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domingo, 20 de maio de 2012

O Núcleo de Identidade Étnico-Racial

O Núcleo de Identidade Étnico-Racial - NIER, foi criado em janeiro de 2007. Foi uma iniciativa da Secretaria Municipal de Educação de União dos Palmares. Na ocasião era coordenado por mim e formado por mais 04 pessoas, entre profissionais de educação e integrantes do movimento social e cultural local.

O objetivo inicial era desenvolver atividades pedagógicas complementares visando a reformulação de conceitos e valores sobre nossa identidade, além da valorização das manisfestações artístico-culturais pertinentes a identidade étnico-racial da comunidade palmarina.

Durante os anos de 2007 e 2008, período em que coordenei o NIER, as ações estiveram pautadas na Lei Federal 10639/03 que dispõe sobre a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira" no currículo oficial da rede de ensino, bem como, na Lei Municipal 994/03 que preconiza a inclusão no currículo escolar da rede municipal de ensino, conteúdos relativos ao estudo da história do município e da raça negra, na sua formação sócio-político e cultural. Ao longo dos dois anos o NIER desenvolveu diversas ações envolvendo a comunidade escolar urbana e rural, que foram:
  1. Coordenação da Disciplina Cultura Palmarina;

  2. Formação pedagógica envolvendo as escolas da rede;

  3. Cinema na Escola;

  4. Visita à Serra da Barriga;

  5. Exposição fotográfica - União dos Palmares: imagens de uma história;

  6. Implantação de diversas manifestações da cultura popular nas escolas: capoeira, guerreiro, coco-de-roda, dança de rua;

  7. Coordenação do Espaço Cultural Acotirene - ESCA;

  8. Implementação de atividades complementares educativas: balé, teatro, hiep tai chi;

  9. Passeio turístico em União dos Palmares - Revisitando a história local;

  10. Palestras e apresentações artístico-culturais em diversas instituições de ensino;

  11. 1ª escola da rede municipal grafitada.
Abrangência das Atividades Complementares Educativas desenvolvidas pelo NIER até junho de 2008, período em que o coordenei:

  • 20 escolas da zona urbana e rural;

  • 01 Associação de MOradores na comunidade Cavaco;

  • 814 alunos da rede municipal atendidos regularmente;

  • 37 profissionais atuando diretamente nas ações do NIER.
Sem dúvidas, no período acima mencionado, o Projeto do NIER consolidou uma ideologia que esteve pautada na democratização do acesso ao conhecimento e a memória, responsáveis pelo reconhecimento de uma identidade.






Blog Márcia Susana

Entrevista com Sérgio Rogério


Marcelo: Onde você passou sua infância e o que se lembra dessa época?

SR: Uma parte dela, bem pequena, em Pernambuco, onde nasci no Engenho Santa Teresa da cidade de Água Preta, nasci mesmo em Palmares. E outra parte aqui em União no bairro Cohab Velha. Lembro e recordo do campo de futebol, das ruas com lama, da Praça da Cohab, lembro de buscar água no chafariz, das brincadeiras, do rio Cana Brava, quando íamos lavar roupa e prato, minha mãe e as vizinhas, é claro, eu ia mesmo era brincar e tomar banho.

Marcelo: Como foi o episódio que você tomou água sanitária?

SR: Kkkkkkkkkk, menino isso eu contei em off, mas já que você perguntou... Como disse, morávamos na Cohab Velha, na década de 80 a falta de água era constante e o rio Cana Brava ainda era limpo, o bairro Abolição nem existia. Então, certo dia, minha mãe se preparou para ir lavar roupa no rio, colocou as roupas na bacia, separou sabão em pó, sabão em pedra, e água sanitária, que deixou em um caneco embaixo da torneira do filtro de barro. Nessa época acho que não tínhamos geladeira ainda. Eu, afoito para ir ao rio tomar banho e brincar, vim correndo, com sede, peguei o caneco, cheio de água sanitária, não senti nem o cheiro, de uma golada só, tomei, na mesma hora desmaiei. Eu era até mais gordinho, de lá para cá foi muito desmaio.

Marcelo: Você e sua família foram morar em que ano no bairro Roberto Correia de Araújo?

SR: Em 1998, quando meu pai se aposentou da usina Laginha ele comprou uma casa, esta que hoje moramos.

Marcelo: Houve mudanças no bairro de lá pra cá?

