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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Uma conversa bastante proveitosa

Semana passada, tive uma conversa reservada, franca, aberta, dentro do maior respeito e cordialidade com o novo prefeito de União dos Palmares, o agro-pecuarista Eduardo Pedrosa. 

Aqueles que me conhecem sabem que tenho pautado toda a minha vida na honestidade, seriedade, ética profissional e humildade, por isso não poderia jamais fugir de meus princípios.

Eduardo me fez uma pergunta, e eu disse na oportunidade que se fosse para dizer o que ele queria ouvir, estava diante da pessoa errada. Sempre fui sincero comigo mesmo e jamais poderia trair meus conhecimentos políticos e, principalmente minha consciência. Falei ao prefeito o que pensava em relação à escolha de seus assessores e sobre seu início  de administração.   

Pedrosa me falou que gosta de pessoas assim, porque não aceita mentiras e se alguém falar somente para lhe agradar, esse não fará parte de seu governo; assim espero!

Faço minhas  as palavras do prefeito. Não nasci para agradar a ninguém com mentiras e falcatruas, sou imperfeito, assim como todos, porque perfeição só em Jesus Cristo, porém, faço todo o esforço possível para buscar sempre os acertos mesmo que possa me causar danos irreparáveis.

Disse ao chefe do executivo palmarino que, quando qualquer secretário ou assessor usar de artimanhas para lhe agradar e começar a esconder a verdade sobre a administração, é hora de afasta-lo, porque esses que assim agem não têm caráter, não têm postura, não têm conhecimento, não têm respeito, não são amigos, querem única e exclusivamente agradar para garantir o emprego na prefeitura. Se o povo estiver reclamando de determinado problema que por ventura esteja ocorrendo na cidade, e o assessor disser que está tudo bem, pode afasta-lo, porque esse não serve.

Na ocasião, Eduardo me perguntou como eu observava esse primeiro mês de governo e como eu avaliava a escolha de seus assessores. Fui franco, direto e objetivo: Eduardo, perfeição só em Cristo. Com isso, evidentemente que já tinha respondido parte de sua pergunta.

Em relação aos secretários é bem verdade que alguns nomes me causaram surpresa, não só a mim, mas grande parte da população e, sobretudo, do mundo político, porque não possuem condições profissionais para exercer tal cargo.

No segundo escalão, pessoas que não tem perfil, condições éticas, morais e profissionais para assumirem determinados departamentos, mas como um todo, as escolhas foram do agrado da população.

Tenho restrições a alguns nomes, e essa não é simplesmente minha opinião, é a opinião de grande parte dos palmarinos. O problema também está nos famigerados acordos políticos, e acordos têm que ser cumpridos, por isso é que se diz que “política é a arte de engolir sapo”.

A população sabe da necessidade de ter uma cidade limpa. Existem, é bem verdade, aquelas ações administrativas que dependem exclusivamente de planejamento e vontade política. Apesar de um mês a frente do governo municipal, o trânsito continua caótico, a feira livre precisa urgentemente ser reordenada, e esta calamidade que tem sido a falta d’água nos lares dos palmarinos, tem que ter uma solução definitiva.  

Afirmei ainda que, sua presença na cidade, conversando e interagindo com o povo para saber de seus problemas e necessidades, indo as escolas,  aos bairros mais carentes, visita a feira livre, tudo isso é muito importante, porque o povo quer ver, sentir, tocar  e desabafar seus problemas com o novo prefeito, sem, no entanto, enfrentar aquela famigerada burocracia de gabinete.

Sendo mais claro e objetivo, disse-lhe que ele acertou 90% na escolha do secretariado e que a nomeação de algumas pessoas teria deixado a desejar. Evidentemente que não por culpa única e exclusiva do prefeito, mas, sobretudo, pelos famigerados acordos políticos que sem eles fica praticamente impossível de governar.  

