Em meu novo livro - que lancei essa semana pela editora Multifoco -
"Um abraço forte em Zumbi: pensamento e militância no front da Áfrika
Carioka" - abordo como foi a construção do Dia Nacional da Consciência
Negra (20 de novembro) pelos militantes afro.
O livro também tem artigos sobre o mundo do samba, ações negras,
negros na maçonaria, relações diaspóricas afrodescendentes, políticas de
combate ao racismo e negros em partidos políticos.
Em relação à criação do Dia Nacional da Consciência Negra, ele
aconteceu, em São Paulo, quando o Movimento Negro Organizado (MNU),
naquela ocasião, fez uma análise histórica da importância do Quilombo de
Palmares e de Zumbi, seu principal líder, durante o período colonial
brasileiro.
Eles concluíram que, no quadro de heróis nacionais cultivados pelos
brasileiros, não havia representante afro de significado de luta pelos
direitos afro.
Os livros didáticos, por exemplo, elogiavam o negro Henrique Dias, o
criador do Batalhão dos Henriques. Este ajudou os portugueses a expulsar
os holandeses de Pernambuco, mas também foi usado para combater o
Quilombo de Palmares.
Então, os militantes concluíram pela transformação do dia da morte de
Zumbi - 20 de novembro de 1695 - como Dia Nacional da Consciência
Negra. E, desse modo, elevaram Zumbi dos Palmares como o herói dos
oprimidos em geral.
Trinta sete anos depois do estabelecimento dessa data, hoje, pelo
menos, segundo os militantes negros, o 20 de novembro é feriado em cerca
de 2.600 municípios. Existem movimentos para que a data se torne
feriado nacional.
Após uma briga que durou seis anos, que chegou até ao Supremo
Tribunal Federal (STF), o Rio de Janeiro foi o primeiro município a
criar o feriado pelo Dia da Consciência Nacional da Negra, em meados dos
anos 1990.
Depois, em 2002, a lei 4007/2002 tornou o Rio de Janeiro o primeiro estado a decretar feriado estadual em 20 de novembro.
Em 2011, a lei federal no. 12.519/2011, sancionada pela presidente
Dilma Rousseff, tornou o 20 de novembro Dia Nacional de Zumbi e da
Consciência Negra Brasileira.
O Rio de Janeiro também é pioneiro em homenagear Zumbi dos Palmares
em monumentos. Através de lei estadual, em 1986, foi criado e instalado o
Monumento a Zumbi dos Palmares, na Praça Onze, que hoje é o local onde
ocorrem as cerimônias relacionadas ao Dia Nacional da Consciência Negra.
Também existem monumentos a Zumbi em Padre Miguel, Duque de Caxias,
Quissamã, Campos, Volta Redonda, Búzios, Petrópolis, entre outros
municípios.
Carlos Nobre
CULTURA AFROBRASILEIRA.
Carlos Nobre é jornalista, pesquisador e professor do Departamento de
Comunicação da PUC-Rio. É mestre em Ciências Penais pela Universidade
Cândido de Mendes. Autor de oito livros sobre discriminação racial,
segurança pública e cultura afrobrasileira. Foi autor e coordenador da
Coleção de Livros Personalidades Negras da Editora Garamond(RJ).