Depois de percorrer o
Nordeste e de três temporadas de sucesso no Rio de Janeiro e em São
Paulo, o projeto concebido pela atriz paulistana Sara Antunes e pelo
diretor Luiz Fernando Marques tem sessão dia 25 de janeiro, às 19 horas,
no Parque Memorial Quilombo dos Palmares (Serra da Barriga), em União
dos Palmares e dia 26 de janeiro, às 20 horas, no Museu Palácio Floriano
Peixoto (MUPA), em Maceió. Contemplado pelo Prêmio Funarte de Teatro
Myriam Muniz 2013 as apresentações são gratuitas.
Inspirado no conto homônimo
de Monteiro Lobato (1920) e com influências de Gilberto Freyre
(Casa-Grande & Senzala) e Câmara Cascudo, Negrinha representa o
Brasil escravagista pelo ponto de vista de uma criança escrava, a
protagonista Negrinha, identificada apenas por um apelido no diminutivo e
com um futuro reprimido pelas paredes da casa-grande.
E se a história da escravidão
no Brasil fosse recontada pela voz inocente de uma criança? Se os
engenhos de açúcar fossem chamados apenas “casas de açúcar” e a pele
negra de “cor de café”? Mais do que uma peça de teatro, Negrinha é uma
experiência sensorial.
Negrinha é uma pequena
escrava que nasceu em uma senzala. Órfã aos sete anos, vive submetida
aos maus tratos da patroa e ao ambiente opressor de um engenho de açúcar
– lugar que a menina chama de “casa de açúcar”. Ambientada no período
final da escravidão, pouco antes da abolição, a peça tem a intenção de
mostrar uma História diferente da que é contada nos livros, a história
de uma garota que constrói seus sonhos no revés da sociedade.
Chamada apenas de “Negrinha”
pela cor de sua pele, a personagem desenvolve um apreço pelas cores,
especialmente a das pessoas. Por isso, o espetáculo interage com os
espectadores e dá a eles nomes de cores: cor de leite, cor de café, cor
de banana. A brincadeira, fruto de uma extensa pesquisa conceitual, faz
parte de uma metáfora para abordar a questão racial, provocando o
público a refletir sobre uma época do Brasil em que o caráter era
definido pelo tom da pele.
Em Negrinha, Sara está só em
cena e cumpre os dois papéis – autora e intérprete. A peça brinca com as
fronteiras entre ficção e realidade, e propõe à plateia um jogo de
contrários: a luz e a sombra, o cruel e o delicado, o real e o
imaginário. A começar pelo fato de que uma personagem negra é
interpretada por uma atriz branca, tudo o mais é metáfora.
Alimentando-se da mistura
entre o mundo concreto e a fantasia, e do contraste entre a doçura do
açúcar produzido no engenho e a amargura do contexto social, Negrinha
faz um passeio sinestésico pelos sentidos, pois brinca com texturas
visuais, cheiros e sons.
“Queremos convidar o público a
sentir na pele e nos sentidos o ambiente de Negrinha. A peça propõe que
a plateia vivencie a experiência dentro do cenário; forjamos uma
senzala, onde as pessoas sentam em esteiras e cadeiras antigas. Assim,
pertinho, provocamos a sensibilidade dos espectadores. Cheiro de
manjericão, alecrim, café, luz de velas: é uma imersão sensorial”,
entusiasma-se a autora, que integrou a companhia Tablado de Arruar e o
grupo XIX de Teatro, que ajudou a fundar e permaneceu por mais de oito
anos.
Um dos destaques da carreira
de Sara é o espetáculo Sonhos Para Vestir (2011), drama-poético com
texto seu e direção de Vera Holtz, que foi sucesso de público e crítica,
e chegou a representar o Brasil na Quadrienal de Praga. Conhecida
também por sua atuação no cinema, Sara já fez 6 longas-metragens e dois
curtas. Com o cineasta Luis Dantas, é protagonista do longa Se Deus Vier
Que Venha Armando (2013), prêmio de direção no Festival do Ceará. Seus
dois filmes mais recentes, Primeiro Dia de Um Ano Qualquer, de Domingos
Oliveira (com Maitê Proença, Ney Matogrosso, Alexandre Nero e Clarice
Falcão) e As Horas Vulgares, de Rodrigo de Oliveira e Vitor Graize,
entram em cartaz agora em novembro. Além disso, Sara está gravando outro
longa, no Espírito Santo, Teobaldo Morto Romeu Exilado, de Rodrigo de
Oliveira.
Ambientação
O cenário da peça é um
casarão do fim do século XIX, e a montagem acontece fora dos padrões
convencionais de teatro, para provocar uma experiência sensível no
espectador. Como se imergisse numa viagem no tempo, o público encontra a
Casa-Grande, com cadeiras e poltronas de época, e a Senzala, com
esteiras e tocos de madeira.
A iluminação, um delicado
jogo de sombra e luz, é feita por velas e funciona como um coadjuvante
na atuação. “É um trabalho artesanal, voltado para o preciosismo das
palavras, objetos e figurinos, a fim de colocar o espectador em contato
com uma dimensão poética e lúdica, mas ao mesmo tempo apavorante e
cruel. O fim da escravidão e os dias de hoje guardam semelhanças.
