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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Ifal proporciona primeira visita da ministra da Seppir à Serra da Barriga

O cenário foi palco da histórica batalha do povo brasileiro pela liberdade do Brasil, sob o domínio perverso da colonização portuguesa. A Serra da Barriga, no município de União dos Palmares, a 80 km de Maceió, foi sede da República dos Palmares que abrigou, negros, índios e brancos que fugiam do regime de escravidão imposto pelo colonialismo português. 

O Memorial, em homenagem a Zumbi dos Palmares, negro que liderou a resistência desses povos contra a exploração escravista, recebeu, na manhã de terça-feira (4), a visita da ministra da Seppir (Secretaria da Promoção da Igualdade Racial), Nilma Lino e dos integrantes do Conselho Nacional de Educação que realizam reunião ordinária em Maceió, desde a última segunda-feira (3). 

O Instituto Federal de Alagoas (Ifal) é parceiro na organização do evento e   proporcionou   essa oportunidade   para os conselheiros que visitam à capital alagoana e que   programaram um ato público no topo do ponto geográfico mais importante do Estado de Alagoas.

Embora  tenha se tornado a primeira mulher negra do Brasil a comandar uma universidade federal, ao assumir o comando da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em 2013 e ter integrado de 2010 a 2014, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, onde participou da comissão técnica nacional de diversidade para assuntos relacionados à educação dos afro-brasileiros, a ministra Nilma Lino Gomes visitou a Serra da Barriga pela primeira vez e ficou emocionada ao se deparar com o memorial. “É muito emocionante estar aqui e prometi não chorar ao ver esse cenário”, ressaltou que  subiu  à serra acompanhada do reitor do Ifal, Sérgio Teixeira e do pró-reitor de Ensino, Luiz Henrique Lemos.

O ato público contou com a presença dos dirigentes do Ifal, do prefeito de União  dos  Palmares, Carlos Alberto Baía,  da representante regional da Fundação Palmares, Élida Miranda, do secretário de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação,  Paulo Nacif, do presidente do Conselho Estadual de Educação, Jairo Campos e da presidente do Conselho Estadual da Igualdade Racial, Valdice Gomes e da secretária municipal da Educação de Maceió e conselheira do CNE, Ana Dayse Dórea.  

O representante do MEC disse, na solenidade, que a pasta intensificou nos últimos anos a produção de materiais que contêm a história e a cultura afro-brasileira. Além disso, ele diz que o MEC incentiva cursos de formação continuada dos professores e que apoia universidades para que ministrem esses cursos. "Temos que atuar mais perto de estados e municípios para que [a lei] tenha a capilaridade que queremos", destaca. 

A ministra Nilma Gomes enfatizou que há ainda desafios pela frente, pois a implementação é desigual em estados e municípios, porém, os primeiros passos foram dados pela pasta que comanda.

PNE

A programação da reunião ordinária do Conselho Nacional de Educação tem sequência até  quinta-feira (6)) com  audiências públicas entre os conselheiros e os segmentos da educação de Alagoas. Um dos  pontos discutidos é o Plano Nacional de Educação que está em tramitação no Congresso Nacional que  foi sancionado no ano passado pela presidenta Dilma Rousseff, estabelece metas e estratégias para melhorar desde a creche até a pós-graduação, passando pela formação e a valorização dos professores. O plano estabelece que em dez anos, o Brasil invista pelo menos 10% do Produto Interno Bruto (PIB), por ano, em educação.

No primeiro dia de reunião, o CNE aprovou um documento que pede o cumprimento da Lei dos Royalties (Lei 12.858/2013), que destina 75% dos royalties da exploração do petróleo e gás do pré-sal para a educação e 25% para a saúde. Além de 50% dos recursos do Fundo Social para o cumprimento do PNE. O documento será encaminhado, na próxima segunda-feira (10), para as presidências do Congresso Nacional e da Câmara dos Deputados, além das comissões de Educação do Senado e Câmara.

Até na terra de Zumbi dos Palmares é difícil ensinar história afro-brasileira

Na região onde existiu o maior e mais duradouro quilombo das Américas, o Quilombo dos Palmares, professores têm o desafio de ensinar a história afro-brasileira nas escolas. Se no final do século 16, o local era de luta e resistência contra a escravidão, falta hoje autoestima aos jovens e a valorização da própria história, segundo a diretora da escola municipal Pedro Pereira da Silva, Maria Luciete Santos. Ela participou hoje (4) da Reunião Ordinária Itinerante do Conselho Nacional de Educação (CNE), que começou ontem e vai até quinta-feira (6), em Maceió. Hoje uma comitiva visitou a Serra da Barriga.

“Às vezes o preconceito vem deles mesmos. Eles não se reconhecem, não veem o próprio potencial. Eles não tinham ideia do que era a história deles, do que foi a Serra da Barriga”, diz. A escola fica na comunidade quilombola do Muquém, em União dos Palmares, Alagoas. Próximo, está Parque Memorial Quilombo dos Palmares, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no alto da Serra.

A comunidade recebeu simbolicamente duas normas do CNE, aprovadas e homologadas pelo Ministério da Educação (MEC), a primeira, de 2004, que trata da educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. A segunda, trata da educação quilombola e é de 2012.

O ensino da história afro-brasileira está na lei 10.639/2003, que estabelece que a questão deve ser tratada não como uma disciplina isolada, mas estar presente em todo o currículo escolar.

Mesmo assim, ainda há dificuldades. Segundo a diretora, a comunidade tem mais de 140 famílias. Um dos destaques é a fabricação de artefatos de barro, tradição transmitida pelos ancestrais africanos. “As crianças, até o 5º ano gostam de pegar no barro, mas do 7º ao 9º ano, eles têm vergonha”.

A diretora assumiu em 2013 e desde então, trabalha no resgate da autoestima. A comunidade também está envolvida. Dona Irinéia Nunes é uma das artesãs que trabalha para despertar o interesse dos jovens. Ela é considerada uma das melhores artesãs do estado e consta no Registro do Patrimônio Vivo de Alagoas desde 2005.

A escola recebeu também, no ano passado, formação para a educação quilombola e para o ensino da história e cultura afro-brasileira pela Universidade Federal de Alagoas. Luciete aponta ainda que quando os estudantes saem da comunidade no ensino médio para estudar na cidade, sofrem muito preconceito, o que evidencia a carência desse ensino também nas demais escolas do município.

“Não tem material ou livro educativo, não está na grade oficialmente”, rebate o prefeito de União dos Palmares, município de Alagoas onde está localizada a Serra da Barriga, Carlos Alberto Baía (PSD). Ele ressalta que a questão é tratada nas escolas e que o município tem um grupo voltado para a discussão desse ensino, mas que a falta de material dificulta a aplicação da lei.

O secretário de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação, Paulo Nacif diz que a pasta intensificou nos últimos anos a produção de materiais que contêm a história e a cultura afro-brasileira. Além disso, ele diz que o MEC incentiva cursos de formação continuada dos professores e que apoia universidades para qeu ministrem esses cursos. “Temos que atuar mais perto de estados e municípios para que [a lei] tenha a capilaridade que queremos”, destaca.

“Ainda temos desafios e a implementação é desigual em estados e municípios. Mas penso que os passos foram dados e simbolizam uma mudança”, disse a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, Nilma Lino Gomes.(Agência Brasil/ Mariana Tokarnia)

Fonte: Carta Campinas