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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Artesã imprime criatividade e talento trabalhando com tecidos, telhas e pinturas em móveis



Natural da cidade de Maceió– cidade localizada a 89 km de União dos Palmares/AL, a artesã Alagoana Anusk da Silva Oliveira é a mais nova divulgadora da cultura negra Palmarina.

Como sua marca Arte e Cultura Atelier surgiu e você tem uma equipe?
Surgiu da necessidade que eu tinha de abrir um atelier, dá um nome, juntar tudo que eu faço, que eu produzo. Tinha que ser inserido e traduzido em um só nome. Na equipe eu conto com a ajuda da minha mãe, Andréa Doriam para as compras, com a Dianini Lima na divulgação da página, ela é a relações públicas e com a minha pequena Ellys a quem me trás felicidades, um filhote de Lhasa Apso.

Como começou sua relação com a arte?
Desde pequena, inspirada na minha mãe que fazia artesanato e a uns 8 anos atrás eu comecei a fazer para vender, comecei com biscuit. Minha mãe trabalhava numa creche em Recife e fazia decoração, lembro que meu quarto e do meu irmão era muito enfeitado, tinha o Saci Pererê, mainha fez na entrada do quarto, era os personagens do sitio do Pica Pau amarelo, o desenho principal era o saci Perere- Um negrinho com uma perna só e uma turbante vermelho, acho que ela achava mais fácil de desenhar. Eu sempre gostei de desenhar lembro que meu melhor presente na infância foi um caderno de desenho aqueles antigos que vinha com uma folha grossa e uma fina.

Então, teria sido esse o motivo de você trabalhar com a cultura negra, talvez tenha surgido daí, do Saci Pererê?
Talvez, tenha herdado alguma influência desse episódio, e também por acreditar que no Brasil não tem branco, mas mestiço, branco tem nos Estados Unidos, no Brasil tem mistura, negro, índio, é aquele caldeirão todo.

Porque você escolheu a cidade de União dos Palmares para realizar seu trabalho?
Desde quando descobri a historia de Zumbi dos Palmares no colegial, sempre tive essa curiosidade de vim aqui e conhecer a Serra da Barriga. Identifico-me muito com a cultura negra,sou negra de coração, alma e cor. Me sentia e sinto feliz por fazer parte da historia de Alagoas e ainda mais por ser do Estado da Terra da Liberdade de Zumbi dos Palmares. Não tinha lugar melhor para mim viver e fazer minha terra da resistência negra.

Como é seu processo de criação? Fale um pouco sobre seu modo de trabalho e sobre os produtos que você faz.
É todo um processo, primeiro se for fazer um desenho de um homenageado, como no caso de Dandara dos Palmares, eu faço uma pesquisa, vejo a questão de roupa que era vestido na época, nem todas as cores que temos hoje, era usado antigamente não posso usar um rosa quente numa roupa de Dandara do século XVII, entendeu?! Eu trabalho com pintura em tecidos, tem uma variedade - almofadas, jogo americano, faço quadros, trabalho com telhas, pinturas em moveis antigos, trabalho com reciclagem, découpage, patchwork, bichos de meia e bolsa ecológica e outros. Devo ter esquecido de citar alguma coisa (risos).

Quais os desafios e dificuldades de se atuar no mercado de produtos feitos à mão?
Eu faço de tudo, tem que fazer de tudo, tem que fazer pesquisa de preço, tem que comprar, tem que trazer de volta, tem que preparar, no caso do tecido, tem que cortar, tem que medir, tem que pintar, tem que costura. Todo tipo de trabalho tem uma dificuldade entendeu?! E na questão externa é que as pessoas não valorizam tanto o trabalho manual, as pessoas preferem comprar produtos industrializados, mas eu tenho notado que recentemente as pessoas tem mudado um pouco essa cultura que a gente tinha da industrialização, as pessoas tem valorizado mais o produto artesanal, apesar de que ainda pechincham muito em questão de valores, não querem pagar o que realmente merece, acho que não era pra gente dar preço, acho que era pra pessoa dizer vale tanto, entendeu?! Acho que deveria ser dessa forma a venda de produtos artesanais. Outra dificuldade que eu tenho muito em Maceió e agora em União é que eu não acho toda matéria prima que eu quero trabalhar para ter um produto com qualidade, então eu tenho que sair comprando um pouquinho em União, um pouquinho em Maceió e algumas coisas eu tenho que comprar pelo site, pela internet porque não vende no estado, para assim trazer um produto de qualidade para o cliente.

