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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Jorge de Lima, doutor em poesia

Pais do poeta: José Matheus de Lima e Delmina Simões de Lima

Casa em que o poeta nasceu em União dos Palmares

Jorge Mateus de Lima nasceu em União dos Palmares no dia 23 de abril de 1893 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 15 de novembro de 1953. Era filho de José Matheus de Lima, um rico comerciante, e Delmina Simões.

Com seus irmãos José, Araci, Edmundo e Hidelbrado, residia num sobrado da Praça da Matriz. Sua mãe gostava de leitura e seu pai era uma pessoa bem informada politicamente, o que veio a facilitar sua educação.
Os seus primeiros versos são datados de 1899 e foram guardados por sua mãe. Nesse mesmo período, mesmo fragilizado pela asma, também se aproxima da pintura.
Em 1902, seu pai expande os negócios e abre uma loja em Maceió. Esse investimento da família atendeu também a necessidade da continuidade dos estudos dos filhos na capital.
Jorge e seu irmão Matheus, no ano seguinte, concluem o estudo primário no Instituto Alagoano, que em 1904 passaria a se chamar Colégio Diocesano, após ser adquirido pelo Bispado.
O bom desempenho de Jorge de Lima nos torneios recitativos chama a atenção do professor Irmão Agostinho, que passa a incentivá-lo oferendo livros para o jovem poeta. Conhece Jackson de Figueiredo, que mais tarde seria um filósofo consagrado, e com a ajuda dele tem contato com a literatura materialista, racionalista e evolucionista.
São seus colegas de estudos: Octávio Brandão, Pontes de Miranda, Estácio de Lima e Virgílio Maurício. Aprovado nos exames preparatórios do Lyceu Alagoano, matricula-se na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1909, onde permanece até 1914, quando se transfere para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, buscando praticar a medicina. Em seguida é aprovado em concurso para o Hospital Central do Exército e consegue o doutorado em Medicina.
Em 1915, Jorge de Lima já estava de volta a Alagoas, onde passou a clinicar, escrever e fazer política. Nessa época morava na atual Rua Cônego Machado. Seu consultório era na Farmácia Industrial, que ficava na Rua do Comércio.
Já era um poeta renomado. Seu primeiro livro, XIV Alexandrinos, tinha sido publicado no a no anterior e fazia muito sucesso, destacando-se seu soneto O acendedor de Lampiões.
Casa-se com Adila Alves em 1916, após passar pouco tempo em Belém do Pará. Já em Maceió, participa ativamente da campanha de salvamento de vidas humanas quando da epidemia de Influenza, a gripe espanhola que vitimou milhares de vidas em 1918. Ele mesmo contrai a doença, mas sobrevive.
Muda-se para a Praça Sinimbu e vê sua clientela crescer, principalmente por não cobrar dos mais necessitados, além de fornecer os medicamentos. Essa prática chama a atenção do governador Fernandes Lima, que vê no jovem médico potencial político.
Lançado candidato a deputado estadual, consegue ser eleito em 1918 e novamente em 1921. Mas logo se desentendeu com o grupo governista e renunciou ao mandato alegando questões éticas.
Com um grupo de intelectuais, funda a Academia Alagoana de Letras, em 1919. Ainda doente, vai para o Rio de Janeiro, mas volta logo e torna-se sócio do Ponto Chic, empreendimento que não deu certo.
Em 1925, é um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Alagoas e, mais adiante, ingressa no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. No ano seguinte adere ao movimento modernista.
No final da década de 20, lança pela Tipografia Trigueiros o livro Poemas. Em seguida publica Essa Nêga Fulô, provocando muitas reações e polêmicas.
Com a Revolução de 1930, Jorge de Lima recebe do interventor Luís de França o cargo de diretor do Lyceu Alagoano. Em seguida ocupa a Direção Geral da Instrução Pública e a Direção Geral de Saúde Pública. Por esta época, Jorge de Lima abandona o materialismo e se converte ao cristianismo, após uma breve experiência no espiritismo.
No dia 30 de agosto de 1931, por motivos passionais, sofre um atentado em pleno Centro de Maceió, na porta do Liceu Alagoano. O autor do disparo foi o jovem advogado Rodolfo Lins, que morreria no célebre tiroteio do Hotel Bella Vista em 1935. O poeta tem o apoio e a solidariedade da sociedade alagoana, mas decide ir morar no Rio de Janeiro.
Na capital federal abre um consultório na Cinelândia, que logo foi transformado também em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Por lá passaram Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia.
Devido ao seu espirito humanitário, que em Alagoas o aproximou dos pescadores e mais humildes e que no Rio de Janeiro o levou a ser popular entre os motoristas, passou a ser identificado como esquerdista e comunista.
Em 1937, ao mesmo tempo em que preside a União dos Intelectuais do Brasil, participa ativamente da campanha presidencial de José Américo de Almeida e, em 1945, da campanha pela redemocratização, quando apoia a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes.
Entre 1937 e 1945 teve sua candidatura à Academia Brasileira de Letras recusada por seis vezes. Em 1939, passou a dedicar-se também às artes plásticas, participando de algumas exposições.
 Com a redemocratização, em 1945, é eleito vereador, chegando a presidir a Câmara. Ainda na política, em 1950, incentivou a candidatura vitoriosa do jornalista Arnon de Melo ao Governo de Alagoas.
É aprovado como professor de Literatura Brasileira da Universidade do Distrito Federal e eleito presidente da Sociedade Carioca de Escritores, além de ser nomeado pelo MEC para o Conselho Nacional de Literatura Infantil.
Em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico Invenção de Orfeu. Em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos.

Poesias

XIV Alexandrinos (1914)
O Mundo do Menino Impossível (1925)
Poemas (1927)
Novos Poemas (1929)
O acendedor de lampiões (1932)
Tempo e Eternidade (1935)
A Túnica Inconsútil (1938)

Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
Poemas Negros (1947)
Livro de Sonetos (1949)
Obra Poética (1950)
Invenção de Orfeu (1952)

Romances

Os anjos da noite Bizo (1934)
Calunga (1935)
A mulher obscura (1939)
Guerra dentro do beco (1950)


Jorge de LIma entre seus irmãos Matheus, Araci, Edmundo e Hildebrando  /  Jorge Lima em 1914, na sua formatura em Medicina no Rio de Janeiro  

Ádila, a esposa, no ano de seu casamento com Jorge, em 1917
 Da esquerda para a direita: Carlos Moliterno, Sílvio de Macedo, Jorge de Lima, Arnoldo Jambo e Jorge Cooper, em Maceió no dia 3 de agosto de 1951

Fundação da Academia de Letras em 1º de novembro de 1919. Jorge de Lima é o último sentado à direita

Jorge de Lima no consultório do Edifício Amarelinho, na Cinelândia