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domingo, 27 de novembro de 2016

A quem interessa a Educação?

Certeiro. Pelas Barbas do Profeta crava posicionamento sobre a soberba de nossos mestres em nossa formação. Rousseau, Paulo Freire e o que importa: Na educação, o menos é sempre mais...

Meu filho, desde pequenino, é daqueles garotos fechados, tímidos, com dificuldades em se relacionar com pessoas ou em adentrar em novos ciclos de amizades, embora muito educado e inteligente. Não é daqueles ligados ao esporte. Não gosta de futebol. Com seus atuais 13 anos nunca me pediu bola de presente.

No entanto, na Copa da África do Sul, em 2.010, consegui fazer com que se empolgasse um pouquinho com um álbum de figurinhas que nós colecionamos e, na escola, haveria um campeonato temático da Copa, onde cada sala representaria um selecionado e a dele seria justamente o Brasil. Ele me disse que queria participar. Seria seu primeiro contato com um torneio de futebol. Mesmo sem saber jogar bola, estava empolgado. E eu, percebi que ele poderia fazer alguns amigos. Fiquei feliz.

Passado uma semana, a mãe me conta que ele, ao sair da escola chorando, disse que não queria mais saber de esporte nenhum. Nunca mais! Uma sensação de indignação, impotência e raiva perturbava o habitual silêncio daquele “serzinho” de 06 anos, ali rompido e exposto por incontidas e sofridas lágrimas.

Mas quem, porventura, de dentro de um centro de educação – que objetiva formar para a vida, teria minado meu plano de fazê-lo afeito ao futebol ou aos esportes, dos quais decorrem importantes cuidados com a saúde, o corpo, convivência, relacionamentos e tal? Teriam, os educadores que eu escolhi para formar meu filho, jogado água no “tetê” dele (e no meu chope)?

Permitam-me um aparte: No “Contrato Social” de Rousseau (um cara bom de copo, papo e mulheres), da Revolução Francesa do século XVIII, um entendimento dele fez a minha cabeça: a de que o homem é bom por natureza, no entanto, a sociedade o corrompe.

Confirmei a máxima, porque meu filho é bom por natureza. E sei que sou (ou fui) também. Aliás, encontro muitas dificuldades em minha educação de pai porque ele age muito igual a mim, na idade dele. Incrível como vejo um filme se repetir em minha mente e eu, por muitas vezes, tenho a vontade apenas de assisti-lo sem interromper, para saber se ele agiria diferente de mim e, assim, aprender também com ele.

As crianças tomam muitas decisões sozinhas. Daí eu entendo que o amparo do Estado deva estar na formação de uma criança para a vida em sociedade, com seus pares, e não para o mercado capital e nem para nenhum líder socialista, ainda mais diante da panela “democrática” em que vivemos hoje.

Na escola, uma criança deve entender – e só entender – as diferenças, para aprender a respeitá-las. Deve, concomitantemente, conhecer as leis, ainda que para rompê-las (pelos próprios caminhos legais), principalmente porque o Art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro nos diz que: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.

E as escolas, públicas ou particulares, não se preocupam com isso hoje... Não sei se já se preocuparam com isso um dia... Sejam suas crianças boas, como atesta Rousseau, ou repulsivas em seu estado natural, como certificaria Tomas Hobbes um século antes, em “O Leviatã”.

O fato é que ninguém está preocupado em formar ninguém para a vida em sociedade, o que quer dizer que não se forma ninguém para a liberdade e, diante do respeito e entendimento às leis, nem à igualdade, mas, senão, unicamente para um sistema ou para um líder. Daí eu entendi aquela ponderação de Rousseau: apesar de o homem nascer bom, a sociedade o corrompe...
E percebendo estar diante do que me pareceu ser a primeira experiência de fúria do meu (ainda “bom”) filho, o educador crítico Paulo Freire me deu o entendimento: “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.

Mas a mãe (sempre elas) conseguira extrair o ocorrido daquela criança. Meu filho, por não saber jogar – e também por ser muito tímido, decidira que seu melhor destino seria o gol (eu fui goleiro). Seu educador, para formar a seleçãozinha, adotou o seguinte critério pedagógico:

- Aí, turma, quem quer ser goleiro fica aqui – Três se candidataram, meu filho entre estes.

