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sábado, 11 de maio de 2013

Cinema encaretou Cazuza e Russo

Renato & Cazuza)

Dois ídolos, duas cinebiografias e algo em comum: a tentativa de amenizar a homossexualidade de ambos. Em cartaz nos cinemas, Somos Tão Jovens, de Antonio Carlos da Fontoura, sobre a vida de Renato Russo, comete exatamente o mesmo erro de Cazuza–O Tempo Não Pára, de Sandra Werneck e Walter Carvalho, de 2004. A homossexualidade assumida de Renato, assim como a de Cazuza, é transformada em uma bissexualidade que não houve em nenhum dos casos. É como se, ao apresentar os dois à juventude atual, os diretores/produtores quisessem torná-los mais palatáveis, quase “normaizinhos”, algo que tanto um quanto o outro odiariam.

Cazuza e Renato Russo se foram cedo deste mundo, vítimas da Aids: Cazuza, em 1990; Renato, em 1996. Em sua vida louca, vida breve, nenhum dos dois jamais almejou ser modelo de comportamento para ninguém. Qual é! Renato brigou do palco com um estádio inteiro, o Mané Garrincha, em 1988. Cazuza mostrava a bunda para a platéia em suas últimas apresentações. Eram autênticos, verdadeiros, viscerais. Nunca abriram mão de suas convicções e de sua loucura poética, até o último momento.

Na época em que foi lançado o filme de Cazuza, o próprio pai do cantor, João Araújo, veio a público criticar os cortes nas cenas de sexo. ”Quiseram ter muito cuidado com o lado homossexual de Cazuza. No que começaram a tomar cuidado demais, para não transparecer e para não virar filme proibido para menores, afastaram-se bastante da realidade”, disse Araújo aos repórteres Pedro Alexandre Sanches e Silvana Arantes, da Folha de S.Paulo. Parceiro de Cazuza no Barão Vermelho, Roberto Frejat estranhou o tratamento dado no filme ao amigo, que aparece transando com mulheres. “Nunca vi prática heterossexual nele. Teve, sim, mas quando não estava completamente convencido de ser gay, bem antes de me conhecer”. Sintomaticamente, Ney Matogrosso, amigo íntimo e ex-namorado de Cazuza, simplesmente desapareceu da versão final.

Com o líder do Legião Urbana a coisa foi parecida –com a diferença de que o filme sobre Cazuza é razoável, e o sobre Renato, ruim. Um desperdício, aliás, porque encontraram um ator, Thiago Mendonça, bastante semelhante a Renato Russo e com boa voz para viver o protagonista, mas o filme se perde em um roteiro fraco, digno da série Malhação se fosse feita pela Record.

Todo mundo que conviveu com Renato em Brasília sabe que ele era muito menos comportado (para dizer o mínimo) do que o garoto sensível e “família” retratado no filme. E que, apesar de ter escrito “gosto de meninos e meninas”, seus casos mais notórios sempre foram com homens. Em Somos Tão Jovens, provavelmente também para fugir da censura 18 anos, como aconteceu com o filme de Cazuza, a questão gay se transforma em algo lateral na vida de Renato e a história se centra em uma personagem feminina que nunca existiu, espécie de amiga-namorada do jovem compositor.

Pior: Renato transa com Aninha, mas não aparece beijando um homem na boca nem uma só vez no filme, como se fosse bacana para uma obra cinematográfica se pautar pelos mesmos (e condenáveis) parâmetros das novelas das nove globais. Os produtores podem até recorrer à desculpa de que o filme aborda a época anterior à fama de Renato Russo, ainda adolescente: é o “retrato do artista quando jovem”, já que o longa termina quando o Legião Urbana começa a fazer sucesso. Mas, mesmo neste período, é conhecido o fato de que o cantor já tinha um namorado fixo. Homem. Então não se trata de licença poética, mas de uma mentira contada a platéias adolescentes inteiras. Renato não tinha nada do menino pueril que aparece no filme. E era gay. Não “mais ou menos gay”. Ponto.

Para os fãs mais velhos de Renato e de Cazuza, fica na boca um gosto de traição. Por que os filmes feitos sobre os nossos ídolos precisam suavizar as biografias deles? Qual o problema em escancarar que eles tinham uma vida louca, sim, que experimentaram drogas, que bebiam e que eram felizmente gays, assumidos? Sinal dos tempos neoconservadores que vivemos? Como diria Cazuza, vamos pedir piedade, Senhor, piedade. Para essa gente careta e covarde.

Theo Chen é um garoto de 12 anos que vive em Cingapura. Em um canal no YouTube, costuma postar vídeos próprios bastante editados, em que fala sobre coisas da vida ou aparece dublando e dançando músicas de artistas que ele curte, como Bruno Mars, Skrillex e Jessie J. Por conta de seu jeito sem pudores (ele dança do jeito que gosta e que quer, com a roupa que lhe der vontade), acabou sendo injustamente criticado na internet. Como resposta, mais um vídeo.
  “Hoje vou falar sobre algo que vem me incomodando nos últimos dois meses. Não será editado como meus outros vídeos”, diz Theo logo no começo. Ele fala, de uma forma madura para um garoto de 12 anos de idade, que tem sofrido muito com as acusações violentas de pessoas homofóbicas, tanto na escola, quanto na internet. “Eu estive recebendo muito ódio online no Ask.FM, Facebook, YouTube. E, verbalmente, as pessoas tem falado muitas coisas más sobre mim”. Apesar de ser chamado de gay, Theo diz com ênfase:

“A verdade é que eu realmente não sei. Vocês pelo menos sabem quantos anos eu tenho? Eu tenho 12 anos, e vocês me chamam de gay? E o que importaria se eu fosse gay? Eu achei que este mundo fosse livre. Vocês não deveriam julgar as pessoas pela sexualidade, mas pela personalidade. E daí se eu andar pela escola afeminado? Não interessa. Vocês exercitam tanto seus estereótipos nesse momento, e vocês não deveriam. Não está certo. Muitos de vocês vão ver este vídeo e dizer ‘Sim, ele é definitivamente gay’. Eu realmente não me importo. Fiz este vídeo pra pedir a vocês que pensem sobre o que dizem”

Chen alerta para os perigos do bullying, diz que gostaria de estar aproveitando a escola, mas não pode, porque as pessoas o atormentam o tempo inteiro. O vídeo já foi visto quase 200 mil vezes (os outros, normalmente, não passam de 8 mil). Assista abaixo a uma versão legendada em português (aqui o original):

 Site Época

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