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domingo, 19 de março de 2017

"Igreja Evangélica se Acha a Dona da Verdade Absoluta..." Pai SérgioTatá D'Odé




Marcelo: Qual seu nome completo?
 
Pai Sérgio: José Sérgio Pontes de Oliveira.

Marcelo: Como você prefere ser chamado?

Pai Sérgio: Pai Sérgio.

Marcelo: A sua família é natural de União dos Palmares?

Pai Sérgio: Sim.

Marcelo: Como foi sua criação, seus pais eram rígidos?

Pai Sérgio: Muito rígidos a ponto de eu ser junto com meus irmãos, educados a base de porrada.

Marcelo: Qual a religião em que você foi criado?

Pai Sérgio: Religião católica, fiz parte do grupo de jovens ligados a igreja.

Marcelo: Em que momento sentiu a necessidade de frequentar uma religião de Matriz Africana?

Pai Sérgio: No momento que aflorou com mais intensidade, a mediunidade vinda comigo ao nascer.

Marcelo: Por que ainda hoje a sociedade critica quem é adepto da religião africana?

Pai Sérgio: Por desconhecimento total dos nossos fundamentos e atos de fé.

Marcelo: Você e sua família já sofreram algum tipo de preconceito por causa da sua religião?

Pai Sérgio: Minha família não, mas é já sofri e ainda sofro algum tipo de intolerância por alguns elementos leigos aos nossos fundamentos, mas, para isso estamos trabalhando com afinco para podermos melhorarmos as nossas relações com a sociedade como um todo.

Marcelo: Quem é mais preconceituoso o católico ou o evangélico?

Pai Sérgio: Para nós não existem uma medição de intolerância tanto por um como pelo outro segmento religioso, mas, a igreja evangélica se acha a dona da verdade absoluta.

Marcelo: Qual a sua avaliação da Missa em Ação de Graças que aconteceu na Matriz de Santa Maria Madalena?

Pai Sérgio: Foi muito boa, apesar de ainda haver uma timidez da nossa religião em encarar este momento ímpar e integrar-se mais a este ato de fé e inclusão.

Marcelo: Porque o Senhor não subiu a Serra da Barriga?

Pai Sérgio: Pelo fato vergonhoso de os gestores municipais, ou seja, a secretaria de turismo e da cultura, não nos ter prestigiado quando da realização do encontro de religiosos de matriz africana, no dia 15/11/2010, no auditório da Prefeitura Municipal, deixando-nos a própria sorte, sem ao menos nos ter prestado solidariedade na execução do aludido evento, vistos que apenas, fomos colaborar com a festa dos citados gestores, isto foi um grande desserviço a todos os Pais e Mães de Santo deste município. Por isso e outras coisas é que boicotamos a nossa presença na Serra da Barriga no dia 20/11/2010.

Marcelo: Como é sua relação com os gestores públicos de União dos Palmares?

Pai Sérgio: De cordialidade, só isso, não temos nenhuma ligação mais profunda.

Marcelo: Como o senhor analisa a questão do negro em União dos Palmares?

Pai Sérgio: É muito complexa esta análise em algumas linhas, mas, vejo o negro/negra de União dos Palmares em especial, muito escondidos, com vergonha de mostrar os seus rostos, que por sinal, não desmerecendo as outras raças, são muito bonitos e além do mais, sem participar ativamente de tudo que se relaciona a eles e aos nossos ancestrais. Talvez sintam vergonha da sua cor.

Marcelo: Em sua opinião o turismo cultural algum dia vai funcionar nessa cidade?

Pai Sérgio: Vai sim, desde que tenhamos um gestor que entendas e faça turismo da sua terra natal, ou seja, de Terra da Liberdade Negra. Que seja uma pessoa ligada aos movimentos negros e a todos os seus segmentos, além do pessoal do axé.

Marcelo: O senhor é funcionário público há quanto tempo?

Pai Sérgio: Há 32 anos.

Marcelo: Por que muitos funcionários públicos oferecem serviços ruins à sociedade?

Pai Sérgio: Por falta de gerencia severa a eles e aos serviços oferecidos à sociedade.

Marcelo: Será que muitos se protegem pelo fato de serem concursados?

Pai Sérgio: Não vejo por esse ângulo, mais sim, pela falta de compromisso de gerencia e de vestir a camisa do funcionalismo público, pois não há uma política voltada ao mesmo, como por exemplo: "meritocracia", visto no mundo empresarial como um método perfeito para se oferecer um bom serviço a comunidade a quem servimos, pelo fato de valorizar aquele servidor que mais se destaca na prestação de serviço e etc...

Marcelo: Você está casado há quanto tempo, já tem filhos?

Pai Sérgio: Estou casado há exatamente 04 (quatro) anos. Não tenho filhos neste casamento.

Marcelo: Qual sua mensagem de final de ano para os palmarinos?

