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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Feliz Ano Novo! O Brasil não é feito só de ladrões

Inaugura-se, nesta quinta-feira, novo ano no Calendário Gregoriano, o de número 2015 após o nascimento de Jesus Cristo, 515, depois do Descobrimento, 193, da Independência, e 125, da Proclamação da República.

Tais referências cronológicas ajudam a lembrar que nem o mundo, nem o Brasil, foram feitos em um dia, e que estamos aqui como parte de longo processo histórico que flui em velocidade e forma muitíssimo diferentes daquelas que podem ser apreendidas e entendidas, no plano individual, pela maioria dos cidadãos brasileiros.

Ao longo de todo esse tempo, e mesmo antes do nascimento de Cristo, já existíamos, lutávamos, travávamos batalhas, construíamos barcos e pirâmides, cidades e templos, nações e impérios, observávamos as estrelas, o cair da chuva, o movimento do Sol e da Lua sobre nossas cabeças, e o crescimento das plantas e dos animais.

Em que ponto estamos de nossa História ?

Nesta passagem de ano, somos 200 milhões de brasileiros, que, em sua imensa maioria, trabalham, estudam, plantam,  criam, empreendem, realizam, todos os dias.

Nos últimos anos, voltamos a construir navios, hidrelétricas, refinarias, aeroportos, ferrovias, portos, rodovias, hidrovias, e a fazer coisas que nunca fizemos antes, como submarinos - até mesmo atômicos - ou trens de levitação magnética.

Desde 2002, a safra agrícola duplicou - vai bater novo recorde  este ano -  e a produção de automóveis, triplicou.

Há 12 anos, com 500 bilhões de dólares de PIB, devíamos 40 bilhões de dólares ao FMI, tínhamos uma dívida líquida de mais de 50%, e éramos a décima-quarta economia do mundo.

Hoje, com 2 trilhões e 300 bilhões de dólares de PIB, e 370 bilhões de dólares em reservas monetárias,  somos a sétima maior economia do mundo. Com menos de 6% de desemprego, temos uma dívida líquida de 33%, e um salário mínimo, em dólares, mais de três vezes superior ao que tínhamos naquele momento.

De onde vieram essas conquistas?

Do suor, da persistência, do talento e da criatividade de milhões de brasileiros. E, sobretudo, da confiança que temos em nós mesmos, no nosso trabalho e determinação, e no nosso país.

Não podemos nos iludir. Não estamos sozinhos neste mundo. Competimos com outras grandes nações, que conosco dividem as 10 primeiras posições da economia mundial, por recursos, mercados, influência política e econômica, em escala global.

Não são poucos os países e lideranças externas, que torcem para que nossa nação sucumba, esmoreça, perca o rumo e a confiança, e se entregue, totalmente, a países e regiões do mundo que sempre nos exploraram no passado - e ainda continuam a fazê-lo -  e que adorariam ver diminuída a projeção do Brasil sobre áreas em que temos forte influência geopolítica, como a África e a América Latina.  

Nosso espaço neste planeta, nosso lugar na História, foi conquistado com suor e sangue, por antepassados conhecidos e anônimos, entre outras muitas batalhas, nas lutas coloniais contra portugueses, holandeses, espanhóis e franceses; na Inconfidência Mineira, e nas revoltas que a precederam como a dos Beckman e a de Filipe dos Santos; nas Conjurações Baiana e Carioca, na Revolução Pernambucana; na Revolta dos Malês e no Quilombo de Palmares; na Guerra de Independência até a expulsão das tropas lusitanas; nas Entradas e Bandeiras, com a Conquista do Oeste, da qual tomaram parte também Rondon, Getúlio e Juscelino Kubitscheck; na luta pela Liberdade e a Democracia nos campos de batalha da Europa, na Segunda Guerra Mundial.

As passagens de um ano para outro, deveriam servir para isso: refletir sobre o que somos, e reverenciar patriotas do passado e do presente.

