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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Nova chance de conhecer o poeta Jorge de Lima

Jorge de Lima (1893-1953) não viveu para ver que sua carreira literária teria a marca da fama e do anonimato. Considerado um dos maiores poetas da literatura brasileira, o alagoano influenciou gerações de escritores. Mas, para o público leigo, a obra de Jorge de Lima passou por períodos de sumiço e reaparecimento, desde sua morte, que completa 60 anos no próximo domingo.

Agora, o autor ressurge mais uma vez, depois de 15 anos fora das livrarias. Primeiro, pelas mãos da Cosac Naify, que, com com “Invenção de Orfeu” (1952), considerado sua obra-prima, começa a reeditar todos os livros do escritor. No início de abril, o diretor de teatro João Fonseca apresenta o musical “O grande circo místico”, baseado no poema homônimo do autor, com as canções clássicas de Chico Buarque e Edu Lobo. E, no segundo semestre, Cacá Diegues realiza um grande sonho de sua carreira: filmar “O grande circo”.
— Não conheço um poeta brasileiro que não tenha grande admiração por Jorge de Lima. 

Não sei por que ele costuma sumir. Ele é um modernista atípico, então talvez outros poetas representem melhor o movimento para manuais de estudo. Ele ressuscita o soneto, por exemplo, que ficou muito associado a Vinicius de Moraes, mas sem a lírica amorosa dele — diz Paulo Henriques Britto, poeta e professor do Departamento de Letras da PUC-Rio. — Também há o fato de toda uma geração de poetas, como Manuel Bandeira e Drummond, ter se insurgido contra a ideia do poeta como aquele que trata do sublime. E Jorge de Lima é um místico, uma voz meio profética. No fim de “Invenção de Orfeu”, ele praticamente reescreve o “Apocalipse”.

A Cosac Naify comprou os direitos de publicação de Jorge de Lima, que pertenciam à Record, em maio, como antecipou o GLOBO à época. A editora contratou o professor de teoria literária da USP Fábio de Souza Andrade, estudioso do autor, para auxiliar na edição da obra poética. Já os romances de Jorge de Lima ficam aos cuidados de Luís Bueno, professor de literatura brasileira da Universidade Federal do Paraná.

A nova edição de “Invenção de Orfeu” reúne — além, é claro, do poema de dez cantos e 12 mil versos — fortuna crítica e fac-símiles do original, com anotações do autor. O poema é uma biografia épica, que ecoa “A divina comédia”, de Dante, e “Os Lusíadas”, de Camões. A edição também traz uma carta do poeta Ezra Pound, em que ele agradece a Jorge de Lima, em espanhol, o envio de um livro.

— Para o ano que vem, preparamos ainda uma nova antologia poética de Jorge de Lima. A última foi feita por Paulo Mendes Campos, nos anos 1970. — diz Milton Ohata, editor da Cosac Naify. — Também vamos lançar “Calunga”, romance do seu ciclo nordestino. Por último, vamos relançar uma edição de “Poemas negros” ilustrada por Lasar Segall.

Difícil de classificar

Talvez uma das explicações para Jorge de Lima ter desaparecido é a dificuldade de classificá-lo. Na juventude, Lima era parnasiano e, mais tarde, aderiu ao modernismo. Escrevia poemas e romances regionalistas, mas também tinha influência do surrealismo europeu — este uma das marcas de “Invenção de Orfeu”. O surrealismo influenciou ainda a obra do autor como artista plástico, com as fotomontagens feitas por ele. Também sofria influência do catolicismo, como outro amigo seu, o poeta Murilo Mendes.

— Diferentemente do que ocorreu nos países de língua espanhola, o surrealismo nunca deu samba aqui no Brasil — diz Paulo Henriques Britto.

Quando comprou os direitos de publicação da família de Jorge de Lima, a ideia da Cosac era editar sua obra poética e em prosa. Agora, entraram no projeto os trabalhos do alagoano como artista plástico. Além das fotomontagens surrealistas, ele era pintor e foi premiado na 1ª Bienal de Artes de São Paulo.

Este não é o primeiro reaparecimento de Jorge de Lima. Nos anos 1960, pouco depois de sua morte, a Nova Aguilar já relançava sua obra com o objetivo de tirá-lo do ostracismo. Nos anos 1990, foi a vez da Record. Nesse meio tempo, ele foi enredo da Mangueira, em 1975 — e a escola ficou em segundo lugar. Um dos problemas para editar Jorge de Lima é que, fora do currículo das escolas — que privilegia Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade, seus colegas de geração modernista —, é difícil vendê-lo para o governo, um dos principais compradores de livros no país.

Em 1983, Chico Buarque e Edu Lobo criaram a trilha sonora para o balé “O grande circo místico”. São canções hoje clássicas, como “A história de Lily Braun”, “Ciranda da bailarina” e “Beatriz”. Agora, no cinema e no teatro, o poema de Jorge de Lima ganha dramaturgia. O poema conta a história de amor de um aristocrata e uma equilibrista, que criam uma dinastia de artistas, no Circo Knieps.

— Jorge de Lima sempre foi meu poeta preferido. Acho que é um dos três maiores poetas da língua portuguesa. “Invenção de Orfeu”, para mim, só fica atrás de “Os Lusíadas.” Só agora criei coragem de filmar “O grande circo místico”, depois de trabalhar três anos no roteiro. É muito bom que ele seja redescoberto. É como redescobrir um pedaço do Brasil que estava esquecido — diz Cacá Diegues, que já escalou Lázaro Ramos e Vincent Cassel para o filme.

O musical, por sua vez, terá Tiago Abravanel no papel do aristocrata e Letícia Colin, no da equilibrista. O resto do elenco ainda está em fase de escalação. Agora, o público pode reencontrar — ou conhecer — Jorge de Lima.

 O ator Lázaro Ramos está no elenco do filme “O grande circo místico”,
inspirado no poema de Jorge de Lima.
O ator Tiago Abravanel está no elenco do musical “O grande circo místico”, inspirado no poema de Jorge de Lima.
Fonte: Jornal Extra

2 comentários:

  1. Parabéns Marcelo, sempre bem antenado. Grande abraço!

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  2. Valeu Emanuel, aproveitando kkkkkk Cadê o depoimento Qual foi seu melhor momento de 2013? http://www.jmarcelofotos.com/2013/11/qual-foi-seu-melhor-momento-de-2013_17.html

    Abraços!!!

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