Pai Sérgio: “Existem dois objetivos na vida: o primeiro, o de obter o que desejamos; o segundo, o de desfrutá-lo. Apenas os homens mais sábios realizam o segundo”.

Espero que o palmarino que realmente dar valor a sua terra natal e que valoriza a prata da casa, saiba distinguir o joio do trigo e fazer com que "esses gestores" descompromissados com as coisas da nossa terra, sejam defenestrados do nosso convívio, pois são elementos nocivos ao desenvolvimento cultural e turístico da nossa gloriosa União dos Palmares. Feliz Natal e que o Ano novo que se avista, seja de reflexão acerca dessas barbaridades de que só quem tem valor nesta terra, são as pessoas que vem de fora.

Um forte abraço,
Pai Sérgio Tatá D'Odé

Templo Espírita Òrun Àyié D'Odé

"Em minha opinião, ser professor é semear no deserto, garantindo bons frutos regados a muita lagrima e esperança" Carlos de Sena



Marcelo: Você passou sua infância na antiga Rua do Jatobá, quais as suas lembranças de lá?
CS: Marcelo, antes de tudo gostaria de dizer que sinto-me honrado em participar deste quadro de entrevistas de seu blog. Muito Obrigado pelo espaço.

Bem... De fato vivi na extinta Rua do Jatobá todos os meus primeiros 15 anos de vida. Era uma rua que, como sempre foi desassistida pelo poder público e separada brutalmente das camadas altas da sociedade. Mas confesso que foi justo ali que dei os meus primeiros passos rumo à vida e também tive minha infância na qual me orgulho em dizer que era pobre e humilde, mas eu era uma criança feliz e saudável como todos meus primeiros amigos começaram por lá, infelizmente hoje nos separamos (uns casados, outros em outras cidades e até estados e que pena alguns também mortos pela má escolha na vida, as drogas, roubos etc.). Todos sabem atualmente o final que teve aquela comunidade ribeirinha do Mundaú, lamento muito.

Marcelo: Em épocas de enchente o que você lembra?

CS:Nossa! Era tudo muito complicado, vivi momentos de muita agonia e desespero, tínhamos que desocupar com urgências nossas casas e o pior, que isso só acontecia nas madrugadas, muitas vezes nem tínhamos para onde ir. Lembro-me da enchente de 1989, onde fiquei abrigado na Escola Estadual Rocha Cavalcanti, dividindo quarto com dezenas de pessoas.

Marcelo: Quando você e sua família saíram do Jatobá vieram morar onde?

CS:Saímos da Rua do Jatobá aos meus 15 anos de idade em agosto de 1998, com muito sufoco conseguimos comprar uma casa na atual Rua Luis Gomes de Freitas( Conhecida como Piranhas), próximo a Av. Monsenhor Clóvis, onde hoje mora ainda por lá meu irmão mais velho.

Marcelo: Com quantos anos você foi batizado em uma igreja evangélica?

CS:Logo após deixar a Rua do Jatobá em 1998, na mesma semana me converti a cristo e com três meses frequentando a igreja fui batizado nas águas, ainda com 15 anos de idade.

Marcelo: Qual era a igreja? Por quanto tempo você foi membro e o que aprendeu?

CS:Converti-me a Jesus na conhecida Assembléia de Deus, permaneci evangélico por uma década (10 anos). De 1998 a 2008. Durante esses tempos aprendi que Cristo era a peça que faltava no quebra-cabeça da minha vida.

Marcelo: Você deixou de ser evangélico em 2008, por quê?
CS: Na verdade após sair da fase da adolescência, muita coisa já havia mudado em minha mente, mesmo ainda estando dentro da igreja; Mudei as opiniões completamente ao me tornar adulto, chegando a conclusão de que nosso relacionamento com Deus é algo pessoal e intransferível , e que a verdadeira igreja somo nós, onde Deus nos ama da forma que somos e estamos, onde o maior alvo dele é o nosso coração puro e disposto a perdoar e amar sempre.

Marcelo: Está frequentando qual igreja hoje?

CS: Sempre que sinto saudades dos irmãos que tornaram-se meus amigos da igreja que freqüentei eu visito, até porquê resido hoje próximo a mesma igreja.

Marcelo: Em sua opinião, por que há tantos conflitos em nome de DEUS?
CS: Porque o homem ainda está muito longe da vontade e dos propósitos de Deus. Para o homem é mais fácil criar uma série de regras e sacrifícios tolos impondo isso a todos, do que mesmo conhecer a Deus e viver a vida que ele(Deus) tem para nós.

Marcelo: Aqui em União dos Palmares temos várias denominações religiosas, você acha que esta havendo um comércio com o nome de DEUS?

CS: Quem sabe né? Uma das mais importantes ordenanças de Jesus antes de subir ao Céu foi: “ ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. Se de fato as igrejas atuais estão correspondendo a essa ordem, tudo bem. Mas se estão fazendo a obra de Deus com outras intenções( financeiras), creio que um dia no julgamento esses falsos líderes religiosos pagarão com juros cada centavo tirado da mão de cada pai de família que foram enganados a vida inteira.

