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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

"Convido a todos e a todas a subirem a Serra da Barriga em minha companhia" Marcia Susana

Convite à subir a Serra da Barriga

Convido a todos e a todas a subirem A Serra da Barriga em minha companhia. A experimentarem a sensação de sentir a história de nossos antepassados, um pouco de nossa história. A parte mais intensa, cheia de bravura, inteligência, ardor e determinação da história palmarina. 

No século XVII nessa região a história local foi conduzida pelo ideal mais puro da natureza humana, o de liberdade, liberdade para ser, sentir, conviver, estar e viver com aqueles que compartilhavam do mesmo ideal. E assim, teve início um período tão extraordinário da nossa história, que foi espetacular até para a história do Brasil. 

Só para termos a dimensão da importância de nossa história (me refiro a história palmarina), o complexo grandioso quilombola que existiu nessas redondezas levou ao registro do único herói negro com sua biografia no livro de heróis nacionais. O Livro dos Heróis da Pátria ou Livro de Aço se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves em Brasília. Por falar nisso, você já leu algum livro sobre a história de Zumbi dos Palmares? Conhece a biografia desse a quem muito devemos nossa liberdade? Se nunca leu, digo seguramente que fica difícil conduzi-lo a um passeio emocionante até a Serra da Barriga, mas vamos lá vou tentar. 

Vamos começar pela dificuldade e distância em subir a Serra por uma estrada que não está asfaltada, mas que tem uma trilha coerente com muitas estradas do campo em nosso Brasil. Além da estrada temos a distância de cerca de 9 km do centro da cidade com subidas íngremes, difícil para quem tentar ir a pé, pois se torna uma trilha de aventura. Confesso, que já fiz esse trajeto várias vezes a pé, e me aventurei por vários lados da Serra, é emocionante! E cada vez que subo, seja a pé, de carro ou moto sou tomada pela imaginação lembrando meus antepassados. Faz parte do processo de ver e sentir a história quilombola. 

Agora imaginem, os milhares de fugitivos escravizados que eram explorados nas senzalas, canaviais, engenhos de açúcar, currais de gado que se "aventuraram" pelos quilômetros e quilômetros de mata fechada buscando liberdade e segurança. Será que era demais querer apenas liberdade e segurança? 

Imaginem a "aventura", talvez "ousadia", quem sabe "bravura" que era fugir por semanas, meses, a pé em uma mata fechada sem mapa, simplesmente sendo levados, em muitos casos, pelo " ouvi dizer" que circulava nas senzalas, de uma comunidade onde não teriam donos. Seria "aventura" enfrentar uma mata fechada sem armas, roupas apropriadas ou bússola sendo guiados apenas pelas estrelas em direção hipotética de uma comunidade livre? 
Quero lembrar que desses milhares que enfrentaram a mata fechada correndo, sendo perseguidos por capitães-do-mato e a polícia, muitos também enfrentaram animais perigosos, doenças, fome e o desespero de se perderem sem nunca terem encontrado os mocambos que faziam parte da comunidade quilombola. 

A Serra da Barriga é distante do centro da cidade? Imaginem vir a pé mata a dentro fugindo das fazendas de Recife? 

O conhecimento desses fatos não nos permite fazer o trajeto até a Serra pensando na dificuldade de acesso, muito pelo contrário, nos permite pensar em quanta facilidade temos hoje para chegarmos ao platô da SERRA DA BARRIGA. 

Convido você a percorrer as ladeiras e curvas do trajeto até esse SOLO SAGRADO. 

Depois convido a todos e todas a caminharem percorrendo o espaço da terra que abrigou a maior comunidade quilombola da América Latina onde viveram nossos ancestrais. Mas aí, será outro passeio.