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segunda-feira, 23 de julho de 2012

A corrupção: o grande mal da recente democracia.

Compreendo a corrupção como um dos principais males da Humanidade. Tal ocorre diante da falta de crença em algo, que se instaura por diversos fatores. Em se tratando de nossa política, é um ceticismo diante dos valores fundamentais para uma democracia, qual seja: a compreensão acerca do poder individual diante de uma nação para ajudar a decidir o melhor para o bem comum. Existe corrupção no mundo todo, mas no Brasil ela é peculiar. Para tentar compreender a versão tupiniquim, devemos considerar fatores de ordem histórica e social, na formação da cultura política do povo.

Historicamente, nossa sociedade se formou mediante decisões de influência externa que foram determinantes. E quando houve finalmente a passagem do poder para o “povo brasileiro”, este era seleto e por isso, excludente. As primeiras democracias brasileiras mostraram claramente o poder de manipulação de votos, desde a República Velha. Ocorreram ditaduras por considerarem, entre outras coisas, a incapacidade de um povo não-instruído em eleger políticos que – de acordo com alguns discursos -, trariam riscos à sociedade nacional em termos de ideologia.

A partir da reabertura política e reinstauração da democracia na década de 1980, parecia que finalmente os tempos obscuros que perseguiam a individualidade e os direitos sociais seriam enterrados. Diante da euforia de uma classe que reivindicava o direito de o povo guiar seu próprio destino surgiu, entretanto, uma atitude prática que, apesar de se inserir num novo projeto de realização política, manteve em suas bases os hábitos clássicos da passividade diante da manipulação eleitoral e readaptou-se ao regime democrático, instaurando uma nova época de obscurantismo. Tal prática se torna visível até hoje em todas as classes, mas, se por um lado, está nas menos instruídas, as quais, a meu ver intencionalmente, são mantidas em estado de miséria para sempre serem dominadas pela compra de votos, por outro, está nos espertalhões corruptores que procuram adiar a conscientização política dessas mesmas pessoas (que em estados como Alagoas são a grande maioria).

Vender e comprar voto nos dias de hoje se tornou não só um prática antiética e que fere a verdadeira intenção da democracia, mas um verdadeiro comércio. O que me preocupa é que, além do ceticismo político e falta de cultura política em grande parte dos alagoanos, o que há é a criação e manutenção de um valor que reduz um voto a qualquer produto em que pode ser trocado. Hoje, defender um valor democrático e prezar pela cidadania virou motivo de chacota, aonde somos chamados constantemente de utópicos enquanto nossos interlocutores bradam que votará naquele que lhe dará mais retorno financeiro ou ajuda empregatícia, faltando apenas usarem uma camiseta com os dizeres “Senhor candidato, por quanto quer comprar meu voto?” e sair às ruas.

Enfim, só acho que a solução tem de ser o desenvolvimento social da base com algumas reformas que são implantadas por aqueles que colocamos no poder. Um forte investimento na educação poderá resolver esse mal e ensinar as pessoas a pensarem a cidadania e exercerem a função da política de maneira ideal. Mas segundo a vontade política de nossos representates atuais que tem deixado de lado essa questão fundamental, provavelmente não é ainda na nossa geração que vamos ver o povo aprender a ser crítico e político. Só resta ensinarmos as futuras gerações sobre como gostaríamos de ser hoje, meus amigos.

Claudionor Silveira

Graduando em Ciências Sociais pela UFAL. Cidadão blogueiro.

Murici, 22/07/2012

Eu não vendo meu voto!

Fábio Luciano silvério, do blog Grupo de Resgate Anjos de Aadoração
“con occhio chiaro e con affetto puro”

Uma sociedade é, por definição, um certo agrupamento de pessoas que vivem num mesmo lugar e buscam o bem comum. Isto se dá porque o homem é, por natureza, um ser social. Diferentes de outros animais, se formos abandonados quando do nosso nascimento, não temos as possibilidades de uma sobrevivência absolutamente autônoma. Necessitamos, desde os primeiros dias, do cuidado de outros a partir dos quais poderemos crescer e desenvolver as nossas potencialidades.