Marcelo: Qual a sua formação acadêmica?

CS: Sou professor (concursado) com habilitação em magistério do nível médio e agora também com Licenciatura em Geografia pela UNEAL. Pretendo ano que vem iniciar uma pós-graduação, mas ainda não tenho o curso definido

Marcelo: Desde quando você é concursado como professor?

CS: Desde o ultimo concurso público da prefeitura de União dos Palmares, em 2004, na gestão do saudoso e falecido prefeito “Zé Pedrosa”.

Marcelo: Por quantos anos você lecionou no povoado Caípe?

CS: A escola municipal Alfredo Gomes da Silva (Povoado Caípe I), onde comecei a adquirir experiências na carreira docente, entrei em 2004 e saí em 2008

Marcelo: Como esta sendo a experiência de ensinar em uma escola maior, a Salomé da Rocha Barros?
CS: A melhor experiência que já vivi, onde até imaginava antes de começar lá, não poder dar conta de tanto trabalho, mas por incrível que pareça a Escola Salomé despertou em mim um profissional adormecido e apaixonado pela causa da educação, onde antes não existia tal sentimento e engajamento. Não é demagogia mas, sou muito querido e aceito por todos da escola Salomé, especialmente pelos alunos.

Marcelo: Qual a diferença de uma escola da zona rural para a zona urbana?

CS: Acredito que o ensino pode ser considerado o mesmo; Pois este item não depende da escola e sim do professor. Eu diria que os alunos é que diferenciam um pouco na aprendizagem e comportamento ( alunos de zona rural tendem a ter mais interesse). Para o professor que trabalha na zona rural o seu trabalho se torna mais produtivo, dado ao numero reduzido de alunos por sala.

Marcelo: O que é ser professor?

CS: Em minha opinião, ser professor é semear no deserto, garantindo bons frutos regados a muita lágrima e esperança.

Marcelo Você atualmente é professor de cultura palmarina, a secretaria de educação, dispõe de material e incentivo?

CS:Na verdade sou professor de geografia. Mas este ano atendi ao convite em lecionar cultura palmarina. Confesso que tem sido desafiador para mim trabalhar com essa disciplina, onde a considero de suma importância para a grade curricular das escolas municipais, porem acredito que todos os docentes que lecionam nesta área sentem na pele as mesmas realidades, onde cito a mais delicada, a falta de referencial teórico para o trabalho de pesquisa.

Marcelo: As instituições de ensino estão preparadas para lidar com as minorias (deficientes, negros, homossexuais)?

CS: Acredito que sim; Pois é papel e objetivo fundamental da escola trabalhar a proposta de inclusão social, nas diversas camadas da sociedade, promovendo atendimento a toda clientela. Contudo, continua sendo dever do professor discutir temas como “preconceito” em sala de aula.

Marcelo: Como você analisa a cultura palmarina?

CS: A cultura palmarina é ainda um valioso ouro que precisa ser lapidado e polido; Mas falta garimpeiros para tal tarefa nesta imensa mina chamada “ terra da liberdade”.

Marcelo: Quais são os maiores problemas de União dos Palmares em sua opinião?

CS: Existem vários, mas quero destacar os dois mais graves: um seria a forma de se fazer política neste município e o outro que é consequência do primeiro: a desvalorização da cultura e do turismo local existentes aqui.

Marcelo: Como resolvê-los?

CS: Exercendo compromisso político através de investimentos sérios naquilo que deve ser prioridade em nossa terra, ou seja, mostrando trabalho.

Marcelo: Você está morando só ultimamente, como estar sendo essa experiência?

CS: Estou ainda em fase de adaptação, pois nunca havia morado fora da casa de meus pais. “Passarinho quando cresce, cria asas e voa...”

Marcelo: Desde quando você tem um blog e qual a finalidade da criação dele?

CS: O blog “Democratizando o saber” existe desde Junho de 2010, foi criado com o propósito de tornar publico conteúdos e matérias que venham dar a educação o valor e o reconhecimento que a merece

Marcelo: Cantar é um dos seus hobbys favoritos isso vem da época na Assembléia de DEUS?

CS: Sim. Amo cantar, em 2008 fui candidato ao “Ídolos” participando das audições em Salvador-BA. Descobri esse outro lado em mim dentro da igreja louvando ao Senhor.

Marcelo: Que tipo de música você gosta?

CS: Gosto muito de música, me considero eclético, porem infelizmente dispenso qualquer gosto ao sertanejo e ao funk.

Marcelo: Carlos, muito obrigado deixe sua mensagem para o final de ano.

CS: Desejo a todos os amigos muita paz, saúde e realizações dos mais impossíveis sonhos, e que 2011 venha melhor que 2010.