Além das competências científico-pedagógicas, é exigido ao professor que
tenha preocupações éticas no exercício da sua profissão
Olimpio Tavares*
Na sociedade em que vivemos existe um conjunto de pessoas
cuja ocupação é fazer os alunos aprender o que há de melhor na cultura
humana. Essas pessoas são vulgarmente conhecidas como professores. A
intenção desta reflexão é traçar, de forma crítica, o perfil de um bom
professor.
A condição necessária para se ser um bom professor é estar
munido de uma competência científica e uma competência pedagógica.
Contudo, há que salientar, que apesar de as duas componentes serem
essenciais para o exercício da profissão docente, não são, na prática,
condições suficientes para qualificar um bom professor.
Um bom professor é aquele que põem em prática um conjunto
de estratégias pedagógicas que leva o aluno a melhorar
significativamente o seu estado de aprendizagem. Um bom professor não é
aquele que está convencido que sabe tudo e funciona como uma espécie de
enciclopédia para o aluno. Um bom professor é aquele que procura saber
quais são as reais dificuldades dos alunos para depois escolher a
estratégia mais adequada para ajudá-lo a sair do impasse. Um bom
professor não aquele que está distante do aluno e nem sequer está
preocupado com as dificuldades que este apresenta.
Um bom professor é aquele que domina os conteúdos e ao
mesmo tempo encontra estratégia adequada para levar o aluno a
compreender e aprender. Um bom professor não é aquele que limita a dar
aulas ou a transmitir um conjunto de conhecimentos de uma forma
acrítica, e, por outro lado, “obriga” os seus alunos a memorizarem os
apontamentos para posteriormente reproduzir nos testes. Um bom professor
é aquele que investiga quer a experiência dos outros quer a sua própria
experiência pedagógica, a fim de aperfeiçoar a sua prática, e
consequentemente, melhorar a aprendizagem dos alunos. Um bom professor
não é aquele que se estagnou no tempo, ou seja, considera que a sua
formação inicial é suficiente e definitiva, daí não vê razões para
investigar ou questionar a sua própria prática.
Um bom professor é aquele que está aberto ao feedback dos
alunos em relação à sua prática pedagógica. Um bom professor não aquele
que se considera autossuficiente quer do ponto de vista científico quer
do ponto de vista pedagógico. Um bom professor é aquele que partilha as
suas dificuldades pedagógicas com os seus pares. Um bom professor não é
aquele que se fecha em si mesmo, impossibilitando assim qualquer
partilha do ponto de vista pedagógico. Enfim, um bom professor é aquele
que está sempre disponível para atualizar os seus conhecimentos, e
procura colocar os seus alunos nas fronteiras do conhecimento.
Para além das competências científico-pedagógicas que
foram ditos acima, é exigido ao professor que tenha preocupações éticas
no exercício da sua profissão. Como em qualquer profissão, o professor
deve ser exemplar no desempenho das suas funções, quer no ambiente
escolar quer na sociedade em geral. Além disso, o bom relacionamento com
os seus pares e com os seus alunos contribui de sobremaneira para o seu
equilíbrio psicológico e profissional.
É preciso acrescentar, que nos dias que correm a dimensão
ética do professor está claramente descurada em relação à dimensão
científico-pedagógica. Mas isso deve-se, sobretudo, à tendência
tecnocrata do ensino pós-moderno. O que interessa é fazer com que os
alunos aprendam as matérias, e isso é o essencial. O resto, como a
dimensão ética, é considerada acessória na medida em que não contribui
diretamente para competência do aluno. Essa visão neutra do ensino deve
ser combatida vivamente, a meu ver, uma vez que a escola não é apenas um
lugar para aprender “coisas úteis”; é também um lugar para o indivíduo
aprender a tratar os outros com justiça, equidade e amor.
Ser um bom professor não é uma tarefa fácil. Exige um
esforço intelectual e moral no sentido de aperfeiçoar-se cada vez mais.
Não se é bom professor pelo simples facto de os outos o afirmarem. É-se
bom professor pelo esforço e dedicação em relação a aquilo que deve ser
feito. E isso muitas vezes não é visto pelos outros.
*Licenciado em Filosofia, pela Universidade Católica
Portuguesa (Lisboa). Atualmente, leciona Filosofia na Escola Secundária
“Olegário Tavares”, na vila de Achada do Monte (interior de Santiago).
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