J.I.: Com certeza, natural do que dizem ser a “terra da liberdade”.
Marcelo: Como foi sua infância e adolescência, o que lhe marcou nessa época?
J.I.: Era mais tranqüilo, não tinha tanta violência, todo mundo brincava nas ruas sem preocupação dos pais, até ir à escola às vezes eu ia só. Hoje você não vê mais isso, além de que as brincadeiras mudaram , tem mais crianças na internet do que nas ruas, e olhe que essa minha “época” nem faz tanto tempo assim.
Marcelo: Você é filho adotivo?
J.I.: Sim.
Marcelo: Com quantos anos sua mãe Lourdinha Macena, falou com você e como você lida com esse fato?
J.I.: Eu tinha creio que de 7 para 8 anos. Lido bem com a situação, na verdade pra mim não existe diferença, o que vale é o sentimento, como diz o ditado: mãe é quem cria. Na verdade eu tenho duas mães né? Porque minha vó que passava mais tempo comigo, mas acho que quanto a saber que sou adotado eu prefiro ter crescido e me acostumado com essa idéia sem que significasse nada pra mim.
Marcelo: Você conhece seus pais biológicos, eles moram aqui na cidade?
J.I.: Não, até onde sei a pessoa que me deu a luz é de Maceió e não tinha condições de me criar. Bom eu não tenho vontade de conhecê-la e para mim é uma estranha que apareceria na minha vida, já que se não fosse o fato das pessoas falarem da minha adoção eu sequer lembraria disso, pois na minha família é como eu já tivesse nascido de minha mãe.
Marcelo: Qual a sua formação?
J.I.: Terminei o médio, tô almejando uma faculdade de arquitetura e urbanismo ou designer.
Marcelo: Você já sofreu preconceito por ser negro?
J.I.: Já, mas isso é uma questão bem resolvida, bem como outras em minha vida. Eu acho que quando você se aceita e acima de tudo se respeita, mesmo que hajam com preconceito para com você, dá para contornar a situação de cabeça erguida. Todos nós, sem hipocrisia, temos um pré-julgamento de algo ou alguém, o que devemos fazer é respeitar mesmo que não goste e entender que enquanto seres temos o mesmo sangue que é vermelho, e nem branco ou preto... a prova que por dentro somos iguais.
Marcelo: Como você vivência e analisa a questão negra aqui em União dos Palmares?
J.I.: União é uma terra de pessoas boas, porém de mente pequena ainda, existe a preconização com a cultura afro, não valorizamos nem por iniciativas individuais, e nem coletivas partindo da política ou de outros órgãos, é preciso acima de tudo não deixar a questão negra apenas no mês de novembro ou só no Quilombo dos Palmares, isso envolve muito mais, não acredito que haverá progresso em relação a isso nessa cidade, enquanto todos não se aceitarem como descendentes e ocuparem seu papel de disseminar essa cultura tão rica, não só pra o bem da educação cultural e de abrir a mente, mas também como forma de sustento, enfim.
Marcelo: Quem são os culpados por nossa cidade não entrar de vez na rota do turismo nacional?
J.I.: Não vamos colocar a culpa em apenas uma ou duas pessoas né? Podemos generalizar que as iniciativas vindas de qualquer lugar ao nosso município é pouca, podemos dizer que um dos motivos é a falta de credibilidade que as pessoas e o poder público depositam nesses investimentos em nossas raízes, todo mundo se preocupa em “maquiar” a cidade pro dia 20 e depois disso faz uma limpeza geral e guarda tudo pro próximo ano.
Marcelo: E mesmo que comece a chegar os turistas, a cidade tem infra-estrutura para tal?
J.I.: Não. Museus fechados, prédios históricos sendo vendidos, derrubados e remodelados. Com eles a riqueza cultural e a historia vão juntos, as pessoas não tem preparação, e o que ainda está aberto à visitação está ao relento o que não incentiva nem as pessoas da própria cidade a procurar seu passado.
Marcelo: Você chegou a ver a programação do mês da consciência negra em alguns blogs da cidade? O que achou?
J.I.: Não cheguei a ver, mas deve tá acumulado de atrações que nada nos acrescentam. Deveria ter oficinas de arte durante o ano todo e nesse período fariam exposições, apresentações, concursos... Deveria ter cursos de cultura afro e nesse período ter debates de ideias, etc. O problema é que tudo relacionado ao negro só fica nesse mês, não adianta ter milhares de palestras, debates e oficinas em apenas uma ou duas semanas e quando tudo isso passar não representar nada.
Marcelo: Para quê você da nota 10 aqui em União?
J.I.: Está difícil, eu gostaria de premiar com essa nota as coisas boas, mas não dá então nota 10 ao descaso, a alienação, a violência... os boletins escolares deles só tem notas altas.
Marcelo: Para quê você da nota 0 aqui em União?
J.I.: A educação, a valorização da cultura, as políticas publicas, a política. E só tendem a piorar, a ficar abaixo de zero.
Marcelo: Como você analisa a política em nosso município?
J.I.: Aqui não se faz política, mas sim acordos, compras, acertos, cobrança de favores, entre outros.
Marcelo: Quais são os sites/blogs de União que você mais gosta?
J.I.: A Terra da Liberdade
Marcelo: E os de fora?
J.I.: Padrões psicóticos e um sobre a vida de Clarice Lispector
Marcelo: Aproveite e deixe o endereço do seu blog.
J.I.: Nem to atualizando... E é mais um diário que um blog, melhor acessarem o Vibe!
Marcelo: Você é um dos sócios do Site Vibe Festa? Se não qual é sua função no site?
J.I.: As decisões são coletivas, mas pra não ter bagunça nas últimas reuniões eu fiquei como diretor de fotografia, Felipe como designer e Fernando com o financeiro... Eu ainda faço o John com gelo e as vezes cubro algum evento, todos nós, mesmo com outras funções, também tiramos fotos.
Marcelo: Quais os pontos positivos e negativos da 1º Vibe Total?
J.I.: Foi uma experiência nova, aprendemos a esquematizar uma festa, lidar com patrocinadores e conseguir inúmeras coisas , a positividade está na responsabilidade que tivemos e que cumprimos e também com a comunicação e expansão do nosso site para os demais da cidade. Os pontos negativos, eu argumentaria que foram alguns poucos deslizes na segurança, mas que logo foi contornada e que sequer foi perceptível ou tirou o brilho de nossa comemoração.
Marcelo: Quais as festas tradicionais aqui na cidade que você mais gosta?
J.I.: Festa da padroeira, São João, 20 de novembro e o Natal em chimbras pra mim já é de praxe aqui, e logo não posso perder.
Marcelo: João muito obrigado pela entrevista fique a vontade para fala o que você quiser.
J.I.: Eu que agradeço pela oportunidade, confiança, e por ter me escolhido é claro. Creio que as pessoas possam depois dessa entrevista me conhecer melhor e algumas até mudar seu ponto de vista em relação ao que pensam de mim. Eu já havia comentado com você que pensei em perguntas mais complicadas e que até fiquei receoso antes de ver as perguntas, mas foi tudo tranqüilo, espero que tenha acrescentado ao seu blog e desejo muito sucesso, você merece.
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