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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Defensoria notifica organizadores de vaquejada em União dos Palmares por práticas abusivas

A Defensoria Pública em União dos Palmares oficiou, nesta sexta-feira, 22, os organizadores da “23ª Grande Vaquejada do Parque Recuperação”, que acontecerá no município dias 29 e 30 deste mês. O documento solicita informações e providências a respeito de práticas abusivas, também constatadas pela instituição após denúncias da população, como a inexistência de oferta de ingressos “meia-entrada” (50% de desconto) e a suposta prática da denominada “venda casada”, violando a Lei Federal n. 12.933/2013, Estatuto da Juventude, Decreto Estadual n. 35154/97, Lei Municipal n. 972/2001 e Código de Defesa do Consumidor.
De acordo com as defensoras públicas Andresa Wanderley e Nicolle Januzi, nos últimos dias, a Defensoria recebeu denúncias de diversos estudantes, inclusive, da Comissão de Direitos Difusos e Coletivos da OAB – União dos Palmares, apontando as mencionadas irregularidades e descumprindo sentença judicial proferida no mês de outubro de 2014, nos autos da Ação Civil Pública n.00015001920118020056, proposta pela Defensoria Pública.
O fato foi constatado pelas defensoras locais que, ao entrarem em contato com um dos pontos de venda, confirmaram que os ingressos estão sendo vendidos ao preço único de R$ 40, para quem comprar antecipadamente, fato que descumpre a obrigatoriedade da oferta do desconto para estudantes.
As defensoras receberem informações, também, de possíveis outras práticas abusivas, como a “venda casada”, visto que os eventos que ocorrem no local impedem os consumidores de ingressar com qualquer alimento ou bebida, obrigando-o a consumir os produtos vendidos no interior do Parque Recuperação em preços muito superiores aos comercializados regularmente.
A Defensoria Público notificou pessoalmente o responsável pelo evento e fixou prazo de 24h para adequar os serviços e prestar informação. Caso não haja resposta, o órgão adotará as medidas legais para garantia dos direitos dos consumidores, pleiteando a execução da sentença proferida na Ação Civil Pública, bem como Ação Coletiva em favor dos estudantes e/ou consumidores lesados.

“Estou com C.A” Por Jurani Clementino

Sou professor universitário há 11 anos. Já vivi e convivi com os mais diferentes tipos de pessoas. Ajudei a formar uma geração de profissionais da área de comunicação. Mas todas as vezes que entro na sala de aula, ou saio dela, é como se fosse a primeira vez. Avalio o que foi bom e o que precisa melhorar. Cada turma é uma surpresa. Nesse sentido, a cada semestre temos novas surpresas. E gosto disso. Elas me movem. Me sinto entusiasmado com esse desafio.
Nos últimos anos tenho me desafiado a ensinar aquelas disciplinas teóricas: sociologia, metodologia, teorias da comunicação, projeto de pesquisa… As vezes as aulas rendem. Outras vezes não. Recentemente, sai da sala muito angustiado. O público quase não interagiu com a minha aula. Fiquei três horas falando sem ter a certeza de que aquilo que eu dizia estava sendo compreendido. Senti que todo aquele esforço havia fracassado. Minha dúvida era a certeza. Estava certo de que precisava melhorar minha didática. Tinha que envolver os alunos no debate. Eu não sou o dono, e muito menos, o porta-voz supremo do conhecimento. Conhecimento não se transfere, se constrói no diálogo.
Na aula da semana seguinte chamei a turma para debater. Apliquei uma dinâmica e a coisa funcionou. No final da aula via os olhos dos alunos brilharem. Estavam angustiados com as discussões, mas ao mesmo tempo felizes porque viam as coisas com outros olhos. A angústia do conhecimento havia feito bem a todos eles. E eu que estava desiludido, me animei também. Senti que as esperanças podiam ser renovadas. Vibrei.
Dada por encerrada aquele aula, e quando todos os alunos já haviam saído da sala. Eu juntava as minhas coisas, colocava na mochila pra sair, uma aluna se aproxima e diz que precisa conversar comigo. Atencioso, perguntei o que havia acontecido. Ela disse que iria faltar às aulas nas próximas semanas e pediu a minha compreensão. Naturalmente perguntei o motivo da ausência. Pra minha surpresa e minha agonia, num momento em que eu cantava a vitória de uma aula show, a aluna me disse que começaria no dia seguinte o tratamento de um câncer. “Descobri um C.A professor. Começo o tratamento amanhã”.
Fiquei sem palavras. Tentei ser forte. Olhei bem no fundo dos olhos dela e disse: você é jovem, descobriu essa doença cedo, vai embora cuidar de sua saúde, tudo aqui pode te esperar. Ainda sem ação, abracei aquela menina e segurei as lágrimas antes que ela saísse da sala. Quando ela deu as costas, fechou a porta e eu estava completamente só: chorei feito criança e pedi a Deus para iluminar o caminho daquela jovem. Enquanto eu estava preocupado com a satisfação dos alunos com a minha didática, uma aluna, de vinte e poucos anos, estava com oito nódulos malignos, quatro em cada seio. E participava da aula. Interagia. Fazia perguntas. Quanta coragem! Quanta disposição. Como os meus problemas eram pequenos perto dela. Que Deus conceda a cura. E que ela volte feliz, disposta, vitoriosa. Estarei a sua espera… As minhas aulas? Ah como as minhas aulas são medíocres.

Viva Gonzaguinha