SR: Muitas, primeiro a pavimentação, que infelizmente não ocorreu em todas as ruas; depois, o crescimento, um pouco, ou melhor, muito tosco. Mas muito ainda precisa ser feito, é só olhar para ver.

Marcelo: Quais escolas você passou aqui em União dos Palmares?

SR: Tiveram uns jardins no Paulo Sarmento e onde hoje é o Correia Vianna, mas o grosso foi: Jorge de Lima, de 1ª a 4ª; Mário Gomes, de 5ª a 8ª; e Santa do 1º ao 3º.

Marcelo: Em que momento você começou a participar de movimentos sociais?

SR: No ano 1996, especificamente em março entrei da PJMP – Pastoral da Juventude do Meio Popular. Uma pastoral da igreja Católica que visa articular a juventude empobrecida trabalhando especificamente na formação. A partir daí vieram a Associação de Jovens, a AESP, o SINTEAL, Associação de Moradores etc. A PJMP foi berço, e um bom berço.

Marcelo: É desse engajamento que fez você se tornar uma pessoa politizada?

SR: Sim, sem dúvida. Na PJMP nós aprendemos a discutir, logo cedo, a verdadeira essência da política, discutir economia, sexualidade, organização, meio ambiente, participação, engajamento, luta de classes, políticas públicas, religiosidade etc; tudo tendo como fonte o Evangelho de Jesus Cristo. A discussão da PJMP e de outros grupos, na igreja, é fazer a evangelização voltados para o momento atual, ter a bíblia como fonte e confrontá-la com o hoje.

Marcelo: Em que ano se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT)?

SR: Em 1999, ainda bem jovem. Por perceber que a política, partidária nesse caso, não é coisa apenas para adultos, a juventude também pode, e deve participar, discutindo, ou, quem sabe, se candidatando a qualquer cargo.

Marcelo: Você pretende se candidatar a Vereador nas próximas eleições?

SR: Marcelo, como aprendi desde cedo a escolher meus representantes, coordenadores de grupo, ou ser escolhido para tal, às vezes que fui; digo-lhe que, sinceramente, esta não é uma decisão minha, se acontecer, como quase aconteceu em 2008, não será decisão minha apenas, mas sim de um grupo de amigos, inicialmente os filiados ao PT depois outros que temos laços fortes de amizade e engajamento nas lutas e também do colegiado do partido, respeitando as decisões de grupo, mas se for fique sabendo, será dentro daquilo que sempre defendemos, ética e decência.

Marcelo: Quem na política atual você tira o chapéu?

SR: Tiro o chapéu para muita gente, mas não quero ir longe, posso tirar para pessoas, inclusive, que nunca se candidataram, mas como a palavra política lembra eleições falarei daquelas que já fizeram isso: Enumero, Mário Bispo, iniciei fazendo política partidária nas campanhas dele, Manoel Feliciano incansavelmente articulando a Zona Rural, Genisete Lucena pelo brilhante trabalho desenvolvido quando Vereadora e mesmo sem ser. Marciângela Gonçalves e Luana Tavares pela coragem e ousadia de em 2008 terem enfrentado, sem estrutura, além dos políticos, uma parcela da sociedade que acredita que só podem se candidatar ricos, adultos, poderosos, homens e quem têm um padrinho político grande.

Marcelo: E pra quem você não tira?

SR: Não gosto da política coronelista que ainda temos, não gosto da forma arrogante de fazer política, não gosto da maneira de Manoel Gomes de Barros de fazer política.

Marcelo: O que vc acha da atuação do prefeito Areski de Freitas?

SR: Pelo que venho acompanhando, desastrosa. Praça que não tem mais fim; projeto de sub-secretário com salário retroativo; merenda superfaturada; lixo nas ruas; troca–troca de secretários etc etc etc.

Marcelo: Todas as terças-feiras vc vai para a Câmara de Vereadores e como começou esse hábito?

SR: Na igreja Católica tinha um grupo chamado Equipe de Mobilização, que se revezavam quando as sessões eram à noite ainda e a PJMP fazia parte, depois com a fundação da AESP – Associação dos Estudantes Palmarinos, em 2001, resolvemos acompanhar as sessões também, naquela luta incansável de não ver os estudantes palmarinos pagarem por transporte para ir a Maceió, deles o que mais se identificou fui eu, daí, fiquei até hoje.

Marcelo: Por que as pessoas não têm interesse em participar das sessões da câmara?

