhos,
acabei com essa história do acordo dos usineiros e a arrecadação cresceu e o
governo federal passou a ajudar. Também teve a história da Gangue Fardada...
Não sei se você sabe.
Sei.
Que foi desbaratada na sua época.
Isso. Ainda hoje sofro as
consequências. Mas, tudo bem.
O
senhor ainda tem segurança do Estado?
Tenho ainda. Homens da Polícia
Militar.
Depois
de agir contra a Gangue Fardada naquela época, como o senhor pretende lidar com
essa interiorização da violência, a partir desse cerco que está se fechando na
capital e espantando o crime para municípios menores?
A minha cidade tem sofrido
muito com a violência e o tráfico de drogas. O que eu pretendo, na verdade,
como ex-governador, com essa experiência toda que tenho, o conhecimento, é
tentar com o Governo do Estado e a Prefeitura auxiliando, em convênio,
encontrar soluções para, pelo menos em princípio, enfrentar essa violência
toda. Mas sei que, na verdade, o que se precisa é ocupar essa juventude,
melhorar as condições de ensino, de vida, ver se tira essa garotada dessa
prostituição toda e tal. Você sabe que isso não é uma coisa só de uma ação
própria da polícia. Mas precisa ser uma ação combinada de um esforço maior,
para que a gente tente encontrar alternativa. Mas o combate inicial tem que se
fazer e, diga-se de passagem, o governo tem feito isso com muita eficiência. Esse
novo governo aí do Renan Filho tem feito um trabalho muito grande,
principalmente com o secretário Alfredo Gaspa, que passou, e esse atual
secretário tem dado continuidade. O ponto positivo que tem o estado é o
trabalho na área de segurança. E pretendo, se prefeito eleito, tentar lavar um
trabalho e ver como a gente pode fazer, para diminuir esses índices, que tem
amedrontado e prejudicado tremendamente nosso município, que tem nível de
desemprego também muito alto. Para se enfrentar isso, não é só o prefeito, mas
uma junção de forças.
Talvez
por conta de sua atuação contra a Gangue Fardada, ou pelo perfil como o senhor
conduz a política local, foram divulgadas músicas sugerindo que o senhor é um
coronel. O senhor se sente um coronel?
Isso é mais porque eu sou um
dos maiores fazendeiros lá da região, há muitos anos. E talvez isso tenha sido
por causa desse meu aspecto de duro, que é uma característica que tenho de
muita firmeza nas ações. E os adversários [risos] é que fazem essas colocações.
Mas é coisas sem maiores... Quem me conhece sabe que sou um democrata, um homem
com temperamento absolutamente normal. Agora, para enfrentar o que eu enfrentei
em Alagoas, tem que ter uma dosagem de decisão, de firmeza e de coragem, senão
não sairia do canto. Tenho quarenta e tantos anos de política e nunca houve, em
minha época, um crime político em União. Essa história de coronel é muito
típica dos adversários. Não tem aquela história, que quando você não tem
defeito colocam, né? Acho que é pejorativo, mas, na verdade, não tem isso, não.
Quem me conhece, sabe, pelo meu temperamento. Agora, sou um homem forte. Você
sabe que eu sou forte. Se eu estivesse na Prefeitura, nossa terra não estaria
daquele jeito, não. Toda certeza, certeza absoluta, nós seríamos outra, nossa cidade
seria outra coisa. O Beto foi terrível e outros que passaram por lá, também.
Em uma
gravação de uma reunião, o senhor pergunta ‘Eu mandei nessa porcaria há quantos
anos?’. O senhor se arrepende dessa declaração?
Não. Não foi bem isso. Você,
como jornalista, você sabe que isso foi uma montagem que fizeram. E isso
realmente teve uma repercussão negativa. E sou um homem experiente,
inteligente, diria uma tolice tamanha e uma aberração dessa? Isso foi... De uma
conversa inteira... Inclusive as pessoas pediram desculpas porque os recebi na
minha casa, tivemos uma conversa longa e, se fazendo de amigos, e tal, essas
pessoas queriam ter um posicionamento em minha campanha. E fizeram gravação,
depois fizeram uma montagem. Se você observar, a fita, cortada, emendada, e
tal. Isso foi uma... Ele colocou na minha boca coisa que eu, durante uma
conversa... Eu tive uma conversa, não nessas colocações. Ele juntou tudo na
fita. Então, a fita foi uma montagem. Foi uma farsa e todo mundo sabe lá. E os
adversários que fizeram isso comigo hoje se arrependem, que não poderiam ter
feito, que foi uma aberração, um absurdo. Entendo e sei que, infelizmente, tem
pessoas que têm ainda esse caráter de ir na sua casa e além de cometer o crime
de fazer a gravação e ainda fazer a montagem da forma como achou conveniente.
Inclusive, você está lembrado que a Gazeta, naquela época, explorou isso como
cavalo de batalha e isso me prejudicou bastante. Você sabe de tudo, o quanto
João Lyra gastou na campanha e ele próprio veio aqui me falar, pediu desculpas,
porque cometeu um erro com a cidade dele, ao ajudar a eleger uma pessoa que não
correspondeu à expectativa absolutamente nenhuma. É isso mesmo, quem está na
vida pública está sujeito a isso. Isso é uma coisa muito pequena para mim. Sou muito
maior que essas coisas.
O
senhor tem conhecimento o problema que deve enfrentar se assumir a gestão de
União?
Sei. Tenho conhecimento. O
problema de União é gestão. É grave. É gestão. Então, se eu consegui resolver
os problemas de Alagoas, naquela oportunidade, que eram mil vezes mais graves e
de uma dimensão muito maior, imagine União. O problema de União é alguém que
realmente esteja comprometido com o município, com a cidade, e faça realmente
fazer valer pelo menos a lei, a decência e a dignidade. O que você não pode é
ter uma receita de 100 e gastar 120, ou então gastar o dinheiro sem
objetividade e planejamento. É o que tem ocorrido lá na nossa cidade,
infelizmente. Não tem nenhum objetivo o que estão fazendo e continuam fazendo
com a nossa cidade. Eu tenho certeza de que a minha presença em União dos
Palmares faria uma economia muito grande e de que dava para a gente encaminhar
os problemas todos. União não tem médico, não tem remédio, tem lixo na rua. O
que não pode é ter uma cidade com quatro mil funcionários desestimulados, sem
salário, sem nada, e ainda contratam mais dois ou três mil, sem a menor
possibilidade nem autorização legal. O que tem em União é um populismo e uma
politicagem grande. Quem tirar isso, resolver esse problema, resolverá o problema
de União. É como o orçamento de sua casa. Tem que se adequar à receita. Se você
recebe 10 e gasta 15 ou 20, você vai quebrar. Gasta ruim, gasta péssimo. É o
que está acontecendo na nossa cidade. E acham pouco e ainda roubam. Tiram de
onde não tem em uma cidade tão triste como está a nossa. Tenho certeza de que
em seis meses ou um ano, a gente tenha uma cidade absolutamente diferente, com
minha presença. Não tenho dúvidas. Por isso quero dar mais uma contribuição à
minha terra, se assim for o desejo da população. Se não for, não tem problema.
Fonte: AL1
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