- Agora o resto da turma forma fila atrás daquele que quer que seja o seu goleiro!

Os garotos se perfilaram atrás de dois dos três candidatos. Meu filho fora preterido, isolado do grupo. Absolutamente, ninguém o quis como goleiro...

Do ponto de vista da formação educacional, posso garantir que nem ele queria ser goleiro de fato. Sei que ele estava, na verdade, buscando amigos, pessoas para se relacionar em sua incauta vidinha pré-social. Assim, podemos concluir que, para ele, ninguém o quis como amigo...

No relato da mãe para mim, pude ver seus olhos raivosos e cheios de lágrima diante do esforço dele em se fazer presente em um grupo social, buscando apenas integração e convívio. Uma decisão solitária (crianças tomam muitas decisões sozinhas), advinda certamente de uma necessidade natural do homem que, desde os primórdios da raça, vive em bando.

Provoquei uma reunião na escola, com a Diretora e o tal “Mestre”. Diante dele, pedi sua formação acadêmica. Foi soberbo, quando poderia ter sido simples. Perguntei-lhe, então, por que era um Professor. Foi vazio... Justamente onde eu esperava o verdadeiro conteúdo. Uma pessoa não escolhe ser professor, a profissão o escolhe. Insisti com uma derradeira pergunta: - Imagino que o senhor deva fazer um esforço muito grande para colocar as crianças em uma competição esportiva, preparando-as e tal. Imagino que o senhor as incentive a competir, a conquistar vitórias... Estou correto? Ele não titubeou em dizer um SIM maiúsculo.
Me dirigi, então, para a Diretora, que assistia a tudo, falando-lhe: - Eu penso que o esporte é integração, principalmente para quem trabalha com crianças de 06 anos e no primeiro ano da vida letiva. Se seu professor estimula a competitividade, ele está buscando campeões (leviatãs) e não homens sociais. Ele não estimula a convivência, ao contrário, ele segrega. Ele é exclusivo e não inclusivo. Não seria melhor, para ele, lecionar esportes individuais, com aulas individuais, em uma sala bem fechada e exclusiva, sendo ela qualquer aula, para qualquer um, exclusivamente, senhora Diretora?

O esforço inconsequente de meu filho para relacionamentos, diante de seu “déficit” de desenvolvimento intrapessoal e interpessoal, acabou por condená-lo a um rebaixamento social. Isso, em pouco se coaduna com sua capacidade cognitiva de ser um bom aluno, como é. O dito “Professor” optou por revelar precocemente ao jovem de 06 anos como é a vida “lá fora”, e sobre como ele será corrompido. Seja ela para um mercado capitalista, seja ela para um líder populista. Ele optou em oprimir a vida de meu filho diretamente por seus “comandados” e “desavisados” alunos (que, certamente, não buscavam isso), para que seus sonhos fossem, um dia, quiçá, ser um opressor.

Para a Diretora do Colégio, lamentei que seus Educadores estavam igualmente contaminados às inutilidades da vida, posto que em pouco são capacitados para formar pessoas humanas próprias, mas, senão, apenas peças capazes de se encaixar em algum tabuleiro. Que nem em alcunha, nem em ironia, seriam taxados Mestres. A soberba do conhecimento e do estudo em nada representa a futilidade do empenho em se tentar “trabalhar” como professor, mas ao contrário, o faz, igualmente, vítima, e sem disso saber. Afinal, ou eles também servem ao capital ou a um líder qualquer.

Um Professor deve, na verdade, servir ao aluno, que é a quem exatamente importa a correta e estrita educação. Entender cada pensamento, respeitar cada forma, assim como o faz um agrônomo, que dispensa exclusivos tratamentos para cada silenciosa árvore que brota. Isso é o que faz o educador, na atenção de cada raiz que busca firmar-se na terra e assim aflorar e dar-nos frutos. E quando a árvore é o homem, a atenção deve ser voltar para seus pequeninos e próprios enraizados caráteres morais.

Porque pequenas crianças não são pequenos detalhes, ao contrário, são grandes detalhes, maiores até que a própria razão. Maiores até que quaisquer razões. E o homem que se dispõe a educar, precisa aprender a aprender com cada um deles, devendo de bom grado, sempre se fazer pequeno, para só então formar grandes homens. Na educação, o menos é sempre mais...