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segunda-feira, 9 de maio de 2016

Luto: Dragão

Dragão faleceu hoje 08, em Maceió.
Abaixo entrevista que o mesmo concedeu ao blog... 

Imagine um lugar que era ao mesmo tempo especial e assustador. Era assim que Antônio da Silva, mais conhecido como Dragão, via o Rio Mundaú. As águas serviam para o principal lazer das crianças das antigas ruas Demócrito Gracindo Rua da Ponte) e Jatobá, mas também tinha outras serventias, como lavar roupa, pratos, tomar banho, pescar para se alimentar e revender. Era assim nas décadas de 60 e 70, ano em que Dragão vivia junto com os colegas desbravando o rio. Porém esse mesmo rio destruía tudo que via pela frente. No inverno enquanto uns dormiam, outros vigiavam o aumento das águas. Dragão lembra que não foi só a enchente de junho de 2010 que destruiu a sua casa e dos demais moradores.

O gosto pela cultura herdou dos pais e tios, que já participavam de grupos como guerreiros, baianas e outros. Desde pequeno se apresentava com a família nas festas de União dos Palmares. O olhar atento de criança analisava a criação das roupas e a escolhas das músicas. O pai que veio do município de Atalaia era funcionário da fábrica de doces na Rua da Ponte, Dragão e os irmãos nasceram em União.


Aos 18 anos já participava dos festivais de calouros apresentado pelo comunicador Kleber Marques, daí veio o convite para integrar a Banda Açaí, que mais tarde teria outros nomes, como contágio e contágio tropical. Depois de 4 anos na banda foi morar em Arapiraca e ser um dos integrantes das bandas Alta Voltagem e Cio da Terra.


Em 1999 de volta a União decidiu trabalhar para si mesmo e criou a Banda Afro Nação Dandara. Começou a realizar estudos ligados a cultura negra, como a musicalidade, roupas, comidas e etc. Dragão disse que nessa época frequentava um centro espírita e resolveu conhecer a religião de matriz africana. Na nova religião o preconceito dos leigos não o incomodava, o compositor diz que muitos só querem enxergar o lado ruim da religião, para ele tem gente ruim em todas as igrejas.

 
Na Banda Afro Nação Dandara é ele quem compõe as músicas, desenha e costura as roupas de todos os componentes. Disse que lembra das criações que sua família e vizinhos faziam nos grupos folclóricos e que é daí também que vem a sua facilidade em realizar suas criações. Como a banda tem crianças, ele pede a autorização dos pais dos integrantes.


Morador do bairro Padre Donald e contratado da prefeitura há 10 anos o músico diz que está ansioso para ter sua casa no conjunto Nilton Pereira e que na comunidade quer fortalecer o bloco de carnaval Unidos da Ponte. Com o segundo grau completo, Dragão diz que é difícil fazer cultura, não só em União, mas no Brasil, segundo ele pela falta de apoio.

Homossexual assumido, o costureiro disse que conversou com os pais a respeito de sua sexualidade quando tinha 18 anos. Os pais na ocasião lhe disseram que apesar de tudo ele era seu filho e fizeram um pedido que ele não usasse vestido. Dragão diz que foi um dos primeiros homossexuais na cidade a usar brinco e roupas coladas, com isso sofreu preconceito, já com os amigos não teve problema, jogava bola, passeava e ia as festas como nos tempos que tomava banho no Rio Mundaú.


Luto: Dragrão

Música: Salve o herói Zumbi 
Composta por Dragão e Carlos Santos



Sou quilombola, sou da Serra da Barriga;
Sou lutador, sou guerreiro vencedor.

A minha luta é sofrida, e ela é vida;
E o meu povo clama pelo seu valor.

Salve o herói Zumbi!
Salve o herói Zumbi!

Salve o herói Zumbi!
Teu não se acabou!

Salve o herói Zumbi
Salve o herói Zumbi!

Salve o herói Zumbi!
Temos o sangue do negro,
do índio do branco.

ESSA É A NOSSA COR!