É o contato com a sociedade que nos permitirá, também, aprender a respeitar os nossos limites e a reconhecer o outro como um sujeito igualmente digno. Qualquer sociedade deve, portanto, prezar para que os que nela residem tenham asseguradas as condições de essas potencialidades se desenvolverem naturalmente. Por termos todos a mesma natureza, isto é, por sermos todos animais racionais e morais, apresentamos também as mesmas necessidades básicas. Se são necessidades básicas, cumpre que elas encontrem satisfação e a sociedade deve colaborar para que esta satisfação se efetive. Para garanti-lo, o homem tomou consciência de que tais coisas lhe são naturalmente devidas, as sistematizou e as chamou de direitos.

O homem possui, portanto, direitos fundamentais que devem ser respeitados e satisfeitos pela sociedade. Estes mesmos direitos, decorrentes da natureza humana, da qual todos participamos, são principalmente três: 1) direito à vida física e sua manutenção, donde se estende o direito à moradia, à alimentação, às condições básicas de higiene, ao trabalho, ao lazer, ao atendimento médico, etc.; 2) direito ao bem coletivo, donde surgem, além dos direitos de boa convivência e de aceitação social - como o respeito pelas diferenças e diversas políticas de inclusão - também alguns deveres, como o de respeitar o espaço dos outros e as regras morais, contribuindo cada pessoa para o bom andamento da sociedade e a manutenção da licitude dos costumes e do bom convívio; 3) direito à vida intelectual, sua manutenção e desenvolvimento, donde surge o direito à educação, à informação, ao ingresso na Universidade, e donde procede também o dever da sociedade de promover a cultura e a inteligência, ao contrário da imbecilização coletiva tão própria dos nossos dias.

Como se vê, a sociedade é feita por todos e cada um de nós. Logo, todos devemos contribuir para o bom andamento das coisas. A ideia de bem, portanto, é parte intrínseca de uma sociedade. Daí a moral ou a ética – como queiram – perpassar todo o âmbito social. Como, porém, embora dotados de uma mesma natureza, somos sujeitos variados – pelo que não somos iguais, mas semelhantes -, apresentando, cada um, matizes diferenciados de concepções e valores, torna-se uma impossibilidade real, dadas as nossas pontuais divergências, que cada um de nós se envolva diretamente no andamento e na organização geral da sociedade.

É óbvio devemos estar envolvidos, dentro do que poderíamos chamar de “zona de efetividade”, isto é, dentro daquilo que está ao nosso alcance, com o processo da coisa. Porém, se a sociedade se reduzisse a isto, careceria de unidade, fragmentando-se em pequenos mundos dispersos, unidos apenas por um acidente geográfico. É por isto que nós costumamos escolher, dentre nós, sujeitos específicos para representarem as ideias mais ou menos comuns que mantemos e para lutarem para que tenhamos assegurados aqueles direitos fundamentais, sem os quais a vida não se desenvolve em sua plenitude.

Esses representantes são, justamente, o que convencionalmente chamamos de políticos. É preciso não perder de vista que eles também vieram da sociedade; não são semideuses ou aliens a visitar a terra no intuito de nos ajudar. Não; são também humanos e foram escolhidos para representarem a sociedade, pelo que o seu serviço só tem essa razão de ser. Não podemos perder de vista este caráter social que nos perpassa a todos. No entanto, o modo como as coisas vêm acontecendo atualmente carece de qualquer sentido.

Simplesmente não temos tido representantes, mas somente aproveitadores. Ao invés daquela existência em função de um outro, que deveria definir a política, o que vemos é a promoção do egoísmo mais descarado, do autofavorecimento em detrimento dos demais, da usurpação de um cargo importante e necessário para o bem estar das pessoas, utilizado agora para a satisfação dos desejos mais baixos. Obviamente, isto não se pode ser feito senão por quem foi profundamente corrompido e se divorciou daqueles valores morais mais básicos. Pessoas dessa estirpe não somente não nos deveriam representar, mas deveriam ser detidas e afastadas para que a sua nefasta influência não viesse a corromper os demais.

Porém, a coisa chegou tão longe que a corrupção passou a atingir, agora, um grande contingente da nossa sociedade; tornou-se quase uma segunda natureza. Mesmo muitos de nós, supostamente mais esclarecidos, aceitamos facilmente transgredir certos princípios quando ninguém nos olha. Muito da moral que resta na sociedade tornou-se, antes, um produto de mera ostentação. A ladroagem e o aproveitar de situações hoje são vistos quase como sinônimo de esperteza, e rendem elogios sem conta aos que os adotam. Do centro de uma sociedade assim, como esperar que surjam sujeitos moralmente limpos que aceitem assumir suas responsabilidades sem intenções dúbias e que cumpram seus deveres com espírito de fidelidade?