Apesar de tudo, o primeiro mês a frente dos destinos dos palmarinos tem agradado a população, mesmo sem condições financeiras para tocar obras importantes e emergenciais, por causa da catástrofe e “furacão” causado pela administração de Beto Baia.

Antes de terminar esse rápido bate-papo, conclui dizendo: já está na hora Eduardo de você reunir seu secretariado e “bater” na mesa, dizer qual sua metodologia de trabalho e deixar claro que você é o  prefeito e nada poderá ser definido ou acertado sem o seu conhecimento e consentimento, isso para evitar os problemas que imperou na gestão desastrosa do ex-prefeito Beto Baia, onde os secretários deitavam e rolavam, decidiam, admitiam, demitiam  naquela facciosa administração.

Portanto, resta-nos esperar  que esses secretários deem conta do recado, e coloque sua metodologia de trabalho em prática. Apesar do caos financeiro que atravessa a prefeitura, Eduardo Pedrosa tem tudo para realizar uma boa administração. Sabemos que o tempo é curto, mas com inteligência, habilidade, paciência, diálogo, jogo de cintura e muito trabalho, ele têm tudo para chegar lá!
 

Consciência negra ainda não venceu racismo na terra de Zumbi dos Palmares

Preconceito resiste ao Terceiro Milênio, no solo sagrado de República dos Palmares 

“Minha amiga branca disse que não pode ser minha amiga porque sou preta”. A frase choca, mas saiu da inocente boca de uma menina de sete anos de idade. Tainá ainda é uma criança, mas já experimentou na pele a pior face do ser humano: o preconceito. Com certeza sua amiguinha branca não sente verdadeiramente qualquer desprezo por ela, mas repete paradigmas que lhe foram ensinados.

E justamente para combater esta “cultura” de menosprezo aos negros e de “apartheid” que insiste em permanecer na sociedade brasileira, foi instituído o Dia da Consciência Negra. Dia 20 de novembro marca o aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, líder negro que fundou o Quilombo dos Palmares no século XVII em terras hoje de União dos Palmares.

Alagoas, pioneira na resistência dos negros à escravidão e à submissão racial aos brancos, ainda possui uma população muito tradicional e um considerável grupo de pessoas com forte vínculo coronelista.

A ativista Arísia Barros, fundadora do Instituto Raízes de África, comentou o arcaico comportamento de parte da população alagoana. Para ela, Alagoas é um dos estados mais racistas do país. “A população negra do estado de Alagoas, por conta de uma cultura asfixiante que busca impedir o acesso a releituras históricas, é penalizada pela premente ausência de políticas estruturantes”.

Arísia reconhece que houve avanços, principalmente no que concerne à legislação brasileira de proteção à população negra. No entanto, também aponta para a resistência de instituições públicas na implantação da letra da lei. “Alagoas foi o primeiro estado do Brasil a estadualizar a Lei Federal que tornou obrigatório o estudo da história de áfricas e afrodescendentes nos currículos de todas as escolas brasileiras, mas a Lei Estadual nº 6.814/07 tornou-se letra morta pelo desconhecimento e falta de vontade política”.

Os quilombos, que ainda existem em Alagoas e por muitos estados brasileiros, continuam bolsões de miséria, sem cuidados especiais e proteção à cultura negra, a própria história negra local pode estar fadada à extinção. Em muitas comunidades quilombolas de Alagoas, segundo a ativista, “homens e animais tomam água no mesmo poço”.

A materialização da imagem que deveria chocar, na verdade, tem sido aceita pela invisibilidade e naturalização da marginalização do negro, principalmente em Alagoas. Onde, segundo pesquisas, é dos lugares mais perigosos para o negro, o pobre e o favelado, o que piora se a pessoa reunir as três características.

Preconceito em Alagoas é mais que desprezo, mas uma cultura

A professora Márcia Susana Lima, coordenadora do núcleo de identidade étnico-racial da secretaria municipal de educação de União dos Palmares, respeitada pesquisadora sobre a invisibilidade do negro, aponta que a maior carência da população negra em Alagoas é sua participação nos vários setores sociais.

Salientando ainda que é necessária uma equidade na educação pública, nos vários âmbitos, desde a educação básica até o ensino superior. “Esse acesso precisa ser mais democratizado, dando condições justamente para que o negro tenha as mesmas possibilidades que todas as outras pessoas”.

Para a professora, o preconceito que o negro ainda sofre em Alagoas não é questão de desprezo, mas de cultura. “Devido à naturalização do próprio racismo, da inferiorização da população negra, há lacunas que precisam ser preenchidas, mas é um contexto cultural de naturalizações discriminatórias”, registrou.

A luta da população negra ultrapassa a ideia de direitos iguais, sediada está também na luta por oportunidades. Assumindo que os negros partem de um ponto muito atrás de seus concorrentes, os movimentos de combate ao preconceito racial pretendem superar a cultura da meritocracia para igualar as oportunidades.

A professora Márcia Susana Lima ensina que a consciência negra que se espera dos outros é a percepção da necessidade de abandonar o “campo da meritocracia e perceber que nós necessitamos de igualdade de oportunidades para avançar no processo de superação das desigualdades”. Já em relação aos próprios negros, Lima afirma que é essencial que os negros se apercebam de seu papel enquanto agentes deste processo democratizante brasileiro.

A consciência negra nos próprios negros persiste ao “reconhecer nossa ancestralidade, pois ela estruturou o processo de exclusão dos negros em nosso país”. A gente se perceber dentro deste processo. Com relação ao outro, buscar esta igualdade de oportunidade. Admitindo que os elementos sociais fazem parte da formação do negro e que é importante que desde tenra idade esteja inserido em núcleos sociais que fomente sua participação e inserção na sociedade.

Dentre os elementos que fazem parte de sua formação estão a família, assim como outras instituições sociais, como a escola, os grupos sociais que a criança participa. Tudo isto vai contribuir para a formação da identidade da criança e do adulto negro. Os referenciais que são construídos partem das referencias da criança, para o bem e o para o mal, mas também para o ativismo social.

Tanto a professora Márcia Lima, quanto a ativista Arísia Barros, reconhecem que os padrões de branqueamento da sociedade brasileira influenciam na cultura racista e preconceituosa. Para ambas é importante que estes paradigmas sejam rompidos e que isto será possível a partir da mudança de comportamento dos próprios negros e do investimento em educação, com aulas sobre o continente africano, sua história e o resultado Brasil de tudo isso.

Fonte Cada Minuto

Educação e doutrinação Por Fábio Zugman

É difícil educar sem impor sua vontade?

Há muito tempo, quando eu ainda era professor de graduação, tive problemas com um certo colega de trabalho. Eu dava aula de algo chamado “Estratégia Empresarial”, que é uma forma de determinar como as empresas chegam ao lucro e o que fazer para melhorar.

Acontece que os alunos chegavam até mim, após passarem por esse sujeito, professor de Direito (até onde me consta, podia até ser um bom advogado), com colocações do tipo: “Professor, o professor de Direito disse que lucro é ruim e só sobra para o patrão”; “Mas professor, competição tira empregos das pessoas”. Eram coisas que comecei a escutar como “fatos" relatados na aula de Direito.

Certa vez peguei uma prova do sujeito. Ele só falava de exemplos de trabalho escravo, casos de assédio moral que beiravam o absurdo, processo trabalhistas que fariam qualquer um querer pular de um precipício. Não é de admirar que meus alunos, todos com vinte e poucos anos, chegavam a mim achando que o mundo empresarial era uma safadeza só. E lá ia eu, perder horas e horas de aula para desfazer a atitude preguiçosa e covarde do sujeito.

Preguiçosa porque é muito fácil empurrar uma “verdade" qualquer a um punhado de jovens em um contexto educacional. Basta apresentar seu lado como “fatos" da vida. Preguiçosa porque, não tendo nada a ver com sua matéria, o professor não apresentava o contexto das tais teorias da luta de classes, não apresentava os contrapontos, não deixava os alunos pensarem por si. Apresentava, de forma sutil e covarde, “o mundo como ele é”, como se processos de trabalho escravo fossem a regra, não a exceção.

Para quem gosta de um pouco de história, como eu, sabe que esse não é um recurso novo. Prisioneiros de guerra por toda a história foram obrigados a ressaltar as belezas do inimigo e delatar os horrores de sua pátria natal. Na guerra da Coréia, por exemplo, era comum que prisioneiros norte-americanos só tivessem algum conforto após declamarem redações sobre as maravilhas do comunismo.
O cérebro é algo engraçado. Quando você recebe uma informação e a declara em voz alta, algo muda e você passa a se identificar um pouco mais com aquela ideia. Isso não é segredo. Aliás, o objetivo inicial de muitas terapias é mudar nossa “conversa interna” para lidarmos melhor com os problemas que enfrentamos.

Educação e a confiança dos alunos são coisas preciosas. Veja, caro leitor, não estou dizendo que ideias diferentes não devem ser apresentadas. No mínimo, alguém que tem um compromisso real com a postura de professor, deveria mostrar os diferentes ângulos de uma discussão. Pode até honestamente mostrar sua posição. Nunca, a meu ver, apresentar algo como fato consumado da forma como meu colega fazia.

Se quisesse, o sujeito poderia muito bem desenvolver um curso a respeito, se colocar como especialista no assunto para aí, sim, mostrar determinado ponto de vista aos alunos interessados. Inserir sua visão de mundo em outra disciplina é jogo baixo. É uma injustiça com alunos que se matriculam em um curso com um objetivo e de repente recebem outra coisa.

Estou contando essa história em meio a mais uma daquelas confusões causadas pela prova do Enem. Algumas questões, diz-se, possuem viés ideológico (a questão que cai na minha área de conhecimento, em que a globalização teoricamente aumenta os níveis de desemprego no mundo é uma bela porcaria, diga-se de passagem).

Os defensores de todos os lados dizem que estão exagerando, que a coisa não é bem assim, ou que as questões sempre pedem aos alunos para marcar a opção correta de acordo com o texto.

Bem, o “de acordo com o texto” é um comportamento tão ruim quanto os soldados norte-coreanos pedindo aos inimigos para marcarem a “opção correta” na hora de comer, ou meu colega covarde impondo sua versão sobre o mundo em uma aula de direito empresarial. Se você é justo consigo mesmo, não precisa impor sua visão de mundo dessa forma.

Eu não consigo deixar de comentar que, em uma prova que visa determinar quem é mais apto a entrar em uma faculdade, políticos, comentaristas e analistas terem tantas opiniões diferentes é um mau sinal. Faz algum tempo que saí das salas de aula de graduação, mas, se bem me lembro, preferia que meus alunos chegassem com um pouco mais de domínio sobre matemática, lógica, língua portuguesa. As questões que geram problemas são exercícios toscos de interpretação de texto. 

O aluno, mesmo não acreditando que a globalização causa problemas ou que as mulheres são socialmente construídas, se vê forçado a marcar a opção que lhe dará maior probabilidade de passar na prova. Questões complexas que poderiam ser alvo de anos de estudo são relegadas a uma “certeza" de acordo com um trecho curto.

Não sei em que isso ajuda a determinar se tal aluno será um bom profissional no futuro. Sei que foi perdida uma bela oportunidade de avaliar. É difícil educar sem impor sua vontade.

Fonte: 

Fábio Zugman é professor universitário, consultor e palestrante. É autor dos livros Empreendedores esquecidos (Elsevier, 2011); Administração para profissionais liberais (Elsevier, 2005); Governo eletrônico: saiba tudo sobre essa revolução (Livro pronto, 2006); O mito da criatividade (Elsevier, 2008); e coautor de Dicionário de termos de estratégia empresarial (Atlas, 2009) e Criatividade sem segredos (Atlas, 2010).

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