As questões sobre a cor, o
preconceito e os fundamentos da história do Brasil são abordadas de
forma lúdica, tendo em vista o aspecto humano primeiramente, as
brincadeiras dela, as amizades. Pelos laços de afeto que destilamos,
evidenciamos questões sociais ainda abertas hoje em dia”, explica Sara.
A peça estreou em 2007, em
São Paulo, e já passou pelo Interior paulista, pelo Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Goiás, Pernambuco e Bahia, entre outros Estados. Depois de
São Paulo, Negrinha segue para o Maranhão, Pará, Bahia e para a Serra
da Barriga (Quilombo dos Palmares), em Alagoas. Para Sara, essa
trajetória tem uma intenção histórico-artística. “Nesta viagem
histórica, Negrinha poderá dialogar com a própria pesquisa in loco,
ampliando assim o debate, dilatando a experiência, aprofundando ainda
mais a compreensão entre pesquisa e prática, arte e vida”, conta a
autora.
Sobre Sara Antunes
Sara Antunes nasceu em São
Paulo, mas tem família mineira e brinca que seu coração é baiano.
Formada em Filosofia na FFLCH-USP e em Arte Dramática pela ECA-USP, é
uma das fundadoras do renomado grupo de teatro XIX, no qual permaneceu
por mais de oito anos e se desligou em 2008. Em 2007, inspirada por
Monteiro Lobato e com incentivo do Programa de Ação Cultural (PAC),
concebeu o espetáculo Negrinha, que montou em parceria com o diretor
Luiz Fernando Marques. Já em sua estreia, no Rio de Janeiro, a peça
despertou o interesse da atriz Maitê Proença, que assistia da plateia e
convidou Sara para compor o elenco do espetáculo que produzia na época,
As Meninas, com direção de Amir Haddad. A peça ficou em cartaz no Rio e
em São Paulo, e foi a porta de entrada para outros convites.
Sara foi chamada por Felipe
Hirsch para fazer parte da remontagem de Temporada de Gripe (2004). Seu
primeiro trabalho como autora, independente do grupo, foi o espetáculo
Sonhos Para Vestir (2011), um drama-poético com texto dela e direção de
Vera Holtz que foi sucesso de público e crítica, e chegou a representar o
Brasil na Quadrienal de Praga. Já foi dirigida por Cleyde Yaconis,
Cristiane Paoli Quito, Marcelo Lazzarato, Sérgio de Carvalho, Amir
Haddad, Vera Holtz, Felipe Hirsch, Domingos de Oliveira, Márcio
Marciano, Renata Zanetha e Zé Celso. Criou e atuou, dentre outras, nas
premiadas Hysteria, Hygiene, Arrufos, As Meninas, Temporada de Gripe,
Vestido de Noiva e Sonhos Para Vestir. Prêmios Fentepira 2008 - Melhor
atriz por Negrinha, melhor espetáculo por Negrinha. PAC 2007 - criação;
PAC 2008 – Circulação; Prêmio Shell de Teatro 2008 - criação de Arrufos;
APCA - Revelação como Grupo Teatral de 2002; Prêmio Qualidade Brasil –
Revelação como Grupo Teatral de 2002; Projeto NASCENTE – USP/ Editora
Abril Vencedor na Categoria Teatro - 2002 Hysteria; Prêmio Qualidade
Brasil.
Sobre Luiz Fernando Marques
Cursou a Escola de Arte
Dramática (EAD) da ECA – USP e é fundador e diretor do Grupo XIX de
Teatro. Criou e dirigiu, dentre outras, as premiadas Hysteria, Hygiene,
Arrufos e Negrinha. Recebeu os prêmios PAC 2007 – Criação, PAC 2008 –
Circulação (com o espetáculo Negrinha), Prêmio Shell de Teatro 2008 –
Criação de Arrufos, APCA - Associação Paulista dos Críticos de Arte –
Revelação como Grupo Teatral de 2002; Prêmio Qualidade Brasil –
Revelação como Grupo Teatral de 2002; Projeto NASCENTE – USP/ Editora
Abril – Vencedor na Categoria Teatro – 2002, com Hysteria; Prêmio
Qualidade Brasil – Melhor peça de Drama 2005; Prêmio Shell de Teatro
2002 – indicado na categoria especial pela criação e pesquisa da peça
Hysteria; Prêmio Shell de Teatro 2005 – indicado na categoria especial
pela intervenção artística na Vila Maria Zélia; Prêmio Bravo Prime de
Cultura 2005 – indicado na categoria melhor espetáculo do ano, Hygiene.
Serviço:
NEGRINHA – Direção: Luiz Fernando Marques. Texto: Sara Antunes. Elenco: Sara Antunes. Direção de Arte: Renato Bolelli Rebouças.
Dia 25 de janeiro, às 19
horas, no Parque Memorial Quilombo dos Palmares (Serra da Barriga), em
União dos Palmares (AL). Capacidade: 70 lugares. Ingressos: Ingresso
gratuito (distribuído 1h antes do espetáculo. Sujeito a lotação).
Dia 26 de janeiro, às 20
horas, no Museu Palácio Floriano Peixoto – MUPA, Maceió (AL). Ingressos:
gratuito (distribuído 1h antes do espetáculo. Sujeito a lotação).
Capacidade: 100 pessoas
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar!
Continue nos visitando!