Em união dos Palmares como tem sido a aceitação de seu trabalho, quais os desafios quando se trabalha a cultura negra em União dos Palmares?
Em primeiro lugar com certeza é o preconceito, entendeu?! Preconceito de cor e de religião, é lamentável...! Quando as pessoas me procuram, eu já sei que elas já vêem de mente aberta, que não tem nenhum tipo de preconceito, então já facilita quando a procura surge do cliente, agora para levar o artesanato com a inclusão cultural até as pessoas já tem um pouco de dificuldade, eu tiro pelas divulgações que as gente faz pela página Arte e Cultura Atelier, é que as pessoas mal ler o enunciado muitos não dão tanto valor, não curte então é preciso fazer um resgate da cultura, e a gente esta nesse caminho de levar através de nosso produtos o conhecimento, porque quando publicamos um anuncio colocamos também links, para que quem estar vendo a imagem se não conhece possa conhecer de quem estamos falando, retratando, então vai existir um questionamento inicial - Que importância aquela pessoa, seja ela zumbi ou outro tem para está ali, num estampa de bolsa, numa capa de almofada... Imediatamente ela vai descobri e naturalmente achar aquela historia e pessoa interessante, assim como nosso produto e vice versa.

União sendo o berço da liberdade, da luta contra a escravidão, há esse tipo de  preconceito e de cor e de  que forma seu trabalho ajuda a minimizar essas visões:

Há um destaque de várias discussões na imprensa e nas redes sociais sobre o racismo na sociedade brasileira, e onde estamos localizadas nesse mapa, em Alagoas onde o mapa da violência contra negros é assustador! Então quando você pergunta se aqui há esse tipo de preconceito definido pela cor da pele, especificamente em União, eu respondo que sim com certeza, por uma questão histórica e de convivência, não deveria pela marca que carrega essa terra, mas existe, eu percebi que as pessoas daqui são em grande parte mais preconceituosas do que as pessoas que vem de fora, as pessoas já vem pra cá sabendo que aqui é o berço da liberdade, a terra de zumbi então ela já tem outra visão, e as que estão aqui muitos não sabem da história de zumbi, infelizmente. É lamentável essa situação,alguns dos descendentes não sabem a história do município que eles vivem, ou pior há os que sabem e se negam enquanto negro, porque ainda há a associação de que ser negro é ruim, as crianças já carregam esse pensamento na infância. Meu trabalho ajuda a dar visibilidade, levando a historia de zumbi, de Dandara, de todos que representam a cultura negra aqui e no mundo inteiro levando para dentro da casa de cada cliente de forma atrativa e viva o pedaço dessa história para que as pessoas não apaguem, para que a nova geração não esqueça do que aconteceu a séculos atrás que a gente tem que dar continuidade e memória, ter orgulho. Então dessa forma clara levando muitas cores, informando de uma forma diferente, busco inserir meu artesanato na casa de cada um.

E hoje, você se considera um artesão ou artista-artesão, como é isso ?
As duas coisas, acho que pelo fato de construir e transformar algo que não tem valor nenhum como as coisas que eu acho no lixo e reconstruo; isso é coisa de artista. Eu penso assim, e artesão é aquela coisa natural que você já nasce e eu fui incrementando.

Como foi sua participação no 20 de novembro? vi que seu stand esteve lá.
Participei do meu primeiro 20 de novembro, meu Atelier foi convidado pela Maria José representante da Fundação Cultural Palmares no nordeste, para colocar stand, foi uma experiência muito boa, fomos visitados por muitas pessoas, tivemos muito elogios, as pessoas queriam saber como era feito o trabalho, quem fazia, foram tirados muitas fotos, as pessoas participaram, a gente viu que realmente o negocio estava tendo a intenção que eu queria, a de levar essa cultura para pessoas e tivemos um público diversificado de vários estados, Brasília, Curitiba, Minas Gerais e outros, mas tivemos também um público significativo daqui de União dos Palmares o que nos chamou muita atenção e nos surpreendeu, e que depois do evento procuraram a página do Atelier na internet, me parabenizaram, então eu percebi que a gente tá fazendo um bom trabalho. Fomos convidados para participar de outras feiras, que em breve serão divulgadas.

Para finalizar a nossa entrevista onde as pessoas podem encontrar seus trabalhos?
Na página do facebook onde as pessoas podem ver nossos produtos, conhecer a cultura Palmarina/Alagoana, e comprar nossa arte. A entrega é em domicilio aqui em União dos Palmares/AL e em Maceió/AL, outras localidades a entrega é via correios.



 Arte e Cultura Atelier AQUI