Jeferson
da Silva Santos
Estudante
de Geografia
Universidade
Federal de Alagoas
Há muito tempo,
estudantes, professores e demais pesquisadores de diversas áreas do
conhecimento tem buscado reunir informações e sistematizar dados sobre os
impactos da realização de megaeventos nos países por todo o mundo. Em um artigo
datado de 2012, o professor de Geografia Claúdio
Custódio define o seguinte quadro:
“Um
dos grandes paradoxos dos megaeventos é que seu arrazoado econômico não é nada
preciso, mas a política leva os possíveis anfitriões a enfatizar esses
benefícios de qualquer modo. A história está cheia de casos de Jogos Olímpicos
que deram prejuízo, e um certo volume de literatura acadêmica questiona se os
megaeventos cumprem suas promessas econômicas e se os organizadores são
suficientemente críticos e objetivos em suas avaliações de impacto. Os céticos
muitas vezes alegam que sediar megaeventos tem tanto a ver com o prestígio
nacional quanto com a economia, e que a teoria do ‘benefício econômico’
simplesmente visa legitimar o que constitui um dispendioso exercício de
publicidade”
(Os “megaeventos”
beneficiam os países sede?)
Os jogos olímpicos de
2008 deixaram muitos “elefantes brancos”, ou seja, estruturas que depois dos
jogos não puderam ser reaproveitadas pela população local, na China. No mundial
de futebol na África do Sul, a FIFA decretou um verdadeiro Estado de Exceção no
país, inclusive mudado leis, prendendo, torturando e matando quem era contra a
realização dos jogos em detrimento a precariedade da nação africana. Nas
Olimpíadas que aconteceram na Inglaterra em 2012, em meio a uma crise
financeira o governo gastou mais na realização dos jogos do que nas dívidas do
país o que ocasionou em mais endividamento e quem pagou foi o povo com cortes
de funcionários, aumento de impostos e congelamento de aposentadorias.
A crise mundial, que
começou a se apresentar em 2008 nos Estados Unidos da América (EUA), com a
farra dos créditos aliada a especulação imobiliária, atingiu todo sistema
financeiro de todos os países do mundo. Principalmente, aqueles que mantêm
acordos político e econômico com os EUA.
As grandes potências
mundiais começaram a quebrar e precisam explorar novos mercados. Assim, surgem
as disputas pelo controle territorial através das forças militares. Exemplo os
recentes atritos na Síria, na Venezuela e na Ucrânia.
A ideia de realizar um
megaevento no Brasil vem desta ideia de explorar novos mercados internacionais.
Por isso, a maior propaganda do Brasil no exterior é o futebol e o turismo
sexual.
O Brasil sentiu e ainda
sente as dificuldades desta crise mundial, que não é apenas financeira é
estrutural. Por exemplo, as revoltas e rebeliões populares que sacodem o mundo
são causadas por questões econômicas, mas são inflamadas por questões politicas
e a luta por encontrar novas propostas para solucionar os problemas sociais do
século XXI tem se demostrado uma guerra encarniçada dos povos de todo o mundo e
no Brasil não têm sido diferente.
O velho Estado
brasileiro tem uma estrutura secular e bastante injusta. A economia é
sustentada principalmente pelo Capital do comércio dos produtos agrícolas, as
exportações, produzidas pelo agronegócio, diga-se latifúndio de novo tipo. O
que torna o país dependente da especulação e da capacidade de consumo de outros
países, principalmente EUA e países da Europa que estão quebrando.
A indústria brasileira
é no máximo uma grande fábrica de montagem de peças desenvolvidas por
tecnologia estrangeira. As riquezas naturais são vendidas ou roubadas por
empresas e “ong’s” internacionais de pesquisa. A solução para todos os males do
serviço público, que é dever do Estado, é sempre a via privatista. Como a venda
das ações da Petrobrás, da saúde e da educação, também as concessões de
rodovias, matas e rios.
O Brasil é dirigido
pelos interesses políticos das oligarquias semifeudais que dominam as regiões
brasileiras, dos banqueiros e dos interesses estrangeiros, principalmente dos
EUA. Esta dominação política atrasa o país em várias questões como
democratização do espaço agrário para soberania alimentar, do espaço urbano
para solucionar o problema da moradia, no desenvolvimento na educação, na
saúde, segurança, etc.
Segundo relatório divulgado na Suíça pela ONG Conectas e a Ancop (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa) mais de
170 mil pessoas já foram despejadas de suas casas por razão da Copa da FIFA no
Brasil em 2014 e podem chegar a 250 mil até o final de Maio de 2014.
Todas estas remoções realizadas para “higienizar”
as cidades que vão sediar jogos da Copa, para que os “gringos” não vejam a
miséria brasileira. Todas realizadas com bastante violência policial, inclusive
prendendo, torturando e em alguns casos matando trabalhadores. Exemplos desta
militarização em prol do mundial da FIFA são as UPP’s no Rio de Janeiro, que já
torturaram e mataram o pedreiro Amarildo e a diarista Claúdia.
A repressão militar contra as manifestações
contrárias a realização da Copa da FIFA têm sido brutais. As manifestações não
contra o futebol, mas contra o descaramento de realizar um megaevento em
detrimento as necessidades do país.
Nas históricas Jornadas de 2013, mais de 300
pessoas foram presas por todo o Brasil criminalizadas por protestarem. Só nas
primeiras manifestações de 2014 este número já passou de 500, segundo dados da
própria PM. Em Goiânia, recentemente, estudantes foram presos acusados de
fazerem parte de movimento estudantil e as provas foram panfletos, jornais e
livros encontrados nas casas deles. Isso não caracteriza um “Estado democrático
de direito”.
Não concordo com a realização da Copa da FIFA,
Olímpiadas nem qualquer outro megaevento internacional no Brasil sem antes resolver
os problemas seculares do povo brasileiro.
Até porque, ninguém conseguirá calar as vozes que
vem das ruas; Não Vai Ter Copa! Pode
até acontecer os jogos, mas esta é a Copa mais desmoralizada de todos os
tempos. Se isso não fosse verdade, a presidenta anti-povo e vende pátria da
Dilma Roussef (PT) não teria cancelado seu pronunciamento de abertura da Copa,
temendo ser vaiada de novo como na Copa das Confederações em 2013.
O legado da Copa da FIFA no Brasil será os estádios
que não terão proveito para a população depois da Copa; Os rombos
estratosféricos no orçamento público, oficialmente 28 bilhões segundo o
Ministério dos Esportes; As famílias desabrigadas pelas ruas das cidades; A
volta do Estado ditatorial com a prisão de militantes políticos e
consequentemente as torturas e assassinatos dos mesmos.
União dos Palmares, Alagoas
Junho de 2014