De uma sociedade onde as pessoas sequer conseguem ser fiéis aos próprios cônjuges ou aos próprios amigos, como exigir gente que seja fiel à ideia abstrata do bem comum? De uma sociedade hedonista e covarde, que cultua a aparência e vive ébria de baixos prazeres, como esperar que surja alguém com a coragem de enfrentar os poderosos, pondo em risco o próprio conforto e, talvez, até a própria vida? A nossa situação é calamitosa, e penso que essas eleições apenas nos fazem tomar a difícil decisão de escolher um menos ruim, se é que o há.

Mesmo assim, é preciso cultivar a integridade, e isto ainda é passado, às vezes, de pai pra filho e, quem sabe, ainda possa ser ensinado nas escolas. A imoralização da sociedade apenas serve para perpetuar o estado de coisas em que vivemos. É a bondade legitimamente cultivada que pode oferecer alguma esperança. E o bem é por si mesmo difusivo. Isto significa que quando ele existe de fato, se comunica aos outros e desperta nestes outros o esquecido encanto pelo correto e pelo limpo.

Poder-se-ia dizer que, partindo desta perspectiva, a nossa sociedade padece por falta de exemplos, donde se vê que todos nós somos, dentro de novo da nossa “zona de efetividade”, um tanto responsáveis por isso tudo. Se, portanto, a única esperança de mudança somente pode se dar pelo exercício pessoal da integridade, a nefanda prática da compra de votos seria a atitude da renúncia a esta única esperança; seria como dar a luta por perdida; seria o terrível e imperdoável pecado do desespero.

Dir-se-á que as famílias mais pobres não podem abrir mão de uma oportunidade dessas oferecida por um político, ainda que em troca de seu voto, sobretudo quando estão a passar necessidades e veem na tal oferta do salafrário uma satisfação, momentânea mas real, de alguma carência. Porém, embora eu não seja velho, ainda me lembro da época em que a pobreza era quase sinônimo de honestidade e de quando, para um pai de família, valia mais ser honrado do que ter qualquer outra coisa.

Infelizmente, parece que muito disso se perdeu. Tive um vislumbre dessas épocas quase mágicas em que a bondade ainda era o comum quando, anos atrás, perguntando por algum motivo o nome de um senhorzinho de idade, ele me respondeu: “sou fulano, seu criado.” Talvez o senhorzinho estivesse vindo de algum conto de fadas e tenha caído, por engano, no nosso mundo. Ou quem sabe aquele senhor tenha sido o último recôndito de saúde da terra? Não o creio... não o quero crer...

Vender o próprio voto é desconhecer que vivemos em sociedade e que o bem deve ser promovido de modo comum. Promover o meu próprio bem em detrimento dos demais é ofender a dignidade de todo aquele que não sou eu; aliás, é ferir também a minha própria; é um modo de prostituição da própria alma; é um crime em larga escala, não obstante o seu caráter pouco manifesto. Lembro-me agora da frase de um Nazareno que, há quase dois mil anos atrás, parecia se referir aos nossos dias: “que adianta ganhar o mundo inteiro se vier a perder a própria alma?” e que poderíamos, talvez, adaptar um pouco: “que adianta, seu Zé, ficar com dentadura bonitinha se o senhor tiver de se corromper?”; “que adianta, Dona Maria, ganhar o cimento pra ajeitar a cozinha, se a senhora tiver trair os seus irmãos preocupada somente com os seus próprios interesses?”

Enfim, penso ser urgente a redescoberta da integridade e o cultivo da bondade; bondade que, como dizia G.K. Chesterton, é o que há de mais importante no mundo. Mas não se trata uma bondade meramente estética – mero disfarce da soberba -, mas de uma bondade real, que começa nas entranhas, na alma, e se expressa nos atos. Eu, portanto, não vendo o meu voto, tanto por esta prática ser, objetivamente, uma safadeza com todo mundo, quanto porque quero acreditar – não sei se irracionalmente – que os candidatos que serão eleitos possam trabalhar com um mínimo de honestidade e venham a assegurar, pelo menos, a manutenção daqueles direitos fundamentais. Você, também, seja homem! Seja mulher! Não venda o seu voto!