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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Gabriela: Nascida em Jorge Amado / Morta em Juliana Paes Por Tarcisio José Alves de Morais


Eu acho que parece muita petulância minha e talvez muita gente passe a me desconsiderar depois que eu disser isso, mas eu não gosto de Jorge Amado. Reconheço sua importância e coisa e tal, mas não sou um hipócrita para aplaudi-lo, só porque todo mundo o aplaude, já que isso não condiz com minha opinião. Até hoje, a única obra que gostei dele foi Capitães da Areia. Infelizmente, eu o acho cansativo demais como estruturador de narração e muita coisa social que os amigos meus costumam exaltar em suas obras, funcionam bem mais quando são postas no círculo televisivo pois viram debates interessantíssimos.

Gabriela, a telenovela de 1975, era um adendo. Além da parte social da obra e da magnificência do elenco, a primeira produção global foi, apesar de esticada, muito coerente e inovadora para a época. Paulo Gracindo, como Coronel Ramiro Bastos dava um show impressionante de atuação e presença de cena. Até mesmo a personagem central, vivida por Sônia Braga, ficou tão bem personificada e tão bem construída que tínhamos a ideia de que a atriz paranaense já havia entrado no mundo das telonas para viver a musa baiana de Jorge Amado.

Mesmo o filme lançado em 1983, quando Sonia Braga já estava um pouquinho mais velha para papel convenceu de maneira satisfatória. Em 2012, quando ouvi rumores de um "remake" desse grande sucesso, eu me empolguei. Seria uma oportunidade perfeita para rever, sob uma nova ótica, a junção de tema social com narrativa instigante. Tudo mudou de figura quando descobri que Juliana Paes iria interpretar a personagem-título e passei a acreditar que uma nova porcaria, no melhor estilo Mulher Invisível de se fazer coisa ruim, estaria por vir. Depois de acompanhar a novela das onze (!!), eu posso reafirmar: era uma vez um mito chamado Gabriela.

Juliana Paes é uma péssima atriz para papeis que exijam um pouco mais que um rostinho aparentemente bonito. Digo aparentemente porque sua beleza restringe-se ao modo como as câmeras a enquadram e ao nível de maquiagem que é usado nela. Nem mesmo os bronzeamentos cor de canela funcionam ou convencem de sua baianice forjada. Nessa novela, sua presença de cena é tão estéril e tão sem emoção que apaga a própria musa da obra escrita.

Outra gama de atores, alguns digam-se muito bons, como José Wilker, desperdiçam ou desperdiçaram, o precioso tempo aparecendo numa produção tão frígida. Outra coisa que me deixou embasbacado foi: Quem disse a Ivete Sangalo que ela tinha talento para atuar?? Nossa, sério, acho que sua atuação, em nível de desgraça, só ganha da Carla Perez na inesquecível vergonha Cinderela Baiana. Como dona de cabaré ela permanece uma boa cantora de axé moderno, isso porque não tem muita diferença da postura dela na novela para a postura dela nos seus shows.

Há duas razões que justificam a sem-jeitice dessa superprodução moderna: a primeira é o motivo de ela ter sido feita. A novela de 75, o filme de 83 e até mesmo a produção da extinta TV Tupi de 1961, tinham como objetivo homenagear o autor e a obra. essa nova versão diz querer fazer o mesmo, mas nem de longe se propõe a isso. Está claro e mais que evidente, que desde que a Rede Record começou a arrebatar audiências consideráveis, a Globo sentiu a necessidade de competir num horário, que até agora, passava despercebido pela emissora. essa competição jogou de lado o desvelo e a inovação. A novela das 11 mais parece um bando de rostos novos em roupagens antigas e desnecessárias.

A segunda razão, que é ponto para a Rede Globo, é o fato de que o público que assisti a essa nova versão é, em sua maioria, adorador de coisas piores que ela. Alguns alunos meus assitem e vivem o tempo todo espalhando aos quatro ventos: "Ivete Sangalo dá um show de interpretação" ou "Juliana Paes tá perfeita como Gabriela". francamente, que venham logo os capítulos finais.

Serra da Barriga