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quarta-feira, 10 de maio de 2017

O que é ser um bom Professor?

Além das competências científico-pedagógicas, é exigido ao professor que tenha preocupações éticas no exercício da sua profissão

Olimpio Tavares*

Na sociedade em que vivemos existe um conjunto de pessoas cuja ocupação é fazer os alunos aprender o que há de melhor na cultura humana. Essas pessoas são vulgarmente conhecidas como professores. A intenção desta reflexão é traçar, de forma crítica, o perfil de um bom professor.

A condição necessária para se ser um bom professor é estar munido de uma competência científica e uma competência pedagógica. Contudo, há que salientar, que apesar de as duas componentes serem essenciais para o exercício da profissão docente, não são, na prática, condições suficientes para qualificar um bom professor.

Um bom professor é aquele que põem em prática um conjunto de estratégias pedagógicas que leva o aluno a melhorar significativamente o seu estado de aprendizagem. Um bom professor não é aquele que está convencido que sabe tudo e funciona como uma espécie de enciclopédia para o aluno. Um bom professor é aquele que procura saber quais são as reais dificuldades dos alunos para depois escolher a estratégia mais adequada para ajudá-lo a sair do impasse. Um bom professor não aquele que está distante do aluno e nem sequer está preocupado com as dificuldades que este apresenta.

Um bom professor é aquele que domina os conteúdos e ao mesmo tempo encontra estratégia adequada para levar o aluno a compreender e aprender. Um bom professor não é aquele que limita a dar aulas ou a transmitir um conjunto de conhecimentos de uma forma acrítica, e, por outro lado, “obriga” os seus alunos a memorizarem os apontamentos para posteriormente reproduzir nos testes. Um bom professor é aquele que investiga quer a experiência dos outros quer a sua própria experiência pedagógica, a fim de aperfeiçoar a sua prática, e consequentemente, melhorar a aprendizagem dos alunos. Um bom professor não é aquele que se estagnou no tempo, ou seja, considera que a sua formação inicial é suficiente e definitiva, daí não vê razões para investigar ou questionar a sua própria prática.

Um bom professor é aquele que está aberto ao feedback dos alunos em relação à sua prática pedagógica. Um bom professor não aquele que se considera autossuficiente quer do ponto de vista científico quer do ponto de vista pedagógico. Um bom professor é aquele que partilha as suas dificuldades pedagógicas com os seus pares. Um bom professor não é aquele que se fecha em si mesmo, impossibilitando assim qualquer partilha do ponto de vista pedagógico. Enfim, um bom professor é aquele que está sempre disponível para atualizar os seus conhecimentos, e procura colocar os seus alunos nas fronteiras do conhecimento.

Para além das competências científico-pedagógicas que foram ditos acima, é exigido ao professor que tenha preocupações éticas no exercício da sua profissão. Como em qualquer profissão, o professor deve ser exemplar no desempenho das suas funções, quer no ambiente escolar quer na sociedade em geral. Além disso, o bom relacionamento com os seus pares e com os seus alunos contribui de sobremaneira para o seu equilíbrio psicológico e profissional.

É preciso acrescentar, que nos dias que correm a dimensão ética do professor está claramente descurada em relação à dimensão científico-pedagógica. Mas isso deve-se, sobretudo, à tendência tecnocrata do ensino pós-moderno. O que interessa é fazer com que os alunos aprendam as matérias, e isso é o essencial. O resto, como a dimensão ética, é considerada acessória na medida em que não contribui diretamente para competência do aluno. Essa visão neutra do ensino deve ser combatida vivamente, a meu ver, uma vez que a escola não é apenas um lugar para aprender “coisas úteis”; é também um lugar para o indivíduo aprender a tratar os outros com justiça, equidade e amor.

Ser um bom professor não é uma tarefa fácil. Exige um esforço intelectual e moral no sentido de aperfeiçoar-se cada vez mais. Não se é bom professor pelo simples facto de os outos o afirmarem. É-se bom professor pelo esforço e dedicação em relação a aquilo que deve ser feito. E isso muitas vezes não é visto pelos outros.

*Licenciado em Filosofia, pela Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Atualmente, leciona Filosofia na Escola Secundária “Olegário Tavares”, na vila de Achada do Monte (interior de Santiago).