A vida de docente permite a cada dia aprender algo diferente. Esta é a
magia de ser professor. Tenho notado no decorrer dos anos como
professor que os estudantes estão assumindo a cada dia uma postura mais
passiva em sala de aula. Isso é um problema! Nós precisamos fazer com
que os estudantes tenham responsabilidade sobre sua formação e,
sobretudo, sejam proativos no ato de aprender. Além de todas as
consequências que a vida moderna traz para a postura assumida pelos
jovens em sala de aula, eu vejo outro grande desafio: o objetivo pelo
qual eles estão cursando as disciplinas.
Existem dois principais objetivos que destaco. O primeiro se
refere à aprendizagem. O indivíduo cursa disciplinas porque pretende
aprender e apreender o conteúdo sobre o qual se trabalha. O segundo está
diretamente relacionado ao desempenho. O objetivo do estudante é ter
melhor desempenho ou alcançar o desempenho necessário para sua
aprovação.
Pois bem, a sala de aula não tem sido um ambiente onde a curiosidade
toma conta da dinâmica. Um questionamento normalmente não encontra uma
reflexão. É comum não haver reflexão. Como assim? Sim, pode haver sala
de aula sem a promoção de um ambiente de reflexão. Toda vez que a
cultura da sala de aula é baseada no repasse de informações e os
objetivos estão concentrados no desempenho, o ambiente de reflexão deixa
de ser construído. Teremos então aqueles que repassam as informações e
outros tantos que precisam absorver para reproduzir na ocasião das
provas.
Quando faço as perguntas sobre o que querem saber, algumas questões
têm sido a grande marca dessa dinâmica: “Professor, as provas são
questões objetivas ou do tipo que tem que escrever muito?”; “Professor, o
senhor passa a chamada no início ou no final da aula?”; “Essa
disciplina tem alto índice de reprovação?”; “O que é mais importante
saber para fazer as provas?”
Eu particularmente acho ótimo que estas questões apareçam na sala de
aula. Ajudam-me a promover o debate sobre o que estamos fazendo numa
universidade e por que estamos ali. Claramente todas estas questões
refletem os objetivos baseados no desempenho. O que os alunos querem é a
aprovação. A intenção não parece ser aprender e apreender para ter como
consequência a aprovação. Eu tento mostrar esse lado da moeda. Toda vez
que nosso objetivo se concentra no desempenho, nas avaliações, nós
aprendemos menos. Muitos estudam para as provas, e não para se tornarem
profissionais brilhantes.
A atual geração de alunos parece estar cada vez mais preguiçosa. E
não tenho receio algum de ser tão contundente. Ler parece ser um
sacrifício enorme. Pensar e refletir sobre o conteúdo discutido está
cada vez mais complicado. Muitos reclamam de falta de tempo. Essa falta
de tempo é proveniente de estar sempre conectado e recebendo e enviando
informações o tempo todo. Ler e refletir precisa de concentração. A
concentração tem sido um dos maiores problemas enfrentados em sala de
aula.
Aliando a dificuldade de concentração com o objetivo focado no
desempenho, teremos um aluno desmotivado a aprender e incapaz de se
concentrar. Tudo vai parecer mais atrativo do que a aula e o estudo.
Quando estudamos apenas para fazer provas é natural que nosso estudo se
concentre em dias bem próximos da avaliação. Em alguns casos, o estudo
só ocorre um dia antes. Isso nos leva a armazenar boa parte das
informações na Memória de Curto Prazo. Nós armazenamos informações que
em grande parte estão programadas para serem descartadas.
As informações
armazenadas na Memória de Curto Prazo ficam armazenadas por um curto
período de tempo. Tem prazo de validade curto. Quando fizermos a prova,
boa parte das informações será descartada. Mas se descartamos parte
daquilo que “estudamos” para a prova quer dizer que perdemos as
informações? Isso! Um mês depois talvez você vá sentir que não se lembra
de boa parte do conteúdo que estudou para a prova. Já que o objetivo
era fazer a prova, você cumpriu seu objetivo, e as informações foram
descartadas.
Qual é o sentido de estudar para algo que você não vai se lembrar
mais? Qual é o sentido de estudar somente pensando na realização da
avaliação? É aí que reside minha inquietação. Estamos deixando de lado a
necessidade de descobrir o sentido pelo qual fazemos o que fazemos e
estamos nos centrando apenas no que fazemos. Há grande diferença nisso.
Os bons profissionais sabem o que fazem, mas os profissionais brilhantes
compreendem por que fazem o que fazem. Na sala de aula, não pode ser
diferente. Encontrar o sentido é fundamental para entender o seu lugar
naquele espaço.
O objetivo de quem cursa o ensino superior numa universidade não deveria ser apenas o de ter um diploma universitário. Quando o objetivo é o diploma e o desempenho, não há sentido de participar e se inserir em outras atividades extraclasse.Os alunos que querem se tornar profissionais brilhantes sabem que só a sala de aula é pouco para se construir competências e habilidades que hoje são exigidas pelo mercado de trabalho.
Chegar à sala de aula e somente escutar o professor falar é muito
pouco para quem quer ser muito grande. O professor tem sua parcela
significativa de culpa. Às vezes, nós professores não percebemos essa
relação entre os objetivos de estar numa sala de aula nem o sentido
atribuído pelos alunos de estarem cursando a universidade. É por isso
que às vezes nós falamos: “Copiem isso, vai cair na prova!” O importante
é a prova! Se “isso” é importante, não o é por existir uma avaliação,
mas porque em sua atuação como profissional aquele conteúdo ou técnica
lhe será útil e de grande relevância. Vejo a necessidade de uma
ressignificação do ambiente de sala de aula. É preciso deixar de lado a
cultura de reprodução de informações e ficarmos mais atentos à cultura
da inovação.
As organizações atuais não querem contratar um profissional passivo,
sem curiosidade, sem habilidades interpessoais e com baixa criatividade.
Se isso é mesmo uma grande verdade, a sala de aula não pode ser um
local onde a passividade no ato de aprender é uma realidade, não pode
ser um local onde a curiosidade e a criatividade sejam estranguladas em
nome do repasse de informações e não pode ser um ambiente onde tudo
ocorra de forma individual.
Os diplomas de graduação infelizmente ainda são privilégio de poucos.
Mas desses poucos, são muitos os que acreditam que possuir um diploma é
garantia de prosperidade e glória. Os que se iludem possuem grandes
chances de se frustrarem. A realidade do mercado de trabalho hoje é o da
volatilidade do emprego e do trabalho temporário. O diploma de
graduação pode abrir-lhe muitas portas, mas permanecer lá dentro vai
depender do profissional que você se tornou e das habilidades e
competências que adquiriu.
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