SR: Primeiramente elas são chatas mesmo, depois a gente não pode falar, é uma ação meio que passiva, sem contar que elas começam muito fora do horário, com esse conjunto acaba afastando algumas pessoas, mas digo, já foi pior em nível de participação.

Marcelo: Há quanto tempo tem o blog e qual foi a finalidade da criação dele?

SR: Fundamos em 2008, um grupo de amigos Márcio, Elane, Luana, Leonildo, Wilton, Gilmar, Tarcísio, Misselene etc. Com a finalidade de levantar o debate aqui em União acerca de várias questões, principalmente, políticas e sociais.

Marcelo: Qual foi a postagem mais impactante que vc colocou no Acorda União?

SR: Não lembro, ou não sei, porque a gente nunca sabe realmente quantas pessoas viram se uma duas, cem, mil, um milhão; mas uns textos que o Tarcísio colocava geravam sempre muitos comentários.

Marcelo: Como foi seu começo na Rádio Zumbi?

SR: O Silvio Sarmento viu uma postagem que coloquei no blog sobre a Câmara, gostou da forma como fiz, relatando quase que como se fosse a Ata oficial, de forma imparcial, daí ele me convidou para fazer parte do programa Pense Nisso às quartas-feiras para relatar também no rádio as sessões da Câmara, aceitei e estou lá até hoje.

Marcelo: Estamos perto de completar um ano de Mesa Z Cidadania, qual sua análise nesse momento do programa?

SR: É um programa que veio para contribuir, ele tem um formato diferente daquilo que a população palmarina estava acostumada a ouvir aqui nas rádios. Acho que nós estamos contribuindo com a sociedade, seja esclarecendo, alertando, informando, denunciando... Mesa Z é a fala da Cidadania.

Marcelo: Sérgio, junho último houve uma tragédia na região, uma enchente que vitimou muitas famílias como a sua, antes do acontecimento vcs se prepararam para retirar os móveis, objetos etc?

SR: Sim, no dia, instantes antes, como a casa é forrada, e imaginamos, como muita gente imaginou, que a água não iria tão alto, colocamos a maioria dos objetos no forro, duas horas depois, estava tudo submerso, perdemos algumas coisas, nos entristecemos, mas o essencial, que é a vida, e coragem para continuar, prevaleceram.

Marcelo: O que você da nota 10 aqui em União?

SR: A nossa História, mesmo sem a maioria valorizar, essa não vai mudar nunca.

Marcelo: E o que você da nota 0?

SR: A desvalorização da Cultura, da História, os podres poderes.

Marcelo: Já tinha acontecido algo parecido na sua rua?

SR: Em relação à enchente, sim, a enchente de 2000, como disse, ninguém imagina que a água chegasse tão alto. Acredito que a maioria das pessoas se baseou na última enchente, por isso que muita gente perdeu vários objetos.

Marcelo: Você se formou em Letras pela Universidade Estadual de Alagoas, pretende lecionar?

SR: Sim, vejo na educação a saída para muita coisa ruim existente no mundo e quero dar a minha contribuição enquanto educador de sala de aula também.

Marcelo: Como é seu trabalho na UNEAL?

SR: Ótimo, o clima é dos melhores, bem harmônico todos se entendem, cada um fazendo o seu trabalho, já nos consideramos uma família apesar do pouco tempo enquanto companheiros de trabalho.

Marcelo: O que vc costuma assistir na TV?

SR: Programas educativos, telejornal e programas de entrevista.

Marcelo: Que tipo de música você gosta?

SR: MPB - cito Milton Nascimento, Cazuza, Zé Ramalho, Almir Sater, Caetano Veloso, Djavan e outros tão bons quanto esses.

Marcelo: Qual o seu gênero de filme preferido?

SR: Gosto de filmes brasileiros, sempre gostei, o gênero, nesse caso, é apenas um detalhe.

Marcelo: Ta chegando as festas de final de ano, vc prefere natal ou ano novo?

SR: Gosto de Festas, mas sempre achei Natal e Ano Novo festas morgadas, cheias de muita ilusão e os seus reais sentidos sendo escanteados pelo Capitalismo onde diz que é mais feliz quem compra mais.

Marcelo: Sérgio muito obrigado fique a vontade para fala o que vc quiser.

SR: Muito obrigado Marcelo pela entrevista, não quero dizer mais nada já disse muito, o restante, se é que você deixou sobrar algo, fica para próxima.