Brasileiros como os que estão trabalhando, neste momento, na selva amazônica, construindo algumas das maiores hidrelétricas do mundo, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio; como os que vão passar o réveillon em clareiras no meio da floresta, longe de suas famílias, instalando torres de linhas de alta tensão de transmissão de eletricidade de centenas de quilômetros de extensão; ou os que estão trabalhando, a dezenas de metros de altura, em nossas praias e montanhas, montando ou dando manutenção em geradores eólicos; ou os que estão construindo gigantescas plataformas de  petróleo com capacidade de exploração de 120.000 barris por dia, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, como as 9 que foram instaladas este ano; ou os que estão construindo novas refinarias e complexos petroquímicos, como a RENEST e o COMPERJ, em Pernambuco e no Rio de Janeiro; ou os que estão trabalhando na ampliação e reforma de portos, como os de Fortaleza, Natal, Salvador, Santos, Recife, ou no término da construção do Superporto do Açu, no Rio de Janeiro; ou os técnicos, oficiais e engenheiros da iniciativa privada e da Marinha que trabalham em estaleiros, siderúrgicas e fundições, para construir nossos novos submarinos convencionais e atômicos, em Itaguaí; os técnicos da AEB - Agência Espacial Brasileira, e do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que acabam de lançar, com colegas chineses, o satélite CBERS-4, com 50% de conteúdo totalmente nacional; os que trabalham nas bases de lançamento espacial de Alcântara e Barreira do Inferno; os oficiais e técnicos da Aeronáutica e da Embraer, que se empenham para que o primeiro teste de voo do cargueiro militar KC-390, o maior avião já construído no Brasil, se dê com sucesso e dentro dos prazos, até o início de 2015; os operários da linha de montagem dos novos blindados do Exército, da família  Guarani, em Sete Lagoas, Minas Gerais, e os engenheiros do exército que os desenvolveram; os que trabalham na linha de montagem dos novos helicópteros das Forças Armadas, na Helibras, e os oficiais, técnicos e operários da IMBEL, que estão montando nossos novos fuzis de assalto, da família IA-2, em Itajubá; os que produzem novos cultivares de cana, feijão, soja e outros alimentos, nos diferentes laboratórios da EMBRAPA; os que estão produzindo navios com o comprimento de mais de dois campos de futebol, e a altura da Torre de Pisa, como o João Candido, o Dragão do Mar, o Celso Furtado, o Henrique Dias, o Quilombo de Palmares, o José Alencar, em Pernambuco e no Rio de Janeiro; os que estão construindo navios-patrulha para a Marinha do Brasil e para marinhas estrangeiras como a da Namíbia, no Ceará; os engenheiros que desenvolvem mísseis de cruzeiro e o Sistema Astros 2020 na AVIBRAS; os que estão na Suécia, trabalhando, junto à Força Aérea daquele país e da SAAB, no desenvolvimento do futuro caça supersônico da FAB, o Gripen NG BR, e na África do Sul, nas instalações da DENEL, e também no Brasil, na Avibras, na Mectron, e na Opto Eletrônica, no projeto do míssil ar-ar A-Darter, que irá equipá-los; os nossos soldados, marinheiros e aviadores, que estão na selva, na caatinga, no mar territorial, ou voando sobre nossas fronteiras, cumprindo o seu papel de defender o país, que precisam dessas novas armas;  os pesquisadores brasileiros das nossas universidades, institutos tecnológicos e empresas privadas, como os que trabalham ITA e no IME, no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, ou no projeto de construção e instalação do nosso novo Acelerador Nacional de Partículas, no Projeto Sirius, em São Paulo;   os técnicos e engenheiros da COPPE, que trabalham com a construção do ônibus brasileiro a hidrogênio, com tubinas projetadas para aproveitar as ondas do mar na geração de energia, com a construção da primeira linha nacional de trem a levitação magnética, com o MAGLEV COBRA; nossos estudantes e professores da área de robótica, do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, várias vezes campeões da Robogames, nos Estados Unidos.  

Neste momento, é preciso homenagear  esses milhões de compatriotas, afirmando,  mostrando e lembrando - e eles sabem e sentem profundamente isso - que o Brasil é muito, mas muito, muitíssimo maior que a corrupção.

É esse sentimento, que eles têm e dividem entre si e suas famílias, que  faz com que saíam para trabalhar, com garra e determinação, todos os dias, cheios de  orgulho pelo que fazem e pelo nosso país.

E é por causa dessa certeza, que esses brasileiros estão se unindo e vão se mobilizar, ainda mais, em 2015, para proteger e defender as obras, os projetos e programas em que estão trabalhando, lutando, no Congresso, na Justiça, e junto à opinião pública, para que eles não sejam descontinuados,  destruídos, interrompidos, colocando em risco seus empregos, sua carreira, e a  sobrevivência de suas famílias.

Eles não têm tempo para ficar teclando na internet, mas sabem que não são bandidos, que não cometeram nenhum crime e que não merecem ser punidos, direta ou indiretamente, por atos  dos quais não participaram, assim como a Nação não pode ser punida pelos mesmos motivos.

Eles têm a mais absoluta certeza de que a verdadeira face do Brasil pode ser vista nesses projetos e empresas - e no trabalho de cada um deles - e não na corrupção, que se perpetua há anos, praticada por uma ínfima e sedenta minoria. E intuem que, às vezes, na História, a Pátria consegue estabelecer seus próprios objetivos, e estes conseguem se sobrepor aos interesses de grupos e segmentos daquele momento, estejam estes na oposição ou no governo.

"E superioridade e poder são exatamente as dimensões em que os nossos alunos e filhos mais precisam de nós. Precisam dos nossos “nãos”" Por Cristina Palhares

Diz um professor para outro: “Eu sou muito amigo dos meus alunos”. Diz um pai para outro: “Eu sou o melhor amigo do meu filho”. Estas são algumas das expressões que nos habituamos a escutar no nosso cotidiano, sem, contudo, aferirmos muitas vezes o seu sentido. Recordo-me, por isso, das palavras de Francesco Alberoni que, num dos seus livros mais célebres, define a amizade como um encontro entre iguais. “Eles poderão ser amigos se se encontrarem apenas como dois soberanos independentes, de igual poder e dignidade semelhante”.
Transpondo estas palavras para a relação pai-filho ou professor-aluno encontramos algumas evidências que, por vezes, se torna imperativo constatar e refletir. Os nossos alunos ou os nossos filhos não são soberanos independentes, não têm igual poder e têm uma dignidade diferente. Os alunos precisam de professores na admiração, no reconhecimento da autoridade, na correspondência escolar, na exigência, na alegria de se superarem, no alcançar de expectativas.

Os filhos precisam de pais, na admiração também, no reconhecimento da autoridade, na exigência… e, sobretudo, no amor. E o amor, podemos dizê-lo, não é compatível com a amizade. Em outro dos seus livros, o mesmo Francisco Alberoni, empreende a tentativa de separar “divinamente” estes dois sentimentos. Por isso mesmo, é importante percebermos que os nossos filhos não são como os nossos amigos. São amores. Por isso mesmo, a nossa relação com os nossos filhos não pode reger-se pelos mesmos padrões pelos quais regemos as nossas relações de amizade.

Da mesma forma, a relação professor-aluno não pode ser definida pelo critério da amizade ou do amor. Diz-nos Alberoni que “na amizade não há lugar para a superioridade e para o poder.” E superioridade e poder são exatamente as dimensões em que os nossos alunos e filhos mais precisam de nós. Precisam dos nossos “nãos”, precisam das nossas exigências, precisam da nossa avaliação, precisam da nossa autoridade.

Não se trata de autoritarismo, mas de firmeza, de coerência, de consistência. Ao sermos amigos dos nossos alunos e filhos estamos a privá-los do desenvolvimento da maior capacidade para a aprendizagem: a do espanto! O espanto aristoteliano de que não me canso de refletir. O espanto que se desenvolve quando há uma relação superior, quando o “mestre rebouliano” (cf. Olivier Reboul) leva os seus alunos ao desenvolvimento do pensamento, à aprendizagem da matemática da emoção, ao crescimento da transparência (sendo fiéis à sua consciência), à preparação para a vida. Como ser então um bom professor e bom pai dos nossos alunos e filhos? 

Tornando-nos um bom gestor: um bom gestor de emoções e de comportamentos. E a gestão, essa sim, obedece a regras muito precisas, a cálculos, a objetivos, a conhecimento, a transmissão. Para chegarmos ao mestre rebouliano, a gestão da sala de aula, a gestão dos comportamentos e das emoções dos nossos alunos e filhos, carece de autoridade e não de amizade. Quantos professores se sentem hoje deprimidos, com reacões de pânico e doenças físicas? Quantos pais se sentem inseguros e confusos por não saberem como agir diante dos seus filhos? Como diz Cury, “no passado, um olhar do professor ou pai causava impacto nos nossos alunos e filhos.

Atualmente, nem os gritos causam qualquer reação”. Perdemos a nossa capacidade de gestão. Numa análise do fenômeno educacional mundial muitos estudos apontam o aumento da velocidade do pensamento como o grande gerador de ansiedade, inquietação e insatisfação. Nunca antes, em toda a história educacional, os nossos alunos e filhos apresentaram tantos problemas emocionais como agora.

Falta-nos então desenvolver estratégias de gestão emocional e comportamental. E estas estratégias foram confundidas, nos últimos anos, com a essência da amizade. Tornamo-nos amigos dos nossos alunos e filhos na esperança de lhes minorar o sofrimento que a ansiedade transporta. A amizade não transforma, não tenta mudar, não educa, não exige, não julga… apenas existe. 

Que me perdoem os filhos: “Não sou vossa amiga, não